Ninguém sabe o que é a morte, mas não faz muita diferença porque também nunca sabemos o que é a vida.
Passagens de António Lobo Antunes
118 resultadosViver em Portugal é fácil? Às vezes parece-me tudo a Póvoa de Santo Adrião, sabe?
Escrevo com dificuldade, sou muito lento, o que parece paradoxal em relação ao número de livros que já publiquei. Mas, se não escrevo, é como se me vestisse sem tomar banho. Um grande desconforto interior.
É mais sensual uma mulher vestida do que uma mulher despida. A sensualidade é o intervalo entre a luva e o começo da manga.
Está a perguntar como trabalho? Faço um plano detalhado com os capítulos todos, as personagens todas. Uma espécie de mapa do que vai acontecendo nos diversos capítulos.
Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto.
Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas.
Não podemos piscar o olho ao público. Se o fizermos estamos lixados. Não obstante, escrevemos para ser lidos. Ninguém, nem mesmo os que escreveram diários em cifra, escreve para não ser lido. Eu escrevo procurando o afecto do leitor, dos escritores, mas sem nunca lhes abrir as pernas. Não me castro em concessões.
Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é. Porque nos permite escrever o livro melhor, como leitor.
Quem não tem dinheiro, não tem alma
Um parvo em pé vai mais longe que um intelectual sentado.
Um escritor é, por natureza, um carenciado de afecto.
Às vezes espanto-me pelo facto de as pessoas se surpreenderem quando digo que escrevo todos os dias. Penso que é tudo e cada vez mais uma questão de trabalho. Um trabalho diário, persistente. Espanto-me de ver os bares sempre cheios de artistas.
O problema dos partidos (políticos) é que se tornam reaccionários porque têm de funcionar com o aparelho, como qualquer igreja.
Escrever ainda é fundamentalmente uma questão de trabalho, trabalho, trabalho. O escritor bom é aquele que trabalha as coisas o suficiente. Porque as primeiras versões são sempre más, vêm à primeira vez: é uma questão de trabalhar sobre aquilo.
A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.
As relações não são necessariamente falhadas, nós é que as falhamos. E depois os outros têm inveja do amor. (…) Não são nada solidários connosco quando somos felizes. As pessoas têm imensa inveja da felicidade dos outros.
Um escritor, como um cantor e um pintor é sempre a voz de qualquer coisa que está latente nas pessoas.
A primeira frase é sempre a mais difícil. Às vezes demora muito tempo.
Há duas coisas que certas pessoas não suportam: uma é o êxito alheio e outra a inovação, a mudança. Há, por um lado, uma reacção de agrado e de adesão do público e por outro lado uma reacção de desagrado que tem a ver com o ciúme, a inveja e a competição.