Passagens sobre Choro

133 resultados
Frases sobre choro, poemas sobre choro e outras passagens sobre choro para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Doces Despojos de meu Bem Passado

Amor, co’a esperança já perdida
Teu soberano templo visitei;
Por sinal do naufrágio que passei,
Em lugar dos vestidos, pus a vida.

Que mais queres de mim, pois destruĂ­da
Me tens a glĂłria toda que alcancei?
NĂŁo cuides de render-me, que nĂŁo sei
Tornar a entrar onde não há saída.

Vês aqui vida, alma e esperança,
Doces despojos de meu bem passado,
Enquanto o quis aquela que eu adoro.

Nelas podes tomar de mim vingança;
E se te queres ainda mais vingado,
Contenta-te co’as lágrimas que choro.

O Que Eu Sou

Nocturna e dubia luz
Meu sĂŞr esboça e tudo quanto existe…
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste…

Sou o espirito triste que murmura
Neste silencio lĂşgubre das Cousas…
Eu Ă© que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu AmĂ´r,
És o Sêr vivo, o Sêr Espiritual,
A Presença radiosa…
Eu sou a DĂ´r,
Sou a tragica Ausencia glacial…

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu já nĂŁo vivo em ti…
Mas quem morreu?
Fôste tu que baixaste á fria cova?
Oh, nĂŁo! Fui eu! Fui eu!

Horrivel cataclismo e negra sorte!
Tu fĂ´ste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver apoz a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o logar
Da minha espiritual, futura imagem…
E viverei á luz daquele olhar,
Divino sol de mistica Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,

Continue lendo…

Jatir E Coema

JATIR

Desprezo-te, Coema, a velha usança
Que entre nĂłs se pratica… desprezaste:
O bem-vindo estrangeiro abandonaste
Que em mole rede o corpo seu descansa.

Desprezo-te, Coema, bem criança
Em meus braços de ferro te criaste
E neles sempre firme abrigo achaste
Mas pede a tua ação pronta vingança.

COEMA

Senhor das matas, meu Jatir valente,
Tu desconheces este amor ardente,
Choro embalde a teus pés mísera louca!

Afoga-me em teus braços musculosos.
Antes isso, que os beijos asquerosos
Do bem-vindo estrangeiro em minha boca!

Filtro

Meu Amor, nĂŁo Ă© nada: – Sons marinhos
Numa concha vazia, choro errante…
Ah, olhos que nĂŁo choram! Pobrezinhos…
Não há luz neste mundo que os levante!

Eu andarei por ti os maus caminhos
E as minhas mĂŁos, abertas a diamante,
HĂŁo de crucificar-se nos espinhos
Quando o meu peito for o teu mirante!

Para que corpos vis te nĂŁo desejem,
Hei de dar-te o meu corpo, e a boca minha
Pra que bocas impuras te nĂŁo beijem!

Como quem roça um lago que sonhou,
Minhas cansadas asas de andorinha
HĂŁo-de prender-te todo num sĂł vĂ´o…

Não Choro pela Pátria

Não choro pela pátria Ninguém chora pela pátria
Retém-se o grito que lavra pelo corpo
sulcos sangrentos e o faz sentir em si a pele
que se separa e se encolhe ante a violĂŞncia
da dispersĂŁo comum e do falso fulgor
que encobre a irreparável divisão
de se ter perdido o universo e a viva comunidade
Onde estĂŁo aqueles que poderiam metamorfosear
a indigência da separação real
abrindo um espaço de respiração solar
e reunir num todo os que conhecem a sua solidĂŁo
e os que nem sequer sentem a vertigem de a nada pertencerem
senão à negação que se afirma em lugar da integridade viva?

Antre Tremor e Desejo

Antre tremor e desejo,
Vã espernça e vã dor,
Antre amor e desamor,
Meu triste coração vejo.

Nestes extremos cativo
Ando sem fazer mudança,
E já vivi d’esperança
E agora vivo de choro vivo.
Contra mi mesmo pelejo,
Vem d’ua dor outra dor
E d’um desejo maior
Nasce outro mor desejo.

Clarisse

“NĂŁo sei o que Ă© tristeza,” ela me disse…
E a sua boca virginal sorria:
Ninho de estrelas, concha de ambrosia
Cheia de rosas que do Céu caísse!

E eu docemente murmurei: Clarisse,
Será possĂ­vel que tu’alma fria
Ouvindo o choro da Melancolia
O ressábio do fel nunca sentisse?

Será possível que o teu seio, rosa,
Nunca embalasse a lágrima formosa?
Ah! não és rosa, pois não tens espinho!

E os olhos teus, dois templos de esperança,
Nunca viram sofrer uma criança,
Nunca viram morrer um passarinho!

Soneto

N’augusta solidĂŁo dos cemitĂ©rios,
Resvalando nas sombras dos ciprestes,
Passam meus sonhos sepultados nestes
Brancos sepulcros, pálidos, funéreos.

São minhas crenças divinais, ardentes
– Alvos fantasmas pelos merencĂłrios
TĂşmulos tristes, soturnais, silentes,
Hoje rolando nos umbrais marmĂłreos.

Quando da vida, no eternal soluço,
Eu choro e gemo e triste me debruço
Na lájea fria dos meus sonhos pulcros.

Desliza entĂŁo a lĂşgubre coorte,
E rompe a orquestra sepulcral da morte,
Quebrando a paz suprema dos sepulcros.

Coitado! que em um tempo choro e rio

Coitado! que em um tempo choro e rio;
Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e entristeço;
Du~a cousa confio e desconfio.

Voo sem asas; estou cego e guio;
E no que valho mais menos mereço.
Calo e dou vozes, falo e emudeço,
Nada me contradiz, e eu aporfio.

Queria, se ser pudesse, o impossĂ­vel;
Queria poder mudar-me e estar quedo;
Usar de liberdade e estar cativo;

Queria que visto fosse e invisĂ­vel;
Queira desenredar-me e mais me enredo:
Tais os extremos em que triste vivo!

LXXXI

Junto desta corrente contemplando
Na triste falta estou de um bem que adoro;
Aqui entre estas lágrimas, que choro,
Vou a minha saudade alimentando.

Do fundo para ouvir-me vem chegando
Das claras hamadrĂ­ades o coro;
E desta fonte ao murmurar sonoro,
Parece, que o meu mal estĂŁo chorando.

Mas que peito há de haver tão desabrido,
Que fuja Ă  minha dor! que serra, ou monte
Deixará de abalar-se a meu gemido!

Igual caso nĂŁo temo, que se conte;
Se até deste penhasco endurecido
O meu pranto brotar fez uma fonte.

Os Amantes

Amor, Ă© falso o que dizes;
Teu bom rosto Ă© contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;

O teu meu Ă© mel azedo,
NĂŁo creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vĂŁo rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.

Teus prémios são pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.

Fartei-te assaz a vontade;
Em vĂŁos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?

És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.

Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui nĂŁo tiras nada.

Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;

Continue lendo…

O tempo acaba o ano, o mĂŞs e a hora

O tempo acaba o ano, o mĂŞs e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidĂŁo, qualquer dureza;
Mas nĂŁo pode acabar minha tristeza,
Enquanto nĂŁo quiserdes vĂłs, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Saudade

Tu és o cálix;
Eu, o orvalho!
Se me nĂŁo vales,
Eu o que valho?

Eu se em ti caio
E me acolheste
Torno-me um raio
De luz celeste!

Tu és o collo
Onde me embalo,
E acho consolo,
Mimo e regalo:

A folha curva
Que se aljofara,
NĂŁo d’agoa turva,
Mas d’agoa clara!

Quando me passa
Essa existencia,
Que é toda graça,
Toda innocencia,

Além da raia
D’este horizonte—
Sem uma faia,
Sem uma fonte;

O passarinho
NĂŁo se consome
Mais no seu ninho
De frio e fome,

Se ella se ausenta,
A boa amiga,
Ah! que o sustenta
E que o abriga!

Sinto umas magoas
Que se confundem
Com as que as agoas
Do mar infundem!

E quem um dia
Passou os mares
É que avalia
Esses pezares!

Só quem lá anda
Sem achar onde
Sequer expanda
A dĂ´r que esconde;

Longe do berço,

Continue lendo…

Soneto

Senhora, eu trajo o luto do passado,
Este luto sem fim que é o meu Calvário
E anseio e choro, delirante e vário,
Sonâmbulo da dor angustiado.

Quantas venturas que me acalentaram!
Mau peito, tĂşm’lo do prazer finado,
Foi outrora do riso abençoado,
O berço onde as venturas se embalaram.

Mas nĂŁo queiras saber nunca, risonha,
O mistĂ©rio d’um peito que estertora
E o segredo d’um’alma que nĂŁo sonha!

NĂŁo, nĂŁo busques saber por que, Senhora,
É minha sina perenal, tristonha
– Cantar o Ocaso quando surge a Aurora.

Rimas

Ontem – quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixĂŁo – louca – suprema
E no teu lábio, essa rósea algema,
A minha vida – gĂ©lida – prendias…

Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema…
Como engastar tua alma num poema?
E eu nĂŁo chorava quando tu te rias…

Hoje, que vivo desse amor ansioso
E Ă©s minha – Ă©s minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste sendo tĂŁo ditoso!

E tremo e choro – pressentindo – forte,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida – que Ă© a morte…

Fogo-Fátuo

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espĂ­rito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De idéias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando Ă  vista:

Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que não há na vida!

Soneto XXX

Quando Ă s vezes a mi, por mi pergunto,
Quem fui responde que me nĂŁo conhece
Com nĂŁo ser, de quem sou me desconhece,
E tem-me por defunto, o já defunto.

Ele chora-me a mi, por ele ajunto
Com ele minhas lágrimas, e crece
Ua com outra dor, pois se oferece
Chorar quem já fui, e quem sou, junto.

Choro porque o nĂŁo vejo qual o via,
Ele porque me vĂŞ, qual me vĂŞ chora,
De mim, e dele, só lágrimas há.

Espero por um dia, cada dia,
Que ou acabe de ser quem sou agora,
Ou acabe o lembrar-me quem fui já.

A MĂŁo que a Seu Amigo Hesita em Dar-se

Perguntaste se eu amo o meu amigo?
como rompendo um demorado açude
na tua voz quis hausto que transmude
todo o cristal dos Ă­mpetos consigo

Neste meu choro enevoado abrigo
pĂ´s-me a palavra o peito em alaĂşde
que uma doce pergunta tua ajude
no sim furtivo que eu levei comigo

Mas a meu lábio lento em confessar-se
um mestre inda melhor o cunharia
A mĂŁo que a seu amigo hesita em dar-se

ele a tomou o que mais firme a guia
para que ao coração secreto amando
ao mundo todo em rimas o vá dando.

Tradução de Vasco Graça Moura

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida…

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago…
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim…

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

IV

Sou pastor; nĂŁo te nego; os meus montados
SĂŁo esses, que aĂ­ vĂŞs; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;

Ali me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer deles o seu estrago sente;
Como eu sinto também os meus cuidados.

VĂłs, Ăł troncos, (lhes digo) que algum dia
Firmes vos contemplastes, e seguros
Nos braços de uma bela companhia;

Consolai-vos comigo, Ăł troncos duros;
Que eu alegre algum tempo assim me via;
E hoje os tratos de Amor choro perjuros.