As dĂĄdivas feitas com carinho dobram de valor.
Passagens sobre Carinho
108 resultadosNĂșpcias PagĂŁs
Braços dados, nĂłs dois, vamos sozinhos…
O teu olhar de encantamento espraias
pelas curvas e sombras dos caminhos
debruados de jasmins e samambaiasHĂĄ queixumes de amor na alma dos ninhos
e as nuvens lembram danças de cambraias…
– na minha mĂŁo ansiosa de carinhos
tonta de amor, a tua mĂŁo, desmaias…Andamos sobre painas… entre alfombras…
E Ă luz frouxa da tarde em desalento
misturam-se no chĂŁo as nossas sombras– Aqui… HĂĄ rosas soltas, desfolhadas…
Nada receies, meu amor – Ă© o vento
em marcha nupcial pelas ramadas!
Virtude e Pecado sĂŁo Inatos
Nenhum prĂ©mio certo tem a virtude, nenhum castigo certo o pecado. Nem seria justo que houvesse tal prĂ©mio ou tal castigo. Virtude ou pecado sĂŁo manifestaçÔes inevitĂĄveis de organismos condenados a um ou a outro, servindo a pena de serem bons ou a pena de serem maus. Por isso todas as religiĂ”es colocam as recompensas e os castigos, merecidos por quem, nada sendo nem podendo, nada pĂŽde merecer, em outros mundos, de que nenhuma ciĂȘncia pode dar notĂcia, de que nenhuma fĂ© pode transmitir a visĂŁo. Abdiquemos, pois, de toda a crença sincera, como de toda a preocupação de influir em outrem.
A vida, disse Gabriel Tarde, Ă© a busca do impossĂvel atravĂ©s do inĂștil. Busquemos sempre o impossĂvel, porque tal Ă© o nosso fado; busquemo-lo atravĂ©s do inĂștil, porque nĂŁo passa caminho por outro ponto; ascendamos, porĂ©m, Ă consciĂȘncia de que nada buscamos que possa obter-se, de que por nada passamos que mereça um carinho ou uma saudade.
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender, disse o escolista. Compreendamos, compreendamos sempre, e façamos por tecer astuciosamente capelas ou grinaldas que hão-de murchar também, as flores espectrais dessa compreensão.
XXXII
Como quisesse livre ser, deixando
As paragens natais, espaço em fora,
A ave, ao bafejo tépido da aurora,
Abriu as asas e partiu cantando.Estranhos climas, longes céus, cortando
Nuvens e nuvens, percorreu: e, agora
Que morre o sol, suspende o vĂŽo, e chora,
E chora, a vida antiga recordando …E logo, o olhar volvendo compungido
AtrĂĄs, volta saudosa do carinho,
Do calor da primeira habitação…Assim por largo tempo andei perdido:
– Ali! que alegria ver de novo o ninho,
Ver-te, e beijar-te a pequenina mĂŁo!
Certas espécies de vegetal, para florescerem, pedem esquecimentos em vez de carinho.
Desterro
JĂĄ me nĂŁo amas? Basta! Irei, triste, e exilado
Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho.
Adeus, carne cheirosa! Adeus, primeiro ninho
Do meu delĂrio! Adeus, belo corpo adorado!Em ti, como num vale, adormeci deitado,
No meu sonho de amor, em meĂŁo do caminho…
Beijo-te inda uma vez, num Ășltimo carinho,
Como quem vai sair da pĂĄtria desterrado…Adeus, corpo gentil, pĂĄtria do meu desejo!
Berço em que se emplumou o meu primeiro idĂlio,
Terra em que floresceu o meu primeiro beijo!Adeus! Esse outro amor hĂĄ de amargar-me tanto
Como o pĂŁo que se come entre estranhos, no exĂlio,
Amassado com fel e embebido de pranto…
NĂȘgo, eu nĂŁo tĂŽ nada bem. Queria te escrever com mais carinho, mais entusiasmo, com mais vida. Mas olha, nĂŁo tĂĄ saindo…
Os pobres gostam da esmola dos jovens porque nĂŁo os humilha e porque os jovens, que precisam de todos, assemelham-se a eles… A esmola de um homem Ă© um acto de caridade: mas a de um menino Ă©, ao mesmo tempo, uma caridade e um carinho.
Amor nĂŁo Tem NĂșmero
Se vocĂȘ nĂŁo tomar cuidado vira nĂșmero atĂ© para si mesmo. Porque a partir do instante em que vocĂȘ nasce classificam-no com um nĂșmero. Sua identidade no FĂ©lix Pacheco Ă© um nĂșmero. O registro civil Ă© um nĂșmero. Seu tĂtulo de eleitor Ă© um nĂșmero. Profissionalmente falando vocĂȘ tambĂ©m Ă©. Para ser motorista, tem carteira com nĂșmero, e chapa de carro. No Imposto de Renda, o contribuinte Ă© identificado com um nĂșmero. Seu prĂ©dio, seu telefone, seu nĂșmero de apartamento â tudo Ă© nĂșmero.
Se Ă© dos que abrem crediĂĄrio, para eles vocĂȘ Ă© um nĂșmero. Se tem propriedade, tambĂ©m. Se Ă© sĂłcio de um clube tem um nĂșmero. Se Ă© imortal da Academia Brasileira de Letras tem o nĂșmero da cadeira.
Ă por isso que vou tomar aulas particulares de MatemĂĄtica. Preciso saber das coisas. Ou aulas de FĂsica. NĂŁo estou brincando: vou mesmo tomar aulas de MatemĂĄtica, preciso saber alguma coisa sobre cĂĄlculo integral.
Se vocĂȘ Ă© comerciante, seu alvarĂĄ de localização o classifica tambĂ©m.
Se Ă© contribuinte de qualquer obra de beneficĂȘncia tambĂ©m Ă© solicitado por um nĂșmero. Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negĂłcio recebe um nĂșmero. Para tomar um aviĂŁo,
CrĂȘ!
VĂȘ como a Dor te transcendentaliza!
Mas no fundo da Dor crĂȘ nobremente.
Transfigura o teu ser na força crente
Que tudo torna belo e diviniza.Que seja a Crença uma celeste brisa
Inflando as velas dos batéis do Oriente
Do teu Sonho supremo, onipotente,
Que nos astros do céu se cristaliza.Tua alma e coração fiquem mais graves,
Iluminados por carinhos suaves,
Na doçura imortal sorrindo e crendo…Oh! CrĂȘ! Toda a alma humana necessita
De uma Esfera de cĂąnticos, bendita,
Para andar crendo e para andar gemendo!
A Rosa
Tu, flor de VĂ©nus,
Corada Rosa,
Leda, fragrante,
Pura, mimosa,Tu, que envergonhas
As outras flores,
Tens menos graça
Que os meus amores.Tanto ao diurno
Sol coruscante
Cede a nocturna
Lua inconstante,Quanto a MarĂlia
TĂ© na pureza
Tu, que Ă©s o mimo
Da Natureza.O buliçoso,
CĂąndido Amor
PĂŽs-lhe nas faces
Mais viva cor;Tu tens agudos
Cruéis espinhos,
Ela suaves
Brandos carinhos;Tu nĂŁo percebes
Ternos desejos,
Em vĂŁo FavĂłnio
Te dĂĄ mil beijos.MarĂlia bela
Sente, respira,
Meus doces versos
Ouve, e suspira.A mĂŁe das flores,
A Primavera,
Fica vaidosa
Quando te gera;PorĂ©m MarĂlia
No mago riso
Traz as delĂcias
Do ParaĂso.Amor que diga
Qual Ă© mais bela,
Qual Ă© mais pura,
Se tu, ou ela;Que diga VĂ©nus…
Ela aĂ vem…
Ai! Enganei-me,
Que Ă© o meu bem.
O Amor PortuguĂȘs nĂŁo Ă© um FenĂłmeno Ternurento
Do carinho e do mimo, toda a gente sabe tudo o que hĂĄ a saber â e mais um bocado. Do amor, ninguĂ©m sabe nada. Ou pensa-se que se sabe, o que Ă© um bocado menos do que nada. O mais que se pode fazer Ă© procurar saber quem se ama, sem querer saber que coisa Ă© o amor que se tem, ou de que sĂtio vem o amor que se faz.
Do amor Ă© bom falar, pelo menos naqueles intervalos em que nĂŁo Ă© tĂŁo bom amar. Todos os paĂses hĂŁo-de ter a sua prĂłpria cultura amorosa. A portuguesa Ă© excepcional. Nas culturas mais parecidas com a nossa, Ă© muito maior a diferença que se faz entre o amor e a paixĂŁo. Faz-se de conta que o amor Ă© uma coisa â mais tranquila e pura e duradoura â e a paixĂŁo Ă© outra â mais doĂda e complicada e efĂ©mera. Em Portugal, porĂ©m, nĂŁo gostamos de dizer que nos «enamoramos», e o «enamoramento» e outras palavras que contenham a palavra «amor» sĂŁo-nos sempre um pouco estranhas. Quando nĂłs nos perdemos de amores por alguĂ©m, dizemos (e nitidamente sentimos) que nos apaixonamos. Aqui, sabe-se lĂĄ por que atavismos atlĂąnticos,
Mapa
Ao norte, a torre clara, a praça, o eterno encontro,
A confidĂȘncia muda com teu rosto por jamais.
A leste, o mar, o verde, a onda, a espuma,
Esse fantasma longe, barco e bruma,
O cais para a partida mais definitiva
A urna distancia percorrida em sonho:
Perfume da lonjura, a cidade santa.O oeste, a casa grande, o corredor, a cama:
Esse carinho intenso de silĂȘncio e banho.
A terra a oeste, essa ternura de pianos e janelas abertas
A rua em que passavas, o abano das sacadas: o morro e o
cemitĂ©rio e as glicĂnias.
Ao sul, o amor, toda a esperança, o circo, o papagaio, a
nuvem: esse varal de vento,
No sul iluminado o pensamento no sonho em que te sonho
Ao sul, a praia, o alento, essa atalaia ao teu paĂsMapa azul da infĂąncia:
O jardim de rosas e mistério: o espelho.
O nunca além do muro, além do sonho o nunca
E as avenidas que percorro aclamado e feliz.Antes o sol no seu mais novo raio,
O acordar cotidiano para o ensaio do céu,
O Beija-Flor
NOTA: Tradução do poema “Le Colibri”, de Leconte de Lisle
O verde beija-flor, rei das colinas,
Vendo o rocio e o sol brilhante
Luzir no ninho, trança d’ervas finas,
Qual fresco raio vai-se pelo ar distante.RĂĄpido voa ao manancial vizinho,
Onde os bambus sussurram como o mar,
Onde o açokå rubro, em cheiros de carinho,
Abre, e eis no peito Ășmido a fuzilar.Desce sobre a ĂĄurea flor a repousar,
E em rósea taça amor a inebriar,
E morre nĂŁo sabendo se a pode esgotar!Em teus lĂĄbios tĂŁo puros, minha amada,
Tal minha alma quisera terminar,
SĂł do primeiro beijo perfumada!
O amor se torna favorĂĄvel pelo carinho, nĂŁo pela autoridade.
Rosa sem Espinhos
Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa Ă©s tu sem espinhos?
Ai, que nĂŁo te entendo, flor!Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
Ă sorrir e Ă© corar.E quando a sonsa da abelha,
TĂŁo modesta em seu zumbir,
Te diz: «à rosa vermelha,
» Bem me podes acudir:» Deixa do cålix divino
» Uma gota sĂł libar…
» Deixa, é néctar peregrino,
» Mel que eu nĂŁo sei fabricar …»Tu de lĂĄstima rendida,
De maldita compaixĂŁo,
Tu Ă sĂșplica atrevida
Sabes tu dizer que nĂŁo?Tanta lĂĄstima e carinhos,
Tanto dĂł, nenhum rigor!
Ăs rosa e nĂŁo tens espinhos!
Ai !, que nĂŁo te entendo, flor.
Eterna Dor
Alma de meu amor, lĂrio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.Ă minha mĂŁe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do CĂ©u nĂŁo tĂȘm espinhos,
Quero ir contigo, Ăł lĂrio meu celeste!Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me Ă terra onde nĂŁo corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…Aqui na vida – que tamanha mĂĄgoa! –
O prĂłprio olhar de Deus encheu-se d’ĂĄgua…
Ă minha mĂŁe, como este mundo Ă© triste!
Uma casa portuguesa
Numa casa portuguesa fica bem
pĂŁo e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se Ă mesa co’a gente.
Fica bem essa fraqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
estĂĄ nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.Quatro paredes caiadas,
um cheirinho a alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços Ă minha espera…
Ă uma casa portuguesa, com certeza!
Ă, com certeza, uma casa portuguesa!No conforto pobrezinho do meu lar,
hĂĄ fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela…
Basta pouco, poucochinho p’ra alegrar
uma existĂ©ncia singela…
Ă sĂł amor, pĂŁo e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tijela.Quatro paredes caiadas,
um cheirinho a alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
O que torna a mulher feliz ou infeliz sĂŁo as pequenas diferenças no modo com que o marido lhe fala â e vice-versa. Uma simples palavra de carinho pode, tal como o Sol, iluminar todo o lar.
Bilhete para o Amigo Ausente
Lembrar teus carinhos induz
a ter existido um pomar
intangĂveis laranjas de luz
laranjas que apetece roubar.Teu luar de ontem na cintura
Ă© ainda o vestido que trago
seda imaterial seda pura
de criança afogada no lago.Os motores que entre nós aceleram
os vazios comboios do sonho
das mulheres que estĂŁo Ă espera
sĂŁo o Ășnico luto que ponho.