A banda de música democratiza a arte e serve aos políticos, democráticos ou não.
Passagens de Carlos Drummond de Andrade
1088 resultadosA comida costuma faltar ou sobrar por motivos alheios ao apetite.
Qualquer Tempo
Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.
Não se fez o recenseamento do Paraíso e do Inferno, para se saber qual o mais povoado.
O endividamento pode ser uma forma de prazer cultivada com obsessão.
Perdi o bonde e a esperança Volto pálido para casa
Não é obrigatório ter motivo para estar alegre; o melhor é dispensá-lo.
Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo.
Não ter opinião costuma ser a mais difícil das opiniões.
Ao tornar-se carta de baralho, e não o baralho inteiro, o rei propicia o advento da República.
O respeito aos mortos não deve abranger o respeito à lei que eles fizeram e que a vida sepultou.
A história dos santos é escrita para mortificar os incapazes de santidade.
O poeta é um mentiroso que acaba dizendo as mais belas verdades.
Quem não acredita em bruxas talvez já se tenha tornado uma delas sem percebê-lo.
Quero
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado,
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?Quero que me repitas até à exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso.
O surrealismo incorpora à consciência a negação da consciência.
Pedir a bênção dos velhos dá-lhes a ilusão de terem poder de abençoar.
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
A literatura não soube ainda compor uma tragédia digna dos acontecimentos da atualidade.
A superioridade do animal sobre o homem está, entre outras coisas, na discrição com que sofre.