Passagens sobre Botões

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Frases sobre botões, poemas sobre botões e outras passagens sobre botões para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Efeitos da Leitura e da Vida

Quando leio um livro tenho a impressão de lê-lo somente com os olhos, mas de vez em quando deparo com trecho, talvez apenas uma frase, que tem uma significação para mim, e ele torna-se parte de mim; tirei do livro tudo o que me é de alguma utilidade, e não posso extrair mais, ainda que o releia uma dúzia de vezes.
Veja, parece-me que cada um de nós se assemelha a um botão de flor fechado, e a maior parte do que lê e faz não faz efeito nenhum; mas há certas coisas que têm uma significação particular para a gente, e elas abrem uma pétala; e as pétalas abrem uma por uma, e no final a flor está aí.

Lydia

A Esther

Feliz de quem se vai na tua idade,
Murmura aquele que nĂŁo crĂŞ na vida,
E nĂŁo pensa sequer na mĂŁe querida
Que te contempla cheia de saudade.

Pobre inocente! Se alegrar quem há-de
Com tua sorte, rosa empalidecida!
Branca açucena inda em botão, caída,
O que irás tu fazer na eternidade?

Foges da terra em busca de venturas?
Mas, meu amor, se conseguires tĂŞ-las,
De certo, não será nas sepulturas.

Fica entre nĂłs, irmĂŁ das andorinhas:
Deus fez do Céu a pátria das estrelas,
Do olhar das mães o Céu das criancinhas.

Todos Temos Duas Almas

Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro… Espantem-se Ă  vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; nĂŁo admito rĂ©plica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espĂ­rito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botĂŁo de camisa Ă© a alma exterior de uma pessoa; – e assim tambĂ©m a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofĂ­cio dessa segunda alma Ă© transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que Ă©, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existĂŞncia; e casos há, nĂŁo raros, em que a perda da alma exterior implica a da existĂŞncia inteira. (…) Agora, Ă© preciso saber que a alma exterior nĂŁo Ă© sempre a mesma…
– NĂŁo?
– NĂŁo, senhor; muda de natureza e de estado. NĂŁo aludo a certas almas absorventes, como a pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder,

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Baladas Românticas – Branca…

Vi-te pequena: ias rezando
Para a primeira comunhĂŁo:
Toda de branco, murmurando,
Na fronte o véu, rosas na mão.
NĂŁo ias sĂł: grande era o bando…
Mas entre todas te escolhi:
Minh’alma foi te acompanhando,
A vez primeira em que te vi.

Tão branca e moça! o olhar tão brando!
Tão inocente o coração!
Toda de branco, fulgurando,
Mulher em flor! flor em botĂŁo!
Inda, ao lembrá-lo, a mágoa abrando,
Esqueço o mal que vem de ti,
E, o meu rancor estrangulando,
Bendigo o dia em que te vi!

Rosas na mĂŁo, brancas… E, quando
Te vi passar, branca visĂŁo,
Vi, com espanto, palpitando
Dentro de mim, esta paixĂŁo…
O coração pus ao teu mando…
E, porque escravo me rendi,
Ando gemendo, aos gritos ando,
– Porque te amei! porque – te vi!

Depois fugiste… E, inda te amando,
Nem te odiei, nem te esqueci:
– Toda de branco… Ias rezando…
Maldito o dia em que te vi!

Noite de Amores

Mimosa noite de amores,
Mimoso leito de flores,
Mimosos, lânguidos ais!
Vergôntea débil ainda,
Tremia! Lua tĂŁo linda,
Lembra-me ainda… Jamais!

Aquela dália mimosa,
Aquele botĂŁo de rosa
Dos lábios dela… Senhor!
Murchavam; mas, como a Lua,
Passava a nuvem: «Sou tua»!
Reverdeciam de amor!

E aquela estátua de neve
Como Ă© que o fogo conteve
Que nĂŁo a vi descoalhar?
Ondas de fogo, uma a uma,
Naquele peito de espuma
Eram as ondas do mar!

Como os seus olhos me olhavam,
Como nos meus se apagavam,
E se acendiam depois!
Como Ă© que ali confundidas
Se nĂŁo trocaram as vidas
E os corações de nós dois!

Mimosa noite de amores,
Mimoso leito deflores,
Mimosos, lânguidos ais!
Vergôntea débil ainda,
Tremia! Lua tĂŁo linda,
Lembra-me ainda… Jamais!

No Amor Começa-se Sempre a Zero

Fazer um registo de propriedade Ă© chato e difĂ­cil mas fazer uma declaração de amor ainda Ă© pior. NinguĂ©m sabe como. NĂŁo há minuta. NĂŁo há sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declarações de amor tĂŞm de ser feitas pelo prĂłprio. A experiĂŞncia nĂŁo serve de nada — por muitas declarações que já se tenham feito, cada uma Ă© completamente diferente das anteriores. No amor, aliás, a experiĂŞncia sĂł demonstra uma coisa: que nĂŁo tem nada que estar a demonstrar coisĂ­ssima nenhuma. É verdade — começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa Ă  suprema inocĂŞncia, inĂ©pcia e barbárie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nĂłs estamos de calções. A experiĂŞncia nĂŁo serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incĂŞndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lá, tu que tens experiĂŞncia de queimaduras do primeiro grau…»

Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurĂ­culas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrĂ­culos,

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A Minha Filha

(Vendo-a dormir)

Que alma intacta e delicada!
Que argila pura e mimosa!
É a estrela d’alvorada
Dentro dum botĂŁo de rosa!

E, enquanto dormes tranquila,
Vejo o divino esplendor
Da alma a sair da argila,
Da estrela a sair da flor!

Anjos, no azul inocente,
Sobre o teu hálito leve
Desdobram candidamente,
Em pálio, as asas de neve…

E eu, urze má das encostas,
Eu sinto o dever sagrado
De te beijar— de mãos postas!
De te abençoar — ajoelhado!