Aquele que empresta, suas barbas meça.
Passagens sobre Barba
66 resultadosA Teodoro de Banville
De tal modo agarraste a Deusa pela crina,
Com ar dominador, num gesto sacudido
Que se alguém presencia o caso acontecido
Poderia julgar-te um rufiĂŁo de esquina.Com o lĂmpido olhar, — precoce e ardente vista,
Audaz, vais expandido o orgulho de arquitecto
Em nobres produções, de traço tão correcto,
Que deixam futurar um prodigioso artista.O nosso sangue, Poeta, esvai-se dia a dia!…
Acaso, do Centauro, a tĂşnica sombria,
— Que, fúnebres caudais as velas transformava —Três vezes se tingiu com as barbas subtis
D’aqueles infernais, monstruosos, rĂ©pteis,
Que Hércules, em crença, a rir, estrangulava?Tradução de Delfim Guimarães
Cantiga do Rosto Branco
Rico era o rosto branco; armas trazia,
E o licor que devora e as finas telas;
Na gentil Tibeima os olhos pousa,
E amou a flor das belas.“Quero-te!” disse à cortesã da aldeia;
“Quando, junto de ti, teus olhos miro,
A vista se me turva, as forças perco,
E quase, e quase expiro.”E responde a morena requebrando
Um olhar doce, de cobiça cheio:
“Deixa em teus lábios imprimir meu nome;
Aperta-me em teu seio!”Uma cabana levantaram ambos,
O rosto branco e a amada flor das belas…
Mas as riquezas foram-se co’o tempo,
E as ilusões com elas.Quando ele empobreceu, a amada moça
Noutros lábios pousou seus lábios frios,
E foi ouvir de coração estranho
Alheios desvarios.Desta infidelidade o rosto branco
Triste nova colheu; mas ele amava,
Inda infiéis, aqueles lábios doces,
E tudo perdoava.Perdoava-lhe tudo, e inda corria
A mendigar o grĂŁo de porta em porta,
Com que a moça nutrisse, em cujo peito
Jazia a afeição morta.E para si,
Barba, n. O cabelo que é habitualmente cortado por aqueles que abominam o absurdo costume chinês de rapar a cabeça.
RaĂzes
Ehrenburg, que lia e traduzia os meus versos, repreendia-me: demasiada raiz, demasiadas raĂzes, nos teus versos. PorquĂŞ tantas? É verdade. As terras fronteiriças do Chile infiltraram as suas raĂzes na minha poesia e nunca puderam sair dela. A minha vida Ă© uma longa peregrinação que anda sempre Ă s voltas, que retorna sempre ao bosque austral, Ă selva perdida.
Ali, Ă© certo, as grandes árvores eram por vezes tombadas por setecentos anos de vida poderosa, ou arrancadas pelo furacĂŁo, ou queimadas pela neve, ou destruĂdas pelo incĂŞndio. Senti muitas vezes cair na profundidade da floresta as árvores titânicas: o roble que tomba com estrondo de catástrofe surda, como se batesse com mĂŁo colossal Ă s portas da terra pedindo sepultura. As raĂzes, porĂ©m, ficavam a descoberto, entregues ao tempo inimigo, Ă humidade, aos lĂquenes, ao aniquilamento progressivo.
Nada mais belo que aquelas grandes mĂŁos abertas, feridas e queimadas, que numa vereda do bosque nos indicam o segredo da árvore enterrada, o enigma que a folhagem mantinha, os mĂşsculos profundos do domĂnio vegetal. Trágicas e hirsutas, mostram-nos uma nova beleza: sĂŁo esculturas da profundidade — obras-primas secretas da natureza.Certa vez, caminhando com Rafael Alberti entre cascatas, matagais e bosques,
Deus, na sua divina providĂŞncia, nĂŁo deu barba Ă s mulheres, pois que lhes seria impossĂvel estar caladas enquanto as barbeassem.