Sobre pedra não se edifica nada. Sobre areia, tudo. É nosso dever edificar como se areia fosse pedra.
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O Estado de Transe
O estado de transe é um estado quase normal no ser humano; basta muito pouco para provocá-lo. Uma coisa de nada, um pouco de álcool no sangue, um pouco de droga, excesso de oxigénio, a cólera, o cansaço. Mas este estado é interessante na medida em que é orientável. Trata-se de um balanço, mas esse lança mão das regiões desconhecidas do nosso espírito. De facto, não há fundamentalmente nenhuma diferença, entre um homem intoxicado pelo álcool e um santo que se entregue ao êxtase. E no entanto há apesar de tudo uma diferença: a da interpretação. O momento de loucura é preparado por uma etapa onde o assunto é mergulhado numa espécie de vacilação da consciência, de excitação cerebral violenta. É esse momento que fabrica verdadeiramente o êxtase e lhe dá o sentido. Enquanto o êxtase em si mesmo é cego. É o vazio total, sem ascensão nem queda. A calma plana. Tanto quanto se possa dizer que o santo nunca conhecerá Deus. Aproxima-O, depois regressa. E estas duas etapas são as que são. Entre as duas, é o nada. O vazio, a amnésia completa. No momento X do êxtase, o santo e o intoxicado são semelhantes, estão no mesmo local.
Deus concede-nos o dom de viver. Compete-nos a nós viver bem.
Domus Aurea
De bom amor e de bom fogo claro
Uma casa feliz se acaricia…
Basta-lhe luz e basta-lhe harmonia
Para ela não ficar ao desamparo.O Sentimento, quando é nobre e raro,
Veste tudo de cândida poesia…
Um bem celestial dele irradia,
Um doce bem, que não é parco e avaro.Um doce bem que se derrama em tudo,
Um segredo imortal, risonho e mudo,
Que nos leva debaixo da sua asa.E os nossos olhos ficam rasos d’água
Quando, rebentos de uma oculta mágoa,
São nossos filhos todo o céu da casa.
Eu cheguei a seguinte conclusão: não adianta concertar o resto, concertar agente ajuda pra caramba!
Soneto XV
Triste do que em tristeza passa o dia,
Feliz porém, se a passa, e enfim lhe passa,
Mas quem ventura teve tão escassa
Que em nada ache prazer nem alegria.Nos ais, alívio tem quem n’alma os cria,
A quem em trevas vive, a luz dá graça,
Há quem do fogo e Sol se satisfaça,
E quem se satisfaça d’água fria.Restaura o ar, na calma, o fraco alento,
Conforta o cheiro de ua flor suave,
Convida a sombra, a erva a grato assento,Suspende da Ave o canto a pena grave;
Ai que não aliviam meu termento
Ais, luz, Sol, fogo, água, ar, flor, sombra, erva, Ave.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver.
De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.
Todo excesso é um vício, principalmente na convivência.
Em uma boa biblioteca, você sente, de alguma forma misteriosa, que você está absorvendo, através da pele, a sabedoria contida em todos aqueles livros, mesmo sem abri-los.
Quanto mais um homem se aproxima de suas metas, tanto mais crescem as dificuldades.
O amor ajuda os atrevidos.
Qual é a única aptidão comum a todos os homens? É a aptidão de mudar.
Eu compus metamorfose ambulante aos 12 anos de idade ou menos.
Quando a casa do vizinho está pegando fogo, a minha casa está em perigo.
A História enferma com demasiada frequência do impulso de transformar em números e tendências as rugosidades, as assimetrias e os paladares.
Só quem confia se dá, dando tudo, porque a sua esperança é maior do que os seus medos. Só quem acredita constrói o amanhã como um tempo melhor. Fazendo do seu presente um presente na vida dos outros.
Às vezes os sentimentos melancólicos trazem consigo algum prazer também, um prazer suave, íntimo, consolador.
Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
A afectação da virtude custa mais que o seu exercício.