Passagens de Castro Alves

43 resultados
Frases, pensamentos e outras passagens de Castro Alves para ler e compartilhar. Os melhores escritores estão em Poetris.

O livro – esse audaz guerreiro
que conquista o mundo inteiro
sem nunca ter Waterloo…

3A Sombra – Ester

Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!
Enrola-te na longa cachemira,
Como as judias moles do Levante,

Alva a clâmide aos ventos – roçagante…
Túmido o lábio, onde o saltério gira…
Ó musa de Israel! pega da lira…
Canta os martírios de teu povo errante!

Mas não… brisa da pátria além revoa,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir… e parte… e voa. . .

Qual nas algas marinhas desce um astro…
Linda Ester! teu perfil se esvai… s’escoa…
Só me resta um perfume… um canto… um rastro…

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder,
Hoje… cúmulo de maldade,
Nem são livres pra morrer…

Tem o povo – mar violento
Por armas – o pensamento,
A verdade por farol
E o homem, vaga que nasce
No oceano popular,
Tem que impelir os espíritos,
Tem uma plaga a buscar.

Oh! por isso, Maria, vês me curvo
Na face do presente escuro e turvo
E interrogo o porvir;
Ou levantando a voz por sobre os montes,
‘Liberdade’ pergunto aos horizontes,
‘Quando enfim hás de vir?’

Aqui, Onde O Talento Verdadeiro

Aqui, onde o talento verdadeiro
Não nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no público respeito
Se conquista o brasão mais lisonjeiro.

Aqui onde o gênio sobranceiro
E, de torpes calúnias, ao efeito,
Jesuína, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!

Repara como o povo te festeja…
Vê como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mão, que, oculta, te apedreja!

Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif’rente ao regougar da inveja,
“Das almas grandes a nobreza é esta.”

Não calqueis o povo-rei!
Que este mar d’almas e peitos,
Com vagas de seus direitos,
Virá partir-vos a lei.

O livro caindo na alma,
é germe que faz a palma,
é chuva que faz o mar.

Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É pois teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?
E que é que fiz, Senhor?
que torpe crime
Eu cometi jamais, que assim me oprime
Teu gladio vingador?

E bradei: ‘Meu canto, voa,
Terra ao longe! terra à proa!
Vejo a terra do porvir!

4A Sombra – Fabíola

Como teu riso dói… como na treva
Os lêmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pássaro maldito,
Que em sânie de cadáveres se ceva!

Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito…
Fabíola!… É teu nome!… Escuta é um grito,
Que lacerante para os céus s’eleva!…

E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores…

É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue é meu sangue… é meu… Desgraça!

Toda noite – tem auroras,
Raios – toda escuridão,
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redenção.

Na hora em que a terra dorme enrolada em frios véus, eu ouço uma reza enorme enchendo o abismo dos céus

Eu já não tenho mais vida! Tu já não tens mais amor! Tu só vives para o riso, eu só vivo para dor.

8A Sombra – Último Fantasma

Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada…
Sobre as névoas te libras vaporoso …

Baixas do céu num vôo harmonioso!…
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso! …

Onde nos vimos nós? És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?

Quem és tu? Quem és tu? – És minha sorte!
És talvez o ideal que est’alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!

Ó pátria desperta
Não curves a fronte
Que enxuga-te os prantos o Sol do Equador.
Não miras na fímbria do vasto horizonte
A luz da alvorada de um dia melhor.