A Vida não Passa de um Reflexo da Nossa Memória
Há uma coisa que me humilha: a memória é muitas vezes a qualidade da tolice; pertence em geral aos espíritos grosseiros, os quais torna mais pensantes pela bagagem com a qual os sobrecarrega. E, no entanto, sem a memória, o que seríamos? Esqueceríamos as nossas amizades, os nossos amores, os nossos prazeres, os nossos negócios; o génio não poderia reunir as suas ideias; o coração mais afectuoso perderia a sua ternura, caso não se recordasse mais dela; a nossa existência reduzir-se-ia aos momentos sucessivos de um presente que transcorre sem cessar; não haveria mais passado. Ó que miséria a nossa! A nossa vida é tão vã que não passa de um reflexo da nossa memória.
Passagens sobre Amizade
554 resultadosPorque «nenhum homem é uma ilha», também nós não somos homens de pedra que não se emocionam com as nobres paixões do amor, amizade e compaixão humana.
A verdadeira amizade é uma planta que cresce lentamente, e deve experimentar e resistir aos choques da adversidade antes de receber o nome de amizade.
Amizade Verdadeira
Sê tardio no fazer amigos e constante no conservar a amizade. Os íntimos que escolheres sejam, não os que te podem dar maior prazer, mas maior proveito; não pessoas que falem o que é agradável, mas o que é devido; não que lisonjeiem, mas que digam a verdade. Se te acostumares a abrir os ouvidos à lisonja e a nela te compazeres, jamais ouvirás a verdade.
O mesmo conhecimento a que devemos o consolo de que nenhum terror é eterno ou que dure muito tempo, também nos deixa compreender que durante o terror, de duração limitada, a verdadeira segurança nos é proporcionada pela amizade.
Do mesmo modo que o papel-moeda circula no lugar da prata, também no mundo, no lugar da estima verdadeira e da amizade autêntica, circulam as suas demonstrações exteriores e os seus gestos imitados do modo mais natural possível.
Conquista e Governação
Quando os estados que se conquistam têm a tradição de viver segundo as suas leis e em liberdade, para a sua conservação existem três opções: a primeira é a sua destruição; a segunda é ir para lá viver o príncipe conquistador; e a terceira consiste em deixá-los viver de acordo com as suas leis, mas exigindo-lhes um tributo e criando no seu seio uma oligarquia que vos garanta a sua fidelidade. Porque, sendo este novo poder uma criação daquele príncipe, sabem os seus mandatários que não podem sobreviver sem a sua amizade e apoio, tudo havendo de fazer para manter o novo regime. E mais facilmente se conserva uma cidade habituada a viver livre através do consenso dos seus cidadãos do que de qualquer outro modo.
(…) Na verdade, o único modo seguro de conservar uma cidade conquistada é a sua destruição. Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre e a não desfaça, pode preparar-se para ser por ela desfeito, porque sempre encontrarão grande receptividade no seio da rebelião a recordação da liberdade e das antigas instituições, as quais nem pela acção do tempo nem pela concessão de benesses se apagarão da sua memória. O que quer que se faça ou se disponha,
Agradar ao Vulgo é Mau Sinal
«Nunca pretendi agradar ao vulgo; daquilo que eu sei o vulgo não gosta, daquilo que o vulgo gosta não quero eu saber.» Quem é o autor? Pareces pensar que eu ignoro que pessoa é o meu discípulo!… É Epicuro; mas o mesmo te dirão os mestres de todas as outras escolas, peripatéticos, académicos, estóicos, cínicos. Como pode de facto agradar ao vulgo alguém a quem só a virtude agrada? Não se conquista o favor popular por processos limpos. Terás de igualar-te primeiro ao vulgo, que só te aprovará quando te considerar um dos seus. Ora para a tua formação a opinião que tenhas sobre ti mesmo importa muito mais do que a dos outros. A amizade de pessoas dúbias só se concilia por processos dúbios.
Em que te ajudará nisto a filosofia, essa arte excelsa que a tudo sobreleva? Precisamente em levar-te a querer agradar mais a ti do que ao vulgo, a avaliar a qualidade, e não o número, das pessoas que emitem juízos sobre ti, a viver sem temor dos deuses ou dos homens, a poder vencer a adversidade ou a pôr-lhe cobro.
Entre um homem moço e uma mulher bonita, a amizade pura, a amizade intelectual é impossível. O homem e a mulher são, fundamentalmente, irredutivelmente, inimigos. Só se aproximam para se amar – ou para se devorar.
A amizade é como os títulos honoríficos: quanto mais velha, mais preciosa.
O amor pode morrer na verdade, a amizade na mentira.
Loucura é pagar a amizade com o ódio.
Dizer amizade é dizer entendimiento, confiança rapida e larga memória; é dizer, fidelidade.
Nas desventuras comuns, reconciliam-se os ânimos e travam-se amizades.
A amizade que reserva segredos não chega a ser íntima nem verdadeira.
Querer amizade é um grande erro. Amizade é uma jóia gratuita, como as jóias oferecidas pela arte ou pela vida.
A Inconstância no Amor e na Amizade
Não pretendo justificar aqui a inconstância em geral, e menos ainda a que vem só da ligeireza; mas não é justo imputar-lhe todas as transformações do amor. Há um encanto e uma vivacidade iniciais no amor que passa insensivelmente, como os frutos; não é culpa de ninguém, é culpa exclusiva do tempo. No início, a figura é agradável, os sentimentos relacionam-se, procuramos a doçura e o prazer, queremos agradar porque nos agradam, e tentamos demonstrar que sabemos atribuir um valor infinito àquilo que amamos; mas, com o passar do tempo, deixamos de sentir o que pensávamos sentir ainda, o fogo desaparece, o prazer da novidade apaga-se, a beleza, que desempenha um papel tão importante no amor, diminui ou deixa de provocar a mesma impressão; a designação de amor permanece, mas já não se trata das mesmas pessoas nem dos mesmos sentimentos; mantêm-se os compromissos por honra, por hábito e por não termos a certeza da nossa própria mudança.
Que pessoas teriam começado a amar-se, se se vissem como se vêem passados uns anos? E que pessoas se poderiam separar se voltassem a ver-se como se viram a primeira vez? O orgulho, que é quase sempre senhor dos nossos gostos,
Amizade é quando duas pessoas se unem em busca de alguma verdade mais elevada
A verdadeira amizade significa unir muitos corações e corpos num coração e num espírito.
Quem é amigo de toda a gente não é amigo de ninguém. A amizade é séria demais, é bela demais – para poder ser partilhada com muitas pessoas.