As Aparências Dizem Aquilo Que Quisermos
Cada boa qualidade humana está relacionada com uma má, na qual ameaça transformar-se; e cada má qualidade está, de uma forma semelhante, relacionada com uma boa. O motivo por que tantas vezes não compreendemos as pessoas é que, quando as conhecemos, confundimos as suas más qualidades com as boas com elas relacionadas, ou vice-versa: assim, um homem prudente pode parecer-nos cobarde, um homem poupado, avarento; ou um perdulário, liberal, uma pessoa grosseira franca e directa, um sujeito imprudente cheio de nobre autoconfiança, e assim por diante.
Passagens sobre Avarento
58 resultadosNão há diferença entre o que dá de má vontade e o avarento que recusa dar.
O avarento é o mais leal e fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.
Para o avarento, a riqueza não traz felicidade; é a própria felicidade.
Pedir a avarento, é cavar no mar.
O mais rico dos homens é o poupado, o mais pobre o avarento.
O avarento guarda o seu tesouro como se fosse seu; mas teme servir-se dele como se na realidade pertencesse a outrém.
O avarento rico não tem parente nem amigo.
Os Amantes
Amor, é falso o que dizes;
Teu bom rosto é contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;O teu meu é mel azedo,
Não creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vão rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.Teus prémios são pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.Fartei-te assaz a vontade;
Em vãos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui não tiras nada.Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;
O Verdadeiro e o Falso Ciúme
O ciúme é uma espécie de temor, que se relaciona com o desejo de conservarmos a posse de algum bem; e não provém tanto da força das razões que levam a julgar que podemos perdê-lo, como da grande estima que temos por ele, a qual nos leva a examinar até os menores motivos de suspeita e a tomá-los por razões muito dignas de consideração.
E como devemos empenhar-nos mais em conservar os bens que são muito grandes do que os que são menores, em algumas ocasiões essa paixão pode ser justa e honesta. Assim, por exemplo, um chefe de exército que defende uma praça de grande importãncia tem o direito de ser zeloso dela, isto é, de suspeitar de todos os meios pelos quais ela poderia ser assaltada de surpresa; e uma mulher honesta não é censurada por ser zelosa de sua honra, isto é, por não apenas abster-se de agir mal como também evitar até os menores motivos de maledicência.
Mas zombamos de um avarento quando ele é ciumento do seu tesouro, isto é, quando o devora com os olhos e nunca quer afastar-se dele, com medo que ele lhe seja furtado; pois o dinheiro não vale o trabalho de ser guardado com tanto cuidado.
Ao avarento falta-lhe tanto o que tem quanto o que não tem; ao luxo faltam muitas coisas, à avareza todas.
Os avarentos não creem numa vida por vir, para eles o presente é tudo.
Os avarentos entesouram como se devessem viver eternamente, e os pródigos dissipam como se estivessem à beira do túmulo.
Dois tipos de homem insociável há no mundo: o sábio e o avarento.
De nenhuma coisa são mais avarentos os homens, que do louvor (…) de nenhuma são mais pródigos, que do desejo de receber.
Migalha é a prodigalidade do avarento.
Os avarentos amealham como se fossem viver para sempre, os pródigos dissipam, como se fossem morrer.
O avarento gostaria que o sol fosse de ouro para poder amoedá-lo.