Classicismo
LongĂnquo descendente dos helenos
pelo espĂrito claro, a alma panteĂsta,
– amo a beleza esplêndida de Vênus
com uma alegria singular de artista!Amo a aventura e o belo, amo a conquista!
Nem receio os traidores e os venenos…
– Trago na alma engastada uma ametista,
– meus olhos de esmeraldas são serenos!Com os pés na terra tenho o olhar no céu;
a alma, pura e irrequieta como as linfas
soltas no chão; nos lábios, tenho mel…Meu culto é a liberdade e a vida sã.
E ainda hoje sigo e persigo as ninfas
com a minha flauta mágica de Pã!
Passagens sobre Artista
347 resultadosAo exigir do artista uma atitude consciente em relação ao seu trabalho, você tem razão, mas confunde dois conceitos: a solução do problema e a colocação correta do problema. Apenas o segundo é obrigatório para o artista.
O PrestĂgio de um Poeta
O prestĂgio que possa ter alcançado (prestĂgio equivoco no qual se integra a malquerença de alguma gente, que aceito com satisfação) nĂŁo poderia constituir uma poltrona. O prestĂgio Ă© uma armadilha dos nossos semelhantes. Um artista consciente saberá que o ĂŞxito Ă© prejuĂzo. Deve-se estar disponĂvel para decepcionar os que confiaram em nĂłs. Decepcionar Ă© garantir o movimento. A confiança dos outros diz-lhes respeito. A nĂłs mesmos diz respeito outra espĂ©cie de confiança. A de que somos insubstituĂveis na nossa aventura e de que ninguĂ©m a fará por nĂłs. De que ela se fará Ă margem da confiança alheia.
O artista Ă© sempre um perseguidor da beleza.
Nenhum grande artista vê as coisas como realmente são. Caso contrário, deixaria de ser um artista.
A fome bate Ă porta do artista, mas nĂŁo entra.
Certamente é bom que o mundo conheça apenas a obra bela e não as suas origens nem as condições em que foi gerada; pois o conhecimento das fontes de onde provém a inspiração para o artista causaria frequentemente perturbação e espanto, neutralizando assim os efeitos da excelência.
Todos os Homens São Proprietários
Todos os homens são proprietários, mas na realidade nenhum possui. Não são proprietários apenas porque até o último dos pedintes tem sempre alguma coisa além do que traz em cima, mas porque cada um de nós é, a seu modo, um capitalista.
AlĂ©m dos proprietários de terras, de mercadorias, de máquinas e de dinheiro, existem, ainda mais numerosos, os proprietários de capitais pessoais, que se podem alugar, vender ou fazer frutificar como os outros. SĂŁo os proprietários e locadores de força fĂsica – camponeses, operários, soldados – e proprietários e prestadores de forças intelectuais – mĂ©dicos, engenheiros, professores, escritores, burocratas, artistas, cientistas. Quem aluga os seus mĂşsculos, o seu saber ou o seu engenho obtĂ©m um rendimento, que pressupõe um patrimĂłnio.
Um demagogo ou um dirigente de partido pode viver pobremente, mas se milhões de homens estĂŁo dispostos a obedecer a uma palavra sua, Ă©, na realidade, um capitalista, que, em vez de possuir milhões de liras, possui milhões de vontades. O talento visual de um pintor, a eloquĂŞncia de um advogado, o espĂrito inventivo de um mecânico sĂŁo verdadeiros capitais e medem-se pelo preço que deve pagar, para obter os seus produtos, quem nĂŁo os possui e carece deles.
Noite Fechada
L.
Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carĂcias leitosas do luar?Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos nĂłs percorremos de mĂŁos dadas:
Ă€s janelas palravam as vizinhas;
Tinham lĂvidas luzes as fachadas.NĂŁo me esqueço das cousas que disseste,
Ante um pesado tempo com recortes;
E os cemitérios ricos, e o cipreste
Que vive de gorduras e de mortes!NĂłs saĂramos prĂłximo ao sol-posto,
Mas seguĂamos cheios de demoras;
NĂŁo me esqueceu ainda o meu desgosto
Nem o sino rachado que deu horas.Tenho ainda gravado no sentido,
Porque tu caminhavas com prazer,
Cara rapada, gordo e presumido,
O padre que parou para te ver.Como uma mitra a cĂşpula da igreja
Cobria parte do ventoso largo;
E essa boca viçosa de cereja
Torcia risos com sabor amargo.A Lua dava trĂŞmulas brancuras,
Eu ia cada vez mais magoado;
Vi um jardim com árvores escuras,
Como uma jaula todo gradeado!E para te seguir entrei contigo
Num pátio velho que era dum canteiro,
Todo artista molha seu pincel em sua prĂłpria alma, e pinta sua prĂłpria essĂŞncia em seus quadros.
O verdadeiro artista nĂŁo faz obras para o pĂşblico; prefere fazer pĂşblico para as suas obras.
Um retrato pintado com a alma Ă© um retrato, nĂŁo do modelo mas do artista.
A vaidade do artista Ă© uma defesa contra os que o negam.
A arte vivifica a humanidade e aniquila o artista.
É mais difĂcil o estoicismo para um artista que para qualquer outro.
Cuidado com o artista que também é um intelectual: é o artista que está a mais.
Os costumes dos povos sĂŁo vaidade, apenas madeira cortada da floresta
Os costumes dos povos sĂŁo vaidade, apenas madeira cortada da floresta, obra da mĂŁo de um artista com o cinzel.
Algo anda mal na cultura de um paĂs se os seus artistas, em lugar de se proporem mudar o mundo e revolucionar a vida, se empenham em alcançar protecção e subsĂdios do governo.
A Força do Poder Criativo
As biografias dos grandes artistas tornam abundantemente claro que o desejo criativo Ă© frequentemente tĂŁo imperioso que demole a sua humanidade e subjuga tudo ao serviço do trabalho, atĂ© mesmo Ă custa da saĂşde e bem-estar de um vulgar ser humano. O trabalho por nascer na psique do artista Ă© uma força da natureza que alcança o seu fim, tanto por poder tirânico como por astĂşcia vil da prĂłpria natureza, independentemente do destino pessoal do homem que Ă© o seu veĂculo.
Um artista é um homem de ação, quer ele crie uma personalidade, invente uma solução, ou encontre as questões de uma situação complicada.