Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar uma compensação. É tudo uma questão de mercado.
Passagens de Cesare Pavese
132 resultadosAgimos Sempre no Sentido do Destino
No fundo, a sabedoria do destino é a nossa própria. Porque a acompanhamos com uma consciência incessante daquilo que, no fundo, nos é permitido fazer. Podemos estar sujeitos a algumas tentações mas nunca nos enganamos. Agimos sempre no sentido do destino. As duas coisas formam uma só.
Quem se engana é porque ainda não compreende o seu destino. Quer dizer, não compreende qual a resultante de todo o seu passado – o qual lhe indica o futuro. Mas quer o compreenda ou não, indica-lho à mesma. Cada vida é aquilo que devia ser.
Não se deseja possuir uma mulher, deseja-se ser o único a possuí-la.
Os suicídios são homicídios tímidos. Masoquismo em vez de sadismo.
O Castigo do Egoísta
Quem não sabe viver com caridade e abraçar a dor dos outros, tem como castigo sentir com violência intolerável a dor própria. A dor só pode suportar-se tornando-a comum e compartilhando-a com os outros que sofrem. O castigo do egoísta está em só disso se aperceber sob a férula (castigo), tentando em vão aprender a caridade, por interesse.
A ofensa mais atroz que se pode fazer a um homem é negar-lhe que sofra.
O que não se soube fazer com a força virgem dos vinte e cinco anos, como é possível fazê-lo com as taras dos trinta?
Devemos casar com mulheres que não sejam de confiança no casamento.
A um homem que sofre, tratamo-lo como a um bêbedo. «Vá, vamos lá, basta, reage, assim não, basta…».
Nunca falta a ninguém uma boa razão para suicidar-se.
A mulher gosta de saber despertar o desejo no homem, mas fica horrorizada se lhe reconhecem essa capacidade.
As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas. Relembrar uma coisa significa vê-la – apenas agora – pela primeira vez.
As Desvantagens das Nossas Paixões
Quanto mais um homem se emaranha numa paixão, tanto mais os acontecimentos, em si indiferentes, se traduzem para ele em dor, enganando justamente, pela sua indiferença, a avidez tensa em que esse homem se encontra. Um ambicioso sofrerá porque uma pessoa célebre não lhe reconheceu importância; essa mesma pessoa célebre tentará insuflar escrúpulos de tentação a algum evangélico de quem procurará a conversação; escrúpulos que, por sua vez, irritarão um individualista, que será atingido por eles, malgrado seu. A inveja, ambição ruminada, está na base de todas as angústias que sofremos. Não toleramos que uma coisa aconteça indiferentemente, por acaso, escapando à nossa chancela.
Qualquer género de fervor acarreta consigo a tendência para sentir uma lei preestabelecida na vida, uma lei que castiga os que abusam ou descuram esse mesmo fervor. Um estado de paixão – mesmo que fosse a embriaguez da absoluta autodeterminação – organiza e anima de tal forma o Universo que toda a desgraça, parece, depois, provocada por uma ruptura do equilíbrio vital dessa paixão difusa, que, assim, se defende como um corpo vivo. E, segundo o temperamento de cada um, teremos a sensação de que abusámos, ou de que fomos inferiores; de qualquer forma, sentir-nos-emos organicamente punidos pela própria lei da paixão e do Universo.
Vingarmo-nos de um mal de que fomos vítimas é privarmo-nos do conforto de gritarmos contra a injustiça.
Dá-se a esmola para tirar da frente o miserável que a pede.
É concebível que se mate uma pessoa para contarmos na vida dela? Então, é admissível que nos matemos para contar na nossa própria vida.
Fazer-se amar por piedade, quando o amor nasce apenas da admiração, é uma ideia muito digna de lástima.
Ou polícias ou delinquentes.
A verdadeira solidão, isto é, aquela que faz sofrer, traz consigo o desejo de matar.
O Instinto Trabalhado
Só pode inspirar a acção, servir de credo, o pensamento que se tenha tornado maquinal, instintivo. Perigo de nos analisarmos demasiadamente: as veias vivas do temperamento ficam, dessa maneira, excessivamente dilucidadas e tornadas maquinais, devido à familiaridade. O que é preciso, pelo contrário, é a arte de dar livre curso aos impulsos espirituais, deixando-os agir, mecanicamente, sob o estímulo. Há o manual do catecismo – por de mais conhecido e postiço – e o maquinal do instinto. É preciso favorecer, explorar, reconhecer e apoiar o instinto, sem lhe roubar o vigor por meio da reflexão. Mas é preciso reflectir nele, para o acompanhar na acção e substituí-lo nos momentos de surdez.