O Amor Exige a Verdade
A maioria das pessoas hoje em dia não considera o amor como relacionado de alguma forma com a verdade. O amor é visto como uma experiência associada com o mundo das emoções fugazes, e não com a verdade. Mas é esta uma descrição adequada do amor? O amor não pode ser reduzido a uma emoção efémera. É verdade que estimula a nossa afectividade, mas, a fim de o abrir para o amado e, assim, abrir o caminho que conduz longe do egocentrismo e em direção à outra pessoa, a fim de construir um relacionamento duradouro, o amor visa a união com o amado. Aqui começamos a ver como o amor exige a verdade. Só na medida em que o amor é fundamentado na verdade pode ser suportado ao longo do tempo, pode transcender o momento passageiro e ser suficientemente sólido para sustentar uma viagem compartilhada. Se o amor não está vinculado à verdade, é uma presa emoções inconstantes e não pode resistir ao teste do tempo. Amor verdadeiro, por outro lado, unifica todos os elementos da nossa pessoa e torna-se uma nova luz que aponta o caminho para uma vida grande e realizada. Sem a verdade, o amor é incapaz de estabelecer um vínculo firme;
Passagens sobre Amados
506 resultadosO Homem não é um Ser Egoísta
Todos os homens estão prontos a morrer pelo que amam. Não diferem a não ser pelo grau da coisa amada e da concentração ou dispersão do amor. Ninguém se desama a si mesmo. O homem deseja ser egoísta e não consegue. É a característica mais tocante da sua desgraça e a fonte da sua grandeza.
O homem dedica-se sempre a uma ordem. No entanto, salvo iluminação sobrenatural, esta ordem tem como núcleo o próprio ou um ser particular (que pode ser uma abstracção) para o qual se transferiu (Napoleão para os soldados, a Ciência, o Partido, etc.). Ordem perspectiva.
O Amor Sugado
O amor, enquanto afeição humana, é o amor que deseja o bem, possui uma disposição amigável, promove a felicidade dos demais e alegra-se com ela. Mas é patente que aqueles que possuem uma inclinação meramente sexual não amam a pessoa por nenhum dos motivos ligados à verdadeira afeição e não se preocupam com a sua felicidade, mas podem até mesmo levá-la à maior infelicidade simplesmente visando satisfazer a sua própria inclinação e apetite. O amor sexual faz da pessoa amada um objecto do apetite; tão logo foi possuída e o apetite saciado, ela é descartada «tal como um limão sugado».
Muitos filhos só entenderão que deveriam ter conhecido e amado mais seus pais no dia em que ele fecharem os olhos para sempre.
Não te Arrependas
Não te arrependas, Amada, porque a mim tão depressa
te deste!
Podes crer, nem por isso de ti penso coisas insolentes
e vis!
Vária é a acção das setas do Amor: algumas arranham,
E do rastejante veneno languesce pra anos o peito.
Mas, com penas potentes e gume afiado de fresco,
Outras penetram até ao tutano e rápido inflamam
o sangue.
Nos tempos heróicos, quando Deuses e Deusas amavam,
Ao olhar seguia o desejo, ao desejo o prazer.
Crês tu que a Deusa do Amor pensou muito tempo
Quando no bosque de Ida um dia Anquises lhe
agradou?
Se Luna tardasse a beijar o belo dormente,
Auiora, invejosa, em breve o teria acordado.
Hero descobriu Leandro no festim ruidoso, e ligeiro,
Ardente saltou o amante pra a corrente nocturna.
Rhea Sílvia, a virgem princesa, vai descuidosa
Buscar água ao Tibre, e o Deus dela se apossa.
Assim Marte gerou os seus filhos! — Uma loba
amamenta
Os Gémeos, e Roma nomeia-se princesa do mundo.Tradução de Paulo Quintela
Num Leque
Na gaze loura d’este leque adeja
Não sei que aroma místico e encantado…
Doce morena! Abençoado seja
O doce aroma de teu leque amado!Quando o entreabres, a sorrir, na Igreja,
O templo inteiro fica embalsamado…
Até minh’alma carinhosa o beija,
Como a toalha de um altar sagrado.E enquanto o aroma inebriante voa,
Unido aos hinos que, no coro, entoa
A voz de um órgão soluçando dores,Só me parece que o choroso canto
Sobe da gaze de teu leque santo,
Cheio de luz e de perfume e flores!
Os Vários Tipos de Amor
Parece-me que podemos, com maior razão, distinguir o amor em função da estima que temos pelo que amamos, em comparação com nós mesmos. Pois quando estimamos o objecto do nosso amor menos que a nós mesmos, temos por ele apenas uma simples afeição; quando o estimamos tanto quanto a nós mesmos, a isso se chama amizade; e quando o estimamos mais, a paixão que temos pode ser denominada como devoção. Assim, podemos te afeição por uma flor, por um pássaro, por um cavalo; porém, a menos que o nosso espírito seja muito desajustado, apenas por seres humanos podemos ter amizade. E de tal maneira eles são objecto dessa paixão que não há homem tão imperfeito que não possamos ter por ele uma amizade muito perfeita, quando pensamos que somos amados por ele e quando temos a alma verdadeiramente nobre e generosa.
Quanto à devoção, o seu principal objecto é sem dúvida a soberana divindade, da qual não poderíamos deixar de ser devotos quando a conhecemos como se deve conhecer. Mas também podemos ter devoção pelo nosso príncipe, pelo nosso país, pela nossa cidade, e mesmo por um homem particular quando o estimamos muito mais que a nós mesmos. Ora,
O Homem de Carácter
Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. Os homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opiniões, nos acontecimentos e nas pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção é o pólo sul. O carácter pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.
Não podem vislumbrar um princípio, a não ser que este se abrigue noutra pessoa. Não desejam ser amáveis mas amados. Os de carácter gostam de ouvir falar dos seus defeitos; aos outros aborrecem as faltas;
O Constante Diálogo
Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominadoDiálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as ideias
o sonho
o passado
o mais que futuroEscolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio.
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.
O Acto de Criar
Todos queremos ser amados, mas o artista quer sê-lo de uma maneira tão total, tão desalmada, que é impossível. Por isso cria. Mas o acto de criar tem muita lama: não é limpo, é mesmo um pouco sórdido, como nascer. O que oferecemos separa-se de nós. Como um segredo violado fica parecido com algo inefável ao ser tocado por uma impura mão.
O Significado dos Sonhos
Os meu sonhos eram de muitas espécies mas representavam manifestações de um único estado de alma. Ora sonhava ser um Cristo, a sacrificar-me para redimir a humanidade, ora um Lutero, a quebrar com todas as convenções estabelecidas, ora um Nero, mergulhado em sangue e na luxúria da carne. Ora me via numa alucinação o amado das multidões, aplaudido, desfilando ao longo (…), ora o amado das mulheres, atraindo-as arrebatadoramente para fora das suas casas, dos seus lares, ora o desprezado por todos embora o eleito do bem, por todos a sacrificar-me. Tudo o que lia, tudo o que ouvia, tudo o que via — cada ideia vinda de fora, cada (…), cada acontecimento era o ponto de partida de um sonho. Vinha de um circo e ficava em casa ousando imaginar-me um palhaço, com luzes em arco à minha volta. Via soldados passarem na minha mente a falarem com uma visão de mim próprio, tratando-me por capitão, chefiando, ordenando, vitorioso. Quando lia algo acerca de aventureiros imediatamente me convertia neles, por completo. Quando lia algo acerca de criminosos, morria por cometer crimes até me apavorar com o meu desarranjo mental. Conforme as coisas que via, ou ouvia, ou lia, vivia em todas as classes sociais,
A estrada do monte
Não digas nada a ninguém
que eu ando no mundo triste
a minha amada, que eu mais gostava,
dançou, deixou-me da mão;
Eu a dizer-lhe que queria
ela a dizer-me que não
e a passarada
não se calava
cantando esta cançãoSim, foi na estrada do monte
perdi o teu grande amor
Sim ali ao pé da fonte
perdi o teu grande amorAi que tristeza que eu sinto
fiquei no mundo tão só
e aquela fonte, ficou marcada
com tanto que se chorou
Se alguém aqui nunca teve
uma razão para chorar
siga essa estrada
não diga nada
que eu fico aqui a chorarSim, foi na estrada do monte
perdi o teu grande amor
Sim ali ao pé da fonte
perdi o teu grande amor
É tão agradável ser amado que até nos contentamos com a aparência.
Lassidão
Ah, por favor, doçura, doçura, doçura!
Acalma esses arroubos febris, minha bela.
Mesmo em grandes folguedos, a amante só deve
Mostrar o abandono calmo da irmã pura.Sê lânguida, adormece-me com os teus afagos,
Iguais aos teus suspiros e ao olhar que embala.
O abraço do ciúme, o espasmo impaciente
Não valem um só beijo, mesmo quando mente!Mas dizes-me, criança, em teu coração de ouro
A paixão mais selvagem toca o seu clarim!…
Deixa-a trombetear à vontade, a impostora!Chega essa testa à minha, a mão também, assim,
E faz-me juramentos pra amanhã quebrares,
Chorando até ser dia, impetuosa amada!Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Obrigada!
A Nininha Andrade
… E tu rezas por mim! Como agradeço
Essa esmola gentil de teu carinho…
Como as torturas de minh’alma esqueço
Nessa tua oração, floco de arminho!Eu te bendigo, ó santa que estremeço,
Alma tão pura como a flor do linho.
É tua prece à mágoa que padeço
Asa de pomba defendendo um ninho!Reza, criança! Junta as mãos nevadas
E cerra as níveas pálpebras amadas
Sobre os teus olhos como um lindo véu…Depois, nas asas de uma prece ardente,
Deixa cantar minh’alma docemente,
Deixa subir meu coração ao céu!
Amar e não ser amado é o maior tormento; ser amado e não amar é a maior injustiça.
Chopin
Não se acende hoje a luz…Todo o luar
Fique lá fora.Bem Aparecidas
As estrelas miudinhas, dando no ar
As voltas dum cordão de margaridas!Entram falenas meio entontecidas…
Lusco-fusco…um morcego a palpitar
Passa…torna a passar…torna a passar…
As coisas têm o ar de adormecidas…Mansinho…Roça os dedos plo teclado,
No vago arfar que tudo alteia e doira,
Alma, Sacrário de Almas, meu Amado!E, enquanto o piano a doce queixa exala,
Divina e triste, a grande sombra loira
Vem para mim da escuridão da sala…
Conhecimento do Amor
Amor, como o compreendo agora, é mais
renúncia que desejo. Outrora hostil,
agressivo, hoje súplica, murmúrio
íntimo, cinzas em silêncio, amor,
à morte assemelhando-se, besouro
em agonia, dor da perda, o sonho
estraçalhado, renunciar, renu-
nciar sempre, e sem espera, ao corpo amado.A vida me consente essa amargura
e é preciso vivê-la sem demora,
abrir os olhos, aceitar a sombra,
meditar sem rancor a decepção —
instante em que a mulher se distancia
e a voz ao telefone ri tranquila
anunciando a partida: outros braços,
agora, amor, mesclado de impotência
e irrisão, lágrimas que não se mostram.Toda renúncia compõe jogo amargo
de desespero e morte. Renunciar,
ainda que de joelhos, deitado, o corpo
ansiando pelo teu amor se fira,
e o coração, tumulto, empalideça
e nada reste enfim que a vida mesma,
percorrida com calma e indiferença.Assim, amor, te compreendo agora:
— devoção malquerida a toda hora.
Pensamentos Nocturnos
Lastimo-vos, ó estrelas infelizes,
Que sois belas e brilhais tão radiosas,
Guiando de bom grado o marinheiro aflito,
Sem recompensa dos deuses ou dos homens:
Pois não amais, nunca conhecestes o amor!
Continuamente horas eternas levam
As vossas rondas pelo vasto céu.
Que viagem levastes já a cabo!,
Enquanto eu, entre os braços da amada,
De vós me esqueço e da meia-noite.Tradução de Paulo Quintela
Muitas vezes o amado desencadeia a força lentamente acumulada no coração daquele que ama. O amor é uma coisa solitária. É esta descoberta que faz sofrer.