Experimenta fazer bem a alguém. Passado um pouco, verás como odeias aquela face contrita e radiosa.
Passagens de Cesare Pavese
132 resultadosExiste algo mais triste do que envelhecer: permanecer criança.
Cultura Ofuscada
Não é que, no nosso tempo, o representante da cultura seja menos escutado do que no passado o eram o teólogo, o artista, o sábio, o filósofo, etc. É que, actualmente, tem-se consciência da massa que vive de mera propaganda. Também no passado, as massas viviam de má propaganda, mas, então, sendo a cultura elementar menos difundida, essa massa não imitava as pessoas verdadeiramente cultas e, portanto, não fazia surgir o problema de saber se estava mais ou menos em concorrência com essas pessoas cultas.
É pecado o que inflige remorsos.
Todo o crítico é exactamente como uma mulher na idade crítica: rancoroso e reprimido.
Porque é desaconselhável perder a cabeça? Porque, então, se é sincero.
A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida.
O louco tem inimigos. O sonhador tem-se apenas a si próprio.
Chega uma época em que nos damos conta de que tudo o que fazemos se transformará em lembrança um dia. É a maturidade. Para alcançá-la, é preciso justamente já ter lembranças.
A Única Alegria Neste Mundo é a de Começar
A única alegria neste mundo é a de começar. É belo viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante. Quando esta sensação desapaece – prisão, doença, hábito, estupidez – deseja-se morrer.
É por isso que quando uma situação dolorosa se reproduz de modo idêntico – parece idêntica – nada apaga o horror que tal coisa nos provoca.
O princípio acima enunciado não é, portanto, próprio de um viveur. Porque há mais hábito na experiência a todo o custo (cfr, o antipático «viajar a todo o custo») do que na charneira normal aceite com o sentido do dever e vivida com entusiasmo e inteligência. Estou convencido de que há mais hábito nas aventuras de do que num bom casamento.
Porque o próprio da aventura é conservar uma reserva mental de defesa; é por isso que não existem boas aventuras. Só é boa aventura aquela em que nos abandonamos: o matrimónio, em suma, talvez até aqueles que são feitos no céu.
Quem não sente o perene recomeçar que vivifica a existência normal de um casal é, no fundo, um parvo que, por mais que diga, não sente, sequer, um verdadeiro recomeçar em cada aventura.
A lição é sempre a mesma: atirarmo-nos para a frente e saber suportar o castigo.
É fácil ser-se bom quando se está apaixonado.
Todas as paixões passam e se apagam, excepto as mais antigas, aquelas da infância.
A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um acto de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.
As desgraças não bastam para fazer de um cretino uma pessoa inteligente.
Em geral, quem não sabe dar um sentido à própria vida dispõe-se por profissão a sacrificar-se.
Não se deseja gozar. Deseja-se experimentar a vaidade de um prazer, para não se continuar obcecado por ele.
Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada.
Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.
Uma coisa desagradável, se formos nós que a escolhemos, pode ser até um conforto, ao passo que, se for imposta por outrem, é toda sofrimento.
O fascínio subtil das convalescenças consiste no seguinte: regressar aos velhos hábitos com a ilusão de os descobrir.