Passagens sobre Beleza

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Frases sobre beleza, poemas sobre beleza e outras passagens sobre beleza para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Saturação da Servidão

Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão. As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (…) Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos. Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.
Um grande terror sucede à saturação da servidão. Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma.

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Felina Mulher

Eu quisera depois das lutas acabadas,
na paz dos vegetais adormecer um dia
e nunca mais volver da santa letargia,
meu corpo dando pasto às plantas delicadas.

Seria belo ouvir nas moitas perfumadas,
enquanto a mesma seiva em mim também corria,
as sãs vegetações, em íntima harmonia,
aos troncos enlaçando as lívidas ossadas!

Ó beleza fatal que há tanto tempo gabo:
se eu volvesse depois feito em jasmins-do-cabo
– gentil metamorfose em que nesta hora penso –

tu, felina mulher, com garras de veludo,
havias de trazer meu espírito, contudo,
envolto muita vez nas dobras do teu lenço!

Discreta E Formosíssima Maria

Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:

Enquanto com gentil descortesia,
O Ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança brilhadora
Quando vem passear-te pela fria.

Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata, a toda a ligeireza
E imprime em toda flor sua pisada.

Oh não aguardes que a madura idade
te converta essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

À Instabilidade Das Cousas No Mundo.

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

O Sentido de Possibilidade

Poderia definir-se o sentido de possibilidade como aquela capacidade de pensar tudo aquilo que também poderia ser e de não dar mais importância àquilo que é do que àquilo que não é. Como se vê, as consequências desta disposição criadora podem ser notáveis; infelizmente, não é raro que façam aparecer como falso aquilo que as pessoas admiram e como lícito aquilo que elas proíbem, ou então as duas coisas como sendo indiferentes. Esses homens do possível vivem, como se costuma dizer, numa trama mais subtil, numa teia de névoa, fantasia, sonhos e conjuntivos; se uma criança mostra tendências destas, acaba-se firmemente com elas, e diz-se-lhe que tais pessoas são visionários, sonhadores, fracos, gente que tudo julga saber melhor e em tudo põe defeito.
Quando se quer elogiar estes loucos, chama-se-lhes também idealistas, mas é claro que com isso só se alude à sua natureza débil, incapaz de compreender a realidade, ou que a evita por melancolia, uma natureza na qual a falta do sentido de realidade é um verdadeiro defeito. O possível, porém, não abarca apenas os sonhos dos neurasténicos, mas também os desígnios ainda adormecidos de Deus. Uma experiência possível ou uma verdade possível não são iguais a uma experiência real e uma verdade real menos o valor da sua realidade,

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Um temperamento agradável pode compensar-nos da falta de beleza, mas a beleza não basta para nos indemnizar de um temperamento desagradável.

Se a Vida Fosse Sempre Vida

Felizes, cujos corpos sob as árvores
Jazem na úmida terra,
Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem
Das doenças da lua.

Verta Eolo a caverna inteira sobre
O orbe esfarrapado,
Lance Netuno, em cheias mãos, ao alto
As ondas estoirando.

Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro
Que passa, finda a tarde,
Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra
Imperfeita de um deus,

Não sabe que os seus passos vão cobrindo
O que podia ser,
Se a vida fosse sempre vida, a glória
De uma beleza eterna.

Descida

O que tinha de ser já foi… E está perdida
aquela ânsia de espera, de desejo e fé,
e tudo o que virá será cópia esbatida
da Vida que foi Vida e hoje Vida não é…

Muito pouco de tudo ainda resta de pé…
Agora, nunca mais estréias… Repetida
a alma se reverá um desespero, até
que a vida já não valha a pena ser vivida…

Do que foi canto e flor restam só as raízes,
e ao tédio que envenena os dias mais risonhos
repito: nunca mais estréias… só reprises…

E que importa o que vier? Sejam anos ou meses?
– Nunca mais a beleza dos primeiros sonhos!
– Nunca mais a surpresa das primeiras vezes!

A verdadeira beleza vive em refúgios profundos,cujo véu é irremovível, até que coração e coração em concordância batam. E o amor é amado.

Se for para escolher entre o obscuro da vida, cheios de armadilhas e decepções, prefiro o obscuro do oceano, onde o mesmo é dono de tanta beleza, a ponto de esconder tal perigo eminente. Caça-sub

Certos atos, mesmo quando praticados com boa intenção, resultam em mal. Sem saber que eu apreciava os tufos de capim que, a meu ver, acrescentavam encanto ao jardim, alguém prestimosamente os arrancou. Sem saber que eu apreciava as pétalas caídas que davam particular beleza ao jardim, alguém teve a gentileza de varrê-las. Até mesmo o amor pode ofender os outros, quando não é acompanhado de sabedoria. Os atos baseados estritamente no senso comum acabam prejudicando os outros. Comportamentos estereotipados não vivificam nada. É preciso sabedoria para adequar as ações às pessoas com as quais se lida. Tal sabedoria só pode ser obtida através da união com Deus. Deves, portanto, praticar a Meditação Shinsokan assiduamente.

Ela

À beleza tão pura do semblante,
à luz sublime que há nos olhos dela,
– pergunto-me a mim mesmo a todo instante,
como tão simples pode ser tão bela…

Diferente das outras, diferente
dos moldes tão comuns de uma mulher,
– ela me faz pensar num mundo ausente
deste que a gente sem querer já quer…

Bem que a quis esquecer – e noutro amor
procurei me enganar, acreditando
ser do meu pobre coração, senhor…

Em vão tentei… Em vão… Vendo-a naquela
doce e pura expressão – fico pensando
que é impossível não pensar mais nela!…

Nenhum cidadão tem o direito de ser um amador em matéria de treinamento físico. Que desgraça é para o homem envelhecer sem nunca ver a beleza e a força do que o seu corpo é capaz.

Abat-Jour

A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza

Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.

E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.

Bem sei … Era dia
E longe de aqui…
Quanto me sorria
O que nunca vi!

E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar…

Corpo e Espírito

A maior parte das pessoas tem um corpo que, ou é desleixado, formado e deformado pelo acaso, e que parece quase não ter relação com o seu espírito e o seu carácter, ou então é recoberto pela máscara do desporto que lhe dá o aspecto daquelas horas em que ele tirou férias de si próprio. Essas são aquelas horas em que um homem desfia o sonho diurno da sua boa figura, que foi buscar às revistas do grande mundo da elegância e da beleza. Todos esses jogadores de ténis, cavaleiros e corredores de automóveis, bronzeados e musculosos, com ares de baterem todos os recordes, apesar de, em geral, dominarem apenas razoavelmente a sua especialidade, essas damas bem vestidas ou bem despidas, sonham sonhos diurnos, e só se distinguem do comum dos mortais que têm sonhos despertos porque o seu sonho não permanece encerrado no cérebro, mas sai para o ar livre, como projecção da alma das massas, configurada de forma corpórea, dramática, quase apetecia dizer, na linguagem de fenómenos ocultos mais que suspeitos, ideoplástica. Mas têm em comum com os vulgares construtores de fantasias uma certa banalidade dos seus sonhos, tanto no que se refere ao conteúdo como à proximidade do estado de vigília.

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