Gosto das Belas Coisas Claras e Simples
Para quĂȘ alcançar os astros?! Para quĂȘ?! Para os desfolhar, por exemplo, como grandes flores de luz! VĂȘ-los, vĂȘ-os toda a gente. De que serve entĂŁo ser poeta se se Ă© igual Ă outra gente toda, ao rebanho?… Eu nĂŁo peço Ă Vida nada que ela me nĂŁo tivesse prometido, e detesto-a e desdenho-a porque nĂŁo soube cumprir nem uma das suas promessas em que, ingenuamente, acreditei, porque me mentiu, porque me traiu sempre. Mas nĂŁo choro, nĂŁo, como os portugueses chorĂ”es, nĂŁo tenho nada de JereÂmias, pareço-me antes com Job, revoltado, gritando imprecaÂçÔes no seu monte de estrume. NĂŁo gosto de lĂĄgrimas, de fados nem de guitarras, gosto das belas coisas claras e simÂples, das grandes ternuras perfeitas, das doces compreensĂ”es silenciosas, gosto de tudo, enfim, onde encontro um pouco de Beleza e de Verdade, de tudo menos do bĂpede humano, em geral, Ă© claro, porque hĂĄ ainda no mundo, graças a Deus, almas-astros onde eu gosto de me reflectir, almas de sinceriÂdade e de pureza sobre as quais adoro debruçar a minha.
Passagens sobre ChorÔes
6 resultadosContrariamente ao que crĂȘem os chorĂ”es, todo o erro Ă© uma propriedade que acresce o nosso haver. Em vez de chorar sobre ele, convĂ©m apressar-se em aproveitĂĄ-lo.
Folha no rio vai para o mar sem volta – chorĂŁo se renova.
Homem chorĂŁo, ou corno ou ladrĂŁo.
Primavera
O sol vae esmolando os campos com bĂŽdos de oiro.
A pastorinha aquecida vae de corrida a mendigar a sombra do chorĂŁo corcunda, poeta romantico que tem paixĂŁo p’la fonte.
Espreita os campos, e os campos despovoados dĂŁo-lhe licença para ficar nĂșa. Que leves arrepios ao refrescar-se nas aguas! Depois foi de vez, meteu-se no tanque e foi espojar-se na relva, a seccar-se ao sol. Mas o vento que vinha de lĂĄ das Azenhas-do-Mar, trazia peccados
comsigo. Sentiu desejos de dar um beijo no filho do Senhor Morgado. E lembrou-se logo do beijo da horta no dia da feira. Fechou os olhos a cegar-se do mau pensamento, mas foi lembrar-se do
proprio Senhor Morgado ĂĄ meia noite ao entrar na adega. Abanou a fronte para lhe fugir o peccado, mas foi dar comsigo na sachristia a deixar o Senhor Prior beijar-lhe a mĂŁo, e depois a testa… porque Deus Ă© bom e perdĂŽa tudo… e depois as faces e depois a bocca e depois… fugiu… NĂŁo devia ter fugido… E agora o moleiro, lĂĄ no arraial, bailando com ella e sem querer, coitado, foi ter ao moinho ainda a bailar com ella. E lembra-se ainda –
Adulam-te como um deus ou um diabo! Choramingam diante de ti como diante de um deus ou de um diabo. Que importa? São aduladores e chorÔes, nada mais que isso.