Guardar-se da arrogância. Isso constitui uma questão de princípio para os dirigentes, mas é também uma importante condição para manter a unidade. Nem mesmo aqueles que não cometeram erros graves e conseguiram grandes êxitos no trabalho devem ser arrogantes.
Recentes
As guerras da religião constituíram até então o maior progresso das massas: afinal, demonstram que a massa passou a considerar as noções com respeito.
Quem constrói a casa não é quem a ergueu mas quem nela mora.
Não existe pureza quando se fala da espécie humana. Não há economia actual que não se alicerce em trocas. Pois não há cultura humana que não se fundamente em profundas trocas de alma.
Longas viagens, maiores mentiras.
A vida, por fim, não passa de um hábito que se tem de perder, depois de todos os outros.
Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.
Para muitos a religião ainda é um culto do falo, desprimitivado já pela perversidade da consciência.
A acção é filha do pensamento.
Quando a lua minguar, não deves regar.
Por que o amor, aparentemente tão doce, é tão prepotente e tão brutal quando posto à prova?
Quanto maior é a sua sabedoria mais os homens se afastam da felicidade.
O desejo e a felicidade não podem viver juntos.
Todo aquele que se volta para o próprio passado não merece encarar o futuro.
A Mais Cruel das Torturas
Seria difícil conceber castigo mais demoníaco, pudesse uma tal coisa ser posta em prática, do que abandonar uma pessoa à deriva na sociedade por forma a passar despercebida a todos os seus membros. Se ninguém se voltasse para nós ao ver-nos entrar em casa, se ninguém nos respondesse quando nós falássemos, ou se preocupasse com o que nós fizéssemos, mas se toda a gente que conhecêssemos nos «desligasse do mundo» e agisse como se fôssemos entidades inexistentes, não tardaríamos a ser tomados de uma espécie de desespero de raiva e impotência, de que a mais cruel das torturas corporais seria um alívio.
Cruzada Nova
Vamos saber das almas os segredos,
Os círculos patéticos da Vida,
Dar-lhes a luz do Amor compadecida
E defendê-las dos secretos medos.Vamos fazer dos áridos rochedos
Manar a água lustral e apetecida,
Pelos ansiosos corações bebida
No silêncio e na sombra d’arvoredos.Essas irmãs furtivas das estrelas,
Se não formos depressa defendê-las,
Morrerão sem encanto e sem carinho.Paladinos da límpida Cruzada!
Conquistemos, sem lança e sem espada,
As almas que encontrarmos no Caminho.
As palavras se desintegravam na minha boca como cogumelos mofados.
A adversidade põe à prova os espíritos.
Interessa que não haja elitismo nem classismo de qualquer espécie no ensino não estatal. Nesse sentido a actividade fiscalizadora do sector público terá de ser cuidadosa.
A Intimidade do Escritor
Há quase um ano sozinho, na antiga vida de solteirão. Tem sido duro, mas útil. De vez em quando faz-me bem estar só e desamparado. É nessas horas que sinto mais profundamente a significação de uma mulher ao lado do artista. A história literária exibe prodigamente o cenário feminino e mundano que aconchega os criadores e lhes embeleza a vida. Mas diz-nos pouco das companheiras quotidianas, domésticas e anónimas, a verem nascer a obra, a aquecê-la com chávenas de chá, e a renunciarem à alegria de a conhecer na emoção virginal de um leitor apanhado de surpresa. E nada de mais significativo e decisivo do que essa ajuda e do que essa renúncia. As Récamiers são o estímulo de fora, higiénico e lisonjeiro; enquanto que as outras, íntimas e apagadas, empurram o carro trôpego da criação debaixo de todos os ventos, e sem aplausos no fim. O seu lema é a aceitação calma e confiante dos desânimos, dos rascunhos, das mil tentativas falhadas. E quando a obra, finalmente acabada, empolga o público, já tem atrás de si um tal cansaço, uma tal soma de horas desesperadas, que só com um grande amor a podem ainda olhar.
Por esse amor não existir,