O que um príncipe aprende melhor é a equitação, porque o seu cavalo não o lisonjeia.
Passagens sobre Cavalos
201 resultadosNapoleão é o espírito do mundo a cavalo.
Não seria bom se todos nós pensássemos da mesma forma. É a diferença de opinião que promove as corridas de cavalo.
Cavalo molão, feitor de ladrão.
Dos Restos de Velhos Tempos
Para exemplo ainda continua a Lua
Nas noites por sobre os novos edifícios;
Entre as coisas de cobre
É ela
A mais inutilizável. Já
As mães contam de animais,
Chamados cavalos, que puxavam carros.
E verdade que quando se fala de continentes
Já não são capazes de acertar com os nomes:
Pelas grandes antenas novas
Já dos velhos tempos
Se não conhece nada.Tradução de Paulo Quintela
O Natal de Minha Mãe
A abstracção não precisa de mãe nem pai
nem tão pouco de tão tolo infantemas o natal de minha mãe é ainda o meu natal
com restos de Beira Altaano após ano via surgir figura nova nesse
presépio de vaca burro banda de músicaribeiro com patos farrapos de algodão muito
musgo percorrido por ovelhas e pastoresmultidão de gente judaizante estremenha pela
mão de meu pai descendo de montes contandomoedas azenhas movendo água levada pela estrela
de Belémum galo bate as asas um frade está de acordo
com a nossa circuncisão galinhas debicam milhode mistura com um porco a que minha avó juntava
sempre um gato para dar sorte era pretoassim íamos todos naquela figuração animada
até ao dia de Reis aí estãoum de joelhos outro em pé
e o rei preto vinha sentado nocamelo. Era o mais bonito.
depois eram filhoses o acordar de prenda nosapato tudo tão real como o abrir das lojas no dia
de feirae eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima que
tinha um cavalo debaixo do quartosubindo de vales descendo de montes
acompanhando a banda do carvalhal com ferrinhose roucas trompas o meu Natal é ainda o Natal de
minha mãe com uns restos de canela e Beira Alta.
O Mundo que eu Venci Deu-me um Amor
O mundo que eu venci deu-me um amor,
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo.
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória…
Cacida da Mulher Estendida
Despida ver-te é recordar a terra.
A terra lisa, limpa de cavalos.
A terra sem um junco, forma pura
ao futuro cerrada: argêntea fímbria.Despida ver-te é compreender a ânsia
da chuva que procura débil talhe,
ou a febre do mar de imenso rosto
sem a luz encontrar de sua face.O sangue soará pelas alcovas
e virá com espada fulgurante,
mas tu não saberás onde se oculta
o coração de sapo ou a violeta.Teu ventre é uma luta de raízes,
teus lábios, uma aurora sem contorno,
por sob as rosas tépidas da cama
os mortos gemem esperando vez.Tradução de Oscar Mendes
A Formação como Homem
Nos dias melhores, permitia-se acreditar que, se ela deixava as portas abertas entre as salas públicas e privadas, era sobretudo por causa dele. Mas, detectada a sua presença, tudo nos gestos dela passava a ser ponderado em função de o deixar de fora daquela intimidade.
De resto, sempre que ouvia os movimentos de Luísa no jardim, saía-lhe ao caminho com uma desculpa qualquer. Uns dias estava nervosa, resplandecente, elegante como um cavalo de corrida. Outros estava triste e silenciosa. E, contudo, era como se as coisas continuassem a ganhar vida à sua passagem. As coisas e ele próprio, sonhando em plena meia-idade, como se ainda não fosse demasiado tarde para concluir a sua formação como homem.
O Coração
Que jogo jogas, comédia ou lágrima? Cor
suspensa. Prodígio doendo. Enganador
relâmpago. Donde se enreda esta coragem
que chora ao riso e ri à dor? Quatro sãoas pedras mestras do teu jogo. Dois cavalos
e os reis. Melancólicos actores. Vazia, a
plateia. O tempo ferido. O peão fugitivo.
A emoção real do presságio. O acenocordial do outro lado do jogo. Inscrição
única do pólen, jogada que se arrasta.
Gota de tédio na lonjura das casas.O fecho do jogo se conclui. Muda o rosto a
visão possível. Cordato, o lance destrói
a memória do que já não vejo ou sei.
Cavalo galgaz corre à carreira.
Humilhações
Esta aborrece quem é pobre. Eu, quase Jó,
Aceito os seus desdéns, seus ódios idolatro-os;
E espero-a nos salões dos principais teatros,
Todas as noites, ignorado e só.Lá cansa-me o ranger da seda, a orquestra, o gás;
As damas, ao chegar, gemem nos espartilhos,
E enquanto vão passando as cortesãs e os brilhos,
Eu analiso as peças no cartaz.Na representação dum drama de Feuillet,
Eu aguardava, junto à porta, na penumbra,
Quando a mulher nervosa e vã que me deslumbra
Saltou soberba o estribo do coupé.Como ela marcha! Lembra um magnetizador.
Roçavam no veludo as guarnições das rendas;
E, muito embora tu, burguês, me não entendas,
Fiquei batendo os dentes de terror.Sim! Porque não podia abandoná-la em paz!
Ó minha pobre bolsa, amortalhou-se a idéia
De vê-la aproximar, sentado na platéia,
De tê-la num binóculo mordaz!Eu ocultava o fraque usado nos botões;
Cada contratador dizia em voz rouquenha:
— Quem compra algum bilhete ou vende alguma senha?
E ouviam-se cá fora as ovações.Que desvanecimento!
O orgulhoso sente despeito mesmo quando o levam para diante: olha maldosamente para os cavalos da sua carruagem.
A Importância de uma Resolução Forte
Uma resolução forte muda no mesmo instante a maior infelicidade num estado suportável. À tarde, depois de uma batalha perdida, um homem foge a toda a velocidade, num cavalo meio-morto; ouve distintamente o galope do grupo de cavaleiros, volta a carregar a carabina e as pistolas, e toma a resolução de se defender. No mesmo instante, em vez de ver a morte, vê a cruz da legião de Honra.
Em velocidade, o homem perde para o cavalo; em força, perde para o elefante; em agilidade, perde para a pantera. O valor do homem não está apenas no volume do trabalho executado.
Tive um Cavalo de Cartão
Mulher. A tua pele branca foi um verão que quis viver e me foi negado. Um caminho que não me enganou. Enganou-me a luz e os olhos foscos das manhãs revividas. Enganou-me um sonho de poder ser o filho que fui, a correr pelos campos todo o dia, a medir as searas pelo tamanho dos braços abertos; enganou-me um sonho de poder ser o filho que fui no teu homem e no teu rosto, no teu filho, nosso. Não há manhãs para reviver, sei-o hoje. Não se podem construir dias novos sobre manhãs que se recordam. Inventei-te talvez, partindo de uma estrela como todas estas. Quis ter uma estrela e dar-lhe as manhãs de julho. As grandes manhãs de julho diante de casa e a minha mãe a acabar o almoço bom e o meu pai a chegar e a ralhar, sem ser a sério, por o almoço não estar pronto e eu sentado na terra, talvez a fazer um barroco, talvez a brincar com o cavalo de cartão. Tive um cavalo de cartão. Nunca te contei, pouco te contei, mas tive um cavalo de cartão. Brincava com ele e era bonito. Gostava muito dele. Tanto. Tanto. Tanto. Quando o meu pai mo trouxe,
Uma Cidade
Uma cidade pode ser
apenas um rio, uma torre, uma rua
com varandas de sal e gerânios
de espuma. Pode
ser um cacho
de uvas numa garrafa, uma bandeira
azul e branca, um cavalo
de crinas de algodão, esporas
de água e flancos
de granito.
Uma cidade
pode ser o nome
dum país, dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas
na areia. E pode
ser
um arco-íris à janela, um manjerico
de sol, um beijo
de magnólias
ao crepúsculo, um balão
acesonuma noite
de junho.Uma cidade pode ser
um coração,
um punho.
Fábrica
Oh, a poesia de tudo o que é geométrico
e perfeito,
a beleza nova dos maquinismos,
a força secreta das peças
sob o contacto liso e frio dos metais,
a segura confiançado saber-se que é assim e assim exactamente,
sem lugar a enganos,
tudo matemático e harmónico,
sem nenhum imprevisto, sem nenhuma aventura,
como na cabeça do engenheiro.
Os operários têm nos músculos, de cor,
os movimentos dia a dia repetidos:é como se fossem da sua natureza,
longe de toda a vontade e de todo o pensamento;como se os metais fossem carne do corpo
e as veias se abrissem
àquela vida estranha, dura, implacável
das máquinas.Os motores de tantos mil cavalos
alinhados e seguros de si,
seguros do seu poder;as articulações subtis das bielas,
o enlace justo das engrenagens:
a fábrica, todo um imenso corpo de movimentos
concordantes, dependentes, necessários.
Todos Somos Escravos
Não há razão, caro Lucílio, para só buscares amigos no foro ou no senado: se olhares com atenção encontrá-los-ás em tua casa. Muitas vezes um bom material permanece inutilizado por falta de quem o trabalhe. Tenta, pois, e vê o resultado. Tal como é estupidez comprar um cavalo inspeccionando, não o animal, mas sim a sela e o freio, assim é o cúmulo da estupidez julgar um homem pela roupa ou pela condição social, que, de resto, é tão exterior a nós como a roupa. «É um escravo». Mas pode ter alma de homem livre. «É um escravo». Mas em que é que isso o diminui? Aponta-me alguém que o não seja: este é escravo da sensualidade, aquele da avareza, aquele outro da ambição, todos são escravos da esperança, todos o são do medo.
Posso mostrar-te um antigo cônsul sujeito ao mando de uma velhota, um ricalhaço submetido a uma criadita, posso apontar-te jovens filhos de nobilíssimas famílias que se fazem escravos de bailarinos: nenhuma servidão é mais degradante do que a voluntariamente assumida. Aí tens a razão por que não deves deixar que os nossos tolos te impeçam de seres agradável para com os teus escravos, em vez de os tratares com altiva superioridade.
Cavalo grande, besta de pau.