Na mesa onde se frequentar muito o jogo, cedo faltará o comer.
Passagens de António Vieira
387 resultadosPara ver com uma candeia, não basta só que a candeia esteja acesa, é necessário também que a distância seja proporcionada.
O tudo deste mundo e do outro é a alma, não é o mundo.
A propriedade da quantidade é poder-se sempre dividir e a propriedade do amor é querer-se sempre dar todo.
Ao trabalho corresponde o fruto que se colhe.
Em todos os parentes o amor é acidente que se pode mudar; no amigo fiel é essência, e por isso imutável.
As Quatro Ignorâncias do Amante
Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor. Ou porque não se conhecesse a si: ou porque não conhecesse a quem amava: ou porque não conhecesse o amor: ou porque não conhecesse o fim onde há-de parar, amando. Se não se conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento onde o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar se os previra.
Todo o Amor é Imaginário
Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições Angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo.
Enquanto os conselhos se não dão à execução, por mais conselhos e por mais decretos que haja, ainda se não tem dado princípio a nada.
Quem pode mostrar em sua mão os despojos, sempre tem por si a presunção da vitória.
O amor essencialmente é união e a união não pode unir um extremo, sem que una também o outro.
De duas maneiras cega a fortuna, porque cega como luz e cega como fouce; com uma mão abraça e com outra corta; com a que abraça introduz a cegueira e com a que corta mostra o desengano.
Para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro.
Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas.
Nenhuma coisa trazemos os homens mais esquecida e desconhecida, nenhuma trazemos mais detrás de nós, que a nós mesmos.
Sobre presunções não assenta bem alguma condenação de direito, principalmente quando é grave.
Não há alegria neste mundo tão privilegiada, que não pague pensão à tristeza.
Os outros lugares, quanto mais altos, tanto menos segurança têm, e a sua mesma altura é o prognóstico certo da sua ruína.
Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.
Não sei qual é a maior tentação, se a necessidade, se a cobiça.