Passagens sobre Carros

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Frases sobre carros, poemas sobre carros e outras passagens sobre carros para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Aquilo em que se Tem Mais Vaidade Ă© o Corpo

Aquilo em que se tem mais vaidade Ă© o corpo. Mesmo que aleijado, hĂĄ sempre um pormenor que nos envaidece. CompĂŽ-lo. ArranjĂĄ-lo. O careca puxa o cabelo desde o cachaço ou do olho do cĂș para tapar a degradação. O marreco faz peito. O espelho Ă© para todos o grande dialogante. Passa-se a uma vitrina e olha-se de soslaio a ver como se vai. Uma mulher perfeita (e um homem) nĂŁo inveja o intelectual, o artista. O inverso Ă© que Ă©. Muitas mulheres (e homens) cultivam a excepcionalidade do seu espĂ­rito ou engenho por complexo ou vingança. Quando se nĂŁo tem jĂĄ vaidade no corpo, estĂĄ-se no fim. Mas mesmo num leito de morte nos queremos «compostos». «NĂŁo me descomponhas» — disse a marquesa de TĂĄvora ao carrasco, uns momentos antes de ser decapitada. Tomam-se providĂȘncias para como se hĂĄ-de ir no caixĂŁo. A degradação do corpo Ă© a Ășltima coisa que se aceita. Hoje lavei o carro e vesti um calção para me nĂŁo molhar. Dei uma vista de olhos ao espelho. Grumos, tumefacçÔes pelas pernas. NĂŁo gostei. NĂŁo muito tempo. Lembrou-me um certo professor. Tinha a bossa da oratĂłria. E entĂŁo contava: escrevia um discurso e lia. Parecia-lhe pĂ©ssimo.

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Amor nĂŁo Tem NĂșmero

Se vocĂȘ nĂŁo tomar cuidado vira nĂșmero atĂ© para si mesmo. Porque a partir do instante em que vocĂȘ nasce classificam-no com um nĂșmero. Sua identidade no FĂ©lix Pacheco Ă© um nĂșmero. O registro civil Ă© um nĂșmero. Seu tĂ­tulo de eleitor Ă© um nĂșmero. Profissionalmente falando vocĂȘ tambĂ©m Ă©. Para ser motorista, tem carteira com nĂșmero, e chapa de carro. No Imposto de Renda, o contribuinte Ă© identificado com um nĂșmero. Seu prĂ©dio, seu telefone, seu nĂșmero de apartamento — tudo Ă© nĂșmero.
Se Ă© dos que abrem crediĂĄrio, para eles vocĂȘ Ă© um nĂșmero. Se tem propriedade, tambĂ©m. Se Ă© sĂłcio de um clube tem um nĂșmero. Se Ă© imortal da Academia Brasileira de Letras tem o nĂșmero da cadeira.
É por isso que vou tomar aulas particulares de Matemática. Preciso saber das coisas. Ou aulas de Física. Não estou brincando: vou mesmo tomar aulas de Matemática, preciso saber alguma coisa sobre cálculo integral.
Se vocĂȘ Ă© comerciante, seu alvarĂĄ de localização o classifica tambĂ©m.
Se Ă© contribuinte de qualquer obra de beneficĂȘncia tambĂ©m Ă© solicitado por um nĂșmero. Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negĂłcio recebe um nĂșmero. Para tomar um aviĂŁo,

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A melhor maneira de prender os filhos em casa Ă© fazer do lar um lugar agradĂĄvel – e esvaziar os pneus do carro.

Fado de contas

Eu nĂŁo quero chegar em casa nunca,
a caminho, no abrigo do teu colo,
sonhando… no balanço do automĂłvel,
que nos leva a um destino inalcançåvel.

O tempo påra, o espaço cristaliza-se,
e o carro Ă© lar, e leito, e colo, e beijo…
No ocaso de teu beijo, eu me infinito
e esqueço da procura em que me perco.

De encontro aos vidros, saltam fachos vĂĄrios,
como se objetos de desejos vastos,
onde meus gestos não se satisfaçam.

Aproxima-se o instante em que me apeio,
vai a carruagem, dobra a esquina, e sigo
noctĂ­vago das horas – a teus passos.

Na Auto-Estrada

Ainda posso perceber
Esses miĂșdos nos viadutos
Que atiram pedras aos carros da auto-estrada.
É um gesto eficaz
Que matou alguns caixeiros-viajantes,
E até famílias inteiras,
É pura malvadez
E o mundo precisa de pureza.

Mas como se justificam esses que nos acenam
Com alegria ao passarmos?

Tabacaria

NĂŁo sou nada.
Nunca serei nada.
NĂŁo posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhÔes do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem Ă©, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessĂ­vel a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pĂŽr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lĂșcido, como se estivesse para morrer,
E nĂŁo tivesse mais irmandade com as coisas
SenĂŁo uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.

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Basta, nĂŁo Posso Mais, Mundo Enganoso!

Basta, nĂŁo posso mais, Mundo enganoso!
Findaram para mim teus vĂŁos prazeres.
Envelheci com eles, que mais queres
Deste escravo anciĂŁo, fraco e rugoso?

Se o teu carro triunfal puxei, fogoso,
Quando inda forças tinha, nada esperes
Deste caduco mais: quanto fizeres
Para outra vez servir-te, Ă© duvidoso.

Enquanto nĂŁo pensei, fui encantado:
Bebendo em taças de ouro o teu engano,
Eu fui, por ti, em bruto transformado.

Graças, graças ao santo Desengano,
Que a forma de homem outra vez me hĂĄ dado,
Livrando-me de um mĂĄgico tirano!

Sem dĂșvida OvĂ­dio: NĂŁo Ă© a arte que faz vogar os barcos rĂĄpidos com o auxĂ­lio da vela e do remo? que guia na carreira os carros ligeiros? A arte tambĂ©m deve governar o amor
 NĂŁo abandona em meio caminho tua amante, desfraldando sozinho tuas velas. É lado a lado que se arriba ao porto, quando soa a hora da volĂșpia plena e,vencidos a um sĂł tempo, jazem a mulher e o homem lado a lado. Foge ao medo que apressa, Ă  obra furtiva.

Quem nunca saiu de Lisboa viaja ao infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte.

Elegia

Vae em seis mezes que deixei a minha terra
E tu ficaste lĂĄ, mettida n’uma serra,
Boa velhinha! que eras mais uma criança…
Mas, tĂŁo longe de ti, n’este Payz de França,
Onde mal viste, entĂŁo, que eu viesse parar,
Vejo-te, quanta vez! por esta sala a andar…
Bates. Entreabres de mansinho a minha porta.
VirĂĄs tratar de mim, ainda depois de morta?
Vens de tĂŁo longe! E fazes, sĂł, essa jornada!
Ajuda-te o bordĂŁo que te empresta uma fada.
Altas horas, emquanto o bom coveiro dorme,
Escapas-teĂŁda cova e vens, Bondade enorme!
Atravez do MarĂŁo que a lua-cheia banha,
Atravessas, sorrindo, a mysteriosa Hespanha,
Perguntas ao pastor que anda guardando o gado,
(E as fontes cantam e o cĂ©u Ă© todo estrellado…)
Para que banda fica a França, e elle, a apontar,
Diz: «Vå seguindo sempre a minha estrella, no Ar!»
E ha-de ficar scismando, ao ver-te assim, velhinha,
Que Ă©s tu a Virgem disfarçada em probrezinha…
Mas tu, sorrindo sempre, olhando sempre os céus,
Deixando atraz de ti, os negros Pyrineus,
Sob os quaes rola a humanidade,

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O Dia Segue o Curso Itinerante

I

Assim te amei, amada, assim te amei
de amor tĂŁo grande e puro que secou
no peito meu o rio que corria
submisso e atento para os braços teus.
Nos ermos vales agora percorro
os gestos esquecidos, densas brumas
do rio que fui, o rio que fomos,
largas ĂĄguas seguindo o mar da noite.
Assim te amei o amor maior que pude.
E, mais ainda, a minha vida foi
uma desfeita nau vagando a esmo
o mar do tempo, o mar janeiro, o mar
que perdi. E agora, de ti disperso,
nos desertos de mim, sem fim, caminho.

II

E vou por outras ĂĄguas procurando
o manso pouco, o malvo campo onde
apascentar o rebanho de mĂĄgoas,
o carro de afectos que mantenho
guardados no denso peito, tangidos
pelo vento no dorso do horizonte.
Largos desertos! abrandai a pena
sem fim que me domina! Alvos lĂ­rios,
rosas, boninas, nardos e outras flores!
Vinde ao menos cobrir-me a branda fronte
de pĂșrpura, de orvalho e calmaria.
Eis que me vou por este vasto mar
de afagos e carĂ­cias inconstantes,

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CĂąntico de Humanidade

Hinos aos deuses, nĂŁo.
Os homens Ă© que merecem
Que se lhes cante a virtude.
Bichos que lavram no chĂŁo,
Actuam como parecem,
Sem um disfarce que os mude.

Apenas se os deuses querem
Ser homens, nĂłs os cantemos.
E Ă  soga do mesmo carro,
Com os aguilhÔes que nos ferem,
Nós também lhes demonstremos
Que sĂŁo mortais e de barro.

Tratem seu corpo como se fosse o Ășnico carro que terĂŁo. Mimem esse carro. Guardem-no na garagem todas as noites, consertem todos os amassados e troquem o Ăłleo todas as semanas.

Ciganos em Viagem

A tribo que prevĂȘ a sina dos viventes
Levantou arraiais hoje de madrugada;
Nos carros, as mulher’, c’o a torva filharada
Às costas ou sugando os mamilos pendentes;

Ao lado dos carrÔes, na pedregosa estrada,
Vão os homens a pé, com armas reluzentes,
Erguendo para o céu uns olhos indolentes
Onde jĂĄ fulgurou muita ilusĂŁo amada.

Na buraca onde estĂĄ encurralado, o grilo,
Quando os sente passar, redobra o meigo trilo;
Cibela, com amor, traja um verde mais puro,

Faz da rocha um caudal, e um vergel do deserto,
Para assim receber esses p’ra quem ‘stĂĄ aberto
O império familiar das trevas do futuro!

Tradução de Delfim Guimarães

Sofro, LĂ­dia, do Medo do Destino

Sofro, LĂ­dia, do medo do destino.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.

Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar

Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.

HĂĄ Muitas ReligiĂ”es, Mas o EspĂ­rito Ă© Único

– Que religiĂŁo Ă© a tua? – perguntou um homem de certa idade, que estava num extremo da balsa, junto do seu carro.
– NĂŁo tenho nenhuma religiĂŁo. Porque nĂŁo creio em ninguĂ©m mais do que em mim mesmo – replicou o velho com ar resoluto.
– Como pode uma pessoa crer em si mesma ? Pode enganar-se – objectou Nekliudov, intervindo na conversa.
– Nunca! – exclamou o velho abanando a cabeça.
– Porque hĂĄ entĂŁo diferentes religiĂ”es ?- interrogou Nekliudov.
– Porque as pessoas crĂȘem precisamente nessas religiĂ”es e nĂŁo crĂȘem em si mesmas. TambĂ©m eu acreditei nos outros e perdi-me como numa floresta. Estava tĂŁo confuso que julguei nĂŁo poder mais encontrar o caminho. Conheci mĂșltiplas religiĂ”es diferentes. Todas se louvam a si mesmas. Todas se foram propagando, tal como uns carneiros cegos arrastam outros consigo. HĂĄ muitas religiĂ”es, mas o espĂ­rito Ă© Ășnico. É o mesmo em ti, em vĂłs e em mim. Assim, pois, cada um de nĂłs tem de acreditar no seu espĂ­rito, e deste modo todos estamos unidos.

O esforço para ajudar o próximo a subir na vida é o mais nobre ato de amor. Se encontrares alguém empurrando um carro com dificuldade, ajuda-o. Ajuda cada pessoa que encontrares, a fim de que ela possa se elevar um degrau que seja. Assim, tua alma também se elevarå com a ajuda de todos.

Genérico

E tu, meu pai? Adivinho esses vidrilhos
das lĂĄgrimas quebrando
um a um na boca triste mas
por dentro, para que digamos
mais tarde, sem invenção escusada:
o pai nĂŁo chorou.

Eu soube das tuas fĂșrias
mordendo-se em silĂȘncio,
ou de como te pÔes
Ă s vezes tĂŁo de cinza.
O barco, o barco. Ficaremos
ainda estes minutos quantos.
Do que quiseres. E como quiseres.
Fala. Mas nada de telegramas
para depois da barra
– posso nĂŁo os abrir,
juro que posso.
Se eu fosse um amigo, se estivesses
em frente dum copo.
Custava menos. Assim
deslizas a unha
pelo tecido da farda, inĂștil
dedo terno com os olhos longe.
O pai, que nĂŁo chorou, tremia
de modo imperceptĂ­vel.

Lembro-me da bebedeira
em Alpedrinha, na estalagem,
com o LuĂ­s Melo
subitamente velho.
«Tramados, på, tramados.»
O carro falha, sĂŁo as velas
os platinados sujos
«a puta que os pariu» (Luís).

Um Ășltimo aceno sĂł vinho
para estas adolescentes
ao balcĂŁo do bar e depois e depois?

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