Passagens sobre Cabelos

272 resultados
Frases sobre cabelos, poemas sobre cabelos e outras passagens sobre cabelos para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Vénus

I

À flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda…
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razĂŁo se perde!

PĂștrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.

O seu esboço, na marinha turva…
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pĂ©s atrĂĄs, como voando…

E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co’a salsugem.

II

Singra o navio. Sob a ĂĄgua clara
VĂȘ-se o fundo do mar, de areia fina…
_ ImpecĂĄvel figura peregrina,
A distĂąncia sem fim que nos separa!

Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparĂȘncia luminosa
Repousam, fundos, sob a ĂĄgua plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrågios, perdiçÔes, destroços!
_ Ó fĂșlgida visĂŁo, linda mentira!

RĂłseas unhinhas que a marĂ© partira…
Dentinhos que o vaivĂ©m desengastara…

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No Teu Colo

No teu colo cabem todos os meus medos.
E se Deus existir, Ă© a calma do teus ombros, o sossego divino que vai do teu pescoço ao teu peito. E eu ali, tĂŁo pequeno que nem meço os centĂ­metros que tenho, e ainda assim tĂŁo grande que nem o cĂ©u teria espaço para me guardar assim. Somos criaturas para alĂ©m do mundo, pares Ășnicos de uma viagem que nem o final dos corpos conseguirĂĄ parar.
Até o pior da vida se acalma quando estou nos teus olhos.
HĂĄ pessoas mĂĄs, mĂŁe. Pessoas que nĂŁo imaginam o que Ă© resistir por dentro deste corpo, por trĂĄs destes ossos, sob os escombros de uma idade por descobrir. HĂĄ pessoas que nĂŁo sabem que sou uma criança com medo como todas as crianças (uma pessoa com medo como todas as pessoas: os adultos tambĂ©m tĂȘm medo, nĂŁo tĂȘm, mĂŁe?, toda a gente tem medo, nĂŁo tem, mĂŁe?), e ontem um adulto disse-me para crescer e aparecer, e uma criança menos criança do que eu agarrou-me pelos cabelos e atirou-me ao chĂŁo, a escola toda a olhar e a rir, e o adulto a dizer «cresce e aparece» e a criança a dizer «toma lĂĄ que Ă© para aprenderes».

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Cantiga de Banheiro

A moça vai tomar banho,
banho domiciliar.
A moça não se dispersa
na piscina nem no mar.
A moça entra no banheiro
e torce a chave e o ferrolho
da porta. (HĂĄ na fechadura
um olho que chama outro olho.)
A moça vai tomar banho.
Deixa os chinelos no canto.
Perdeu os itinerĂĄrios.
Solta os cabelos castanhos.
Fica nua. Dela saltam
peitos agressivos de
bicos rubros, insinuantes,
de leite e amor para as bocas
dos babies e dos amantes.
A moça morena espia
dentro do espelho da pia
a exclusivamente sua
liberta beleza nua.

Comprime-se o espelho quando
a moça se distancia.
Na solidĂŁo do banheiro,
vĂȘ-se emparedada viva
nas paredes de azulejo
e nua fica debaixo
do chuveiro de onde a ĂĄgua
humaniza-se e, acrobata,
dĂĄ um pulo da cascata
doméstica com a intenção
de levar a moça longe,
de fazer um filho plĂĄstico
no ventre virgem lambido
de esponja e de sabonete.

Quando a branca toalha asséptica
abriu-se na fĂșria ambiente,

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PĂ”e-me as MĂŁos nos Ombros…

PĂ”e-me as mĂŁos nos ombros…
Beija-me na fronte…
Minha vida Ă© escombros,
A minha alma insonte.

Eu nĂŁo sei por quĂȘ,
Meu desde onde venho,
Sou o ser que vĂȘ,
E vĂȘ tudo estranho.

PÔe a tua mão
Sobre o meu cabelo…
Tudo Ă© ilusĂŁo.
Sonhar Ă© sabĂȘ-lo.

Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços

Tenho saudades da carĂ­cia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dĂŁo vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mĂŁos (…) Tenho saudades da seda amarela tĂŁo leve, tĂŁo suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhĂĄ-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguĂ©m se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmĂŁo, que eu nunca tive ninguĂ©m que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente Ă© mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser,

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Visio

Eras pĂĄlida. E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espĂĄduas caĂ­am…
Os olhos meio cerrados
De volĂșpia e de ternura
Entre lĂĄgrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…

Depois, naquele delĂ­rio,
Suave, doce martĂ­rio
De pouquĂ­ssimos instantes,
Os teus lĂĄbios sequiosos,
Frios, trĂȘmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…

Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidĂŁo, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silĂȘncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
LĂĄbios trĂȘmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.

E agora te vejo. E fria
TĂŁo outra estĂĄs da que eu via
Naquele sonho encantado!

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Ah, o que Ă© aquele Barulho

Ah, o que Ă© aquele barulho

Ah, o que Ă© aquele barulho que vibra no ouvidos
LĂĄ em baixo no vale, a rufar, a rufar?
SĂŁo apenas os soldados escarlates, amor,
Os soldados que chegam.

Ah, o que Ă© aquela luz que vejo tĂŁo cintilante e intensa
LĂĄ ao longe, brilhante, brilhante?
Apenas o sol incidindo nas armas, amor,
Enquanto avançam ligeiros.

Ah, que estĂŁo eles a fazer com todo aquele equipamento,
Que estĂŁo eles a fazer esta manhĂŁ, esta manhĂŁ?
Somente as manobras habituais, amor,
Ou talvez seja um aviso.

Ah, por que terĂŁo abandonado a estrada ali em baixo,
Por que andam de repente Ă s voltas, Ă s voltas?
Talvez tenham recebido ordens diferentes, amor.
Por que estĂĄs de joelhos?

Ah, não pararam para o médico cuidar deles,
NĂŁo detiveram os cavalos, os cavalos?
Claro, ninguém estå ferido, amor,
Nenhum destes soldados.

Ah, Ă© o padre de cabelo branco que eles querem,
O padre, nĂŁo Ă©, nĂŁo Ă©?
NĂŁo, estĂŁo a passar ao seu portĂŁo, amor,
Sem o irem visitar.

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O Amor em Visita

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lĂșbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marĂ­timo
e o pĂŁo for invadido pelas ondas –
seu corpo arderĂĄ mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele – imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderĂĄ para mim
sobre um lençol mordido por flores com ågua.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordÔes da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
– Oh cabra no vento e na urze,

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O Homem Primitivo Moderno

Reparai num homem civilizado, rico, inteligente e feliz; olhai-o bem; tirai-lhe o chapéu alto, o casaco, as botas de verniz; despi-o, enfim: vereis a miséria da carne tentando um feroz regresso às formas caricatas do orogotango inicial.
Ide mais longe; penetrai-lhe o esqueleto, atravessai-lhe as entranhas: vereis entĂŁo a maior das pobrezas, a misĂ©ria absoluta, a ausĂȘncia de alma.
Sim: conforme a alma vai desaparecendo, o corpo vai-se sumindo e, apagando nas indecisas, grosseiras formas originĂĄrias. Por cada sentimento que morre, o cĂłccix aumenta um elo.
As criaturas de que se compĂ”e a parte dominante da sociedade, estĂŁo jĂĄ mais prĂłximas do macaco do que do homem. As abas da casaca sĂŁo feitas para encobrir os primeiros movimentos comprometedores da cauda… a bota de verniz tenta apertar e reduzir o pĂ© que principia a prolongar-se assustadoramente. A luva realiza, nas mĂŁos, o mesmo papel hipĂłcrita…
Continuai na vossa anĂĄlise do homem civilizado que parou agora, alĂ©m, em frente duma vitrine de ourives, atraĂ­do, como os moscardos, pelo fulgor dos brilhantes, das esmeraldas, dos rĂșbis, dos topĂĄzios, de todas as pedras, enfim, que o homem nĂŁo pode atirar ao seu semelhante.
Olhai-o bem; a primeira coisa que nos fere Ă© a hostilidade que se exala de toda a sua fisionomia.

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Cromo

andamos pelo mundo
experimentando a morte
dos brancos cabelos das palavras
atravessamos a vida com o nome do medo
e o consolo dalgum vinho que nos sustém
a urgĂȘncia de escrever
nĂŁo se sabe para quem

o fogo a seiva das plantas eivada de astros
a vida policopiada e distribuĂ­da assim
atravĂ©s da lĂ­ngua… gratuitamente
o amargo sabor deste paĂ­s contaminado
as manchas de tinta na boca ferida dos tigres de papel

enquanto durmo Ă  velocidade dos pipelines
esboço cromos para uma colecção de sonhos lunares
e ao acordar… a incoerente cidade odeia
quem deveria amar

o tempo escoa-se na mĂșsica silente deste mar
ah meu amigo… como invejo essa tarde de fogo
em que apetecia morrer e voltar