Passagens sobre Ação

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Interpretar o Progresso

Supõe-se que o progresso social consiste na maior e mais variada produção dos objectos necessários à satisfação das nossas necessidades, na crescente segurança pessoal e da propriedade e na amplitude concedida à liberdade de acção. Todavia, o progresso social, rigorosamente entendido, consiste nas transformações de estrutura do organismo social, causa donde derivam as consequências que se observam. A ideia comum é teleológica. Os fenómenos consideram-se apenas na sua relação com a felicidade humana; e pensa-se que só devem reputar-se progressivas aquelas transformações que, directa ou indirectamente, tendem a aumentar esta felicidade, fazendo, por conseguinte, depender o seu carácter, na relação a que nos circunscrevemos, da referida tendência. Não obstante, para bem se compreender o progresso, devemos investigar a natureza de tais transformações, com absoluta independência da nossa individualidade.

Quando gostamos de alguém é difícil vê-lo envolvido numa conduta destrutiva. Ainda assim, devemos reconhecer que toda a gente tem controlo e responsabilidade sobre a sua própria vida. O máximo que podemos fazer é pedir para que se tornem verdadeiramente conscientes das suas ações e despertem para a responsabilidade de agir com dignidade e amor, tanto em relação a si próprio como para com os outros.

O Tempo e a Vaidade

Olhamos para o tempo passado com saudade, para o presente com desprezo, e para o futuro com esperança: do passado nunca se diz mal; do presente continuamente nos queixamos, e sempre apetecemos que o futuro chegue: o passado parece-nos que não foi mais do que um instante; o presente apenas (mal) o sentimos; e julgamos que o futuro está ainda mui distante. Para dizermos bem do tempo, é necessário que ele tenha passado, e para que o desejemos é preciso considerá-lo longe. A vaidade faz-nos olhar para o tempo, que passou, com indiferença, porque já nele fica sem acção; faz-nos ver o presente com desprezo, porque nunca vive satisfeita; e faz-nos contemplar o futuro com esperança, porque sempre se funda no que há-de vir; e assim só estimamos o que já não temos; fazemos pouco caso do que possuímos; e cuidamos no que não sabemos se teremos.

O Carácter do Destino

Não só as coisas acontecem com as pessoas, (…) cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter.

Se quisermos realmente conduzir as nossas vidas, temos que tomar o controlo das nossas acções consistentes. Não é aquilo que fazemos de vez em quando que irá moldar as nossas vidas, mas aquilo que fazemos consistentemente.

(…) E as paixões que Pascal condenava, em primeiro lugar o amor próprio, não são no homem simples aberrações porque o movem a agir, visto que o homem é feito para a ação. (…)

O mais perigoso ponto de vista: o que eu faço neste momento é tão importante «para tudo o que virá» como o maior acontecimento do passado; nesta formidável perspectiva do efeito, todas as acções são igualmente grandes e pequenas.

As Oscilações da Personalidade

Pretender que a nossa personalidade seja móvel e susceptível de grandes mudanças é, por vezes, noção um pouco contrária às idéias tradicionais atinentes à estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutível. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictícia.
O nosso “eu” é um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada célula concorre para a unidade de um exército. A homogeneidade dos milhares de indivíduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inútil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, é porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivíduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu império, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensível sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,

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A Vaidade de Obrar Bem

De todas as paixões, a que mais se esconde, é a vaidade; e se esconde de tal sorte, que a si mesma se oculta, e ignora: ainda as acções mais pias nascem muitas vezes de uma vaidade mística, que quem a tem, não a conhece, nem distingue: a satisfação própria, que a alma recebe, é como um espelho em que nos vemos superiores aos mais homens pelo bem que obramos, e nisso consiste a vaidade de obrar bem.

Conquistar a Honra

Conquistar a honra não é senão revelar as virtudes e os valores do homem, sem desvantagens; porque alguns procuram e solicitam a honra e a reputação, mas nas suas acções deixam muito a desejar; tais homens são daqueles a respeito dos quais se fala muito, mas que no fundo ninguém admira; outros, pelo contrário, escurecem as suas virtudes na aparência, para que sejam sobrevalorizadas na opinião. Aquele que leva a cabo uma coisa que nunca tinha sido tentada antes, ou que tinha sido abandonada depois da tentativa, ou realizada em melhores circunstâncias, ganhará com isso maior honra do que se tiver efectuado uma coisa de maior dificuldade, ou de maior mérito, em que tivesse já havido um precursor. Se um homem regula as suas acções de maneira a satisfazer em algumas todos os partidos ou agrupamentos, maior conceito de elogios haverá de obter.
Mau gerente da sua honra será aquele que empreenda uma acção cujo insucesso lhe possa causar desgraça maior do que a glória que lhe adviria do sucesso. A honra que é recebida e que vai quebrar-se sobre outrem é a que tem mais brilhantes reflexões; como os diamantes talhados com várias faces. Por isso deve o homem esforçar-se por ultrapassar os seus émulos em questão de honra,

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As Impressões da Memória

Da mesma forma que os ramos de uma árvore que permaneceram por algum tempo curvados de uma determinada forma conservam uma certa facilidade para serem curvados novamente da mesma maneira, as fibras do cérebro, uma vez tendo recebido certas impressões por intermédio dos espíritos animais e pela acção dos objectos, conservam por bastante tempo alguma facilidade para receber essas mesmas disposições. Ora, a memória consiste apenas nessa facilidade, já que se pensa nas mesmas coisas quando o cérebro recebe as mesmas impressões.

…A recompensa de uma boa ação é geralmente ter de fazer uma outra boa ação, mais difícil e melhor.

As acções são a primeira tragédia da vida, as palavras são a segunda. Sem dúvida, são as palavras a pior tragédia. As palavras são impiedosas.

Homem superior é aquele que começa por pôr em prática as suas palavras e em seguida fala de acordo com as suas acções.