Passagens sobre Chuva

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Frases sobre chuva, poemas sobre chuva e outras passagens sobre chuva para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Estamos sempre dentro de uma casa totalmente segura, que é a nossa Imagem Verdadeira indestrutível. Se não nos preocuparmos com a chuva (fenômeno) que cai lá fora, não seremos por ela atingidos.

Nas Trevas

Como estou sĂł no mundo! Como tudo
É lagrima e silencio!

Ă“ tristĂŞsa das Cousas, quando Ă© noite
Na terra e em nosso espirito!… Tristêsa
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluidas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu…

Ă“ tristĂŞsa das Cousas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Phantastica Paisagem,
Desde o soturno espaço á fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!

ĂŠrma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha…
SĂłmente as grossas lagrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio…

Piedade, noite negra! NĂŁo me beijes
Com esses labios mortos de Phantasma!

Ă“ Sol, vem alumiar a minha dĂ´r
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraiza
Nesta carne a sangrar que Ă© a minha alma!

Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cála-te!
Negras nuvens do sul, limpae os olhos,
Desanuviae a bronzea face morta!

Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Phantasma angelico e divino;
Espirito que,

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Ă€s Vezes Entre a Tormenta

Ă€s vezes entre a tormenta,
quando já umedeceu,
raia uma nesga no céu,
com que a alma se alimenta.

E Ă s vezes entre o torpor
que nĂŁo Ă© tormenta da alma,
raia uma espécie de calma
que nĂŁo conhece o langor.

E, quer num quer noutro caso,
como o mal feito está feito,
restam os versos que deito,
vinho no copo do acaso.

Porque verdadeiramente
sentir Ă© tĂŁo complicado
que sĂł andando enganado
Ă© que se crĂŞ que se sente.

Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo Ă© chuvas que orvalham
folhas caĂ­das que secam.

Leve, Leve, o Luar

Leve, leve, o luar de neve
goteja em perlas leitosas,
o luar de neve e tĂŁo leve
que ameiga o seio das rosas.

E as gotas finas da etérea
chuva, caindo do ar,
matam a sede sidéria
das coisas que embebe o luar.

A luz, oh sol, com que alagas,
abre feridas, e a lua
vem pĂ´r no lume das chagas
o beijo da pele nua.

Até que um Dia…

Meus versos eram rosas, lĂ­rios, heras,
borboletas, regatos, cotovias
cantando suas doces melodias,
anjos, sereias, ninfas e quimeras.

Meus versos eram pombas entre as feras
e, na festa das horas e dos dias,
ia dançando penas e alegrias
e o ano tinha quatro primaveras.

E a festa continua… é também festa
o cardo e a urze, o tojo, a murta, a giesta,
a chuva no beiral, o vento Norte,

o gosto a mar, a lágrimas, a sal,
até que um dia a vida, a bem ou mal,
exausta de cantar me empreste Ă  morte.

Regressar Ă  InocĂŞncia

Seja como as crianças, mantenha os olhos abertos, sem preconceitos escondidos atrás da vista. Se olhar com clareza, pequenas flores, ou pedaços de relva, ou borboletas, ou um pôr do Sol proporcionar-lhe-ão tanta felicidade quanto a que Gautama Buda encontrou na sua iluminação. Isto não depende das coisas, mas sim da sua abertura. O conhecimento fecha-o; transforma-se numa cerca, numa prisão. Mas a inocência abre todas as portas e todas as janelas.
O sol entra e uma brisa fresca flui.
De repente, o perfume das flores faz-lhe uma visita.
E de vez em quando um pássaro virá cantar uma canção e entrar por outra janela.
A inocĂŞncia Ă© a Ăşnica religiosidade que existe.
A religiosidade nĂŁo depende das escrituras sagradas nem do que se sabe sobre o mundo. SĂł depende de se estar preparado para ser como um espelho lĂ­mpido, que nada reflecte.
Um total silêncio, inocência, pureza… e toda a existência é transformada para si. Cada momento passa a ser de êxtase. As pequenas coisas, como beber uma chávena de chá, tornam-se orações tão poderosas que nenhuma outra oração se lhes pode comparar. Basta observar uma nuvem a mover-se livremente no céu, e da inocência surge uma sincronicidade.

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Cantares Bacantes IV

SĂŁo Mateus bebo teu verbo
conjugado na tintura,
semi-breve partitura
na regência d’um Efebo.

Ocarina chora uvas
esmagadas no sermĂŁo,
e esconde no coração
gotas vermelhas de chuvas.

Um pombo pousa na taça
evangelho vivo de asas:
traz ao bico, verde salsa.

A boa nova rascante
que me entra pela boca
doce beijo da amante.

Poder Crer em Santa Bárbara

Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme…
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caĂ­rem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos …

Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém…

Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou…
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
TranqĂĽilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor…

Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa
Bárbara…
Ah, poder crer em Santa Bárbara!

(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)

(Que artifĂ­cio!

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NĂŁo Consentem os Deuses Mais que a Vida

NĂŁo consentem os deuses mais que a vida.
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros,
Perenes sem ter flores.
SĂł de aceitar tenhamos a ciĂŞncia,
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,
Nem se engelha conosco
O mesmo amor, duremos,
Como vidros, Ă s luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
SĂł mornos ao sol quente,
E refletindo um pouco.

A chuva, lá fora, trauteia baixinho a sua clara e doce cantiga de Inverno, a sua eterna melodia simples que embala e apazigua. Sinto-me só. Quantas coisas lindas e tristes eu diria agora a Alguém que não existe!

Somos ruínas. Somos o que foi uma casa com gente viva e crianças a crescer, fumo na chaminé, janelas abertas nas noites de verão, e hoje é tijolos espalhados na terra e arredondados pela chuva, telhas partidas na terra, caliça e terra espalhados no soalho podre de madeira, e ervas a crescer entre as tábuas do soalho. Alguma vez teremos sido uma coisa sólida, uma casa viva?

Coordenadas

Conheço
os começos

— o chegar as chuvas
as migrações, o mugir
de parelhas atreladas
aos varais da madrugada.

Conheço onde começa
o medo o estupor o soco!
Onde o homem no ar
parado, rodopia

— e tomba

quando assoma
o zinabre ao gesto
e a lâmina se limpa
de espessa fĂşria.

Também conheço
antiga promessa
de urtiga Ă s costas,
premissa de colheita
proposta pelos caules.

E mais conheço
onde a terra exaure
o corpo que nela deita,

onde o Ă­ntimo de nosso
ser em pó começa a ser
sopro de ossos.

Mas desconheço
o remanso das tréguas
o descanso dos remos
o ponto de equilĂ­brio

onde estou

É a ira de Deus. E se essa escuridão se transformar em chuva, que volte o dilúvio, mas sem a arca, nós que não soubemos fazer um mundo onde viver e não sabemos na nossa paralisia como viver.

As Saudades que Sinto de Ti

Meu Bebé, meu Bebezinho querido:

Sem saber quando te entregarei esta carta, estou escrevendo em casa, hoje, domingo, depois de acabar de arrumar as coisas para a mudança de amanhã de manhã. Estou outra vez mal da garganta; está um dia de chuva; estou longe de ti — e é isto tudo o que tenho para me entreter hoje, com a perspectiva da maçada da mudança amanhã, com chuva talvez e comigo doente, para uma casa onde não está absolutamente ninguém. Naturalmente (a não ser que esteja já inteiramente bom e arranje as coisas de qualquer modo, o que faço é ir pedir guarida cá na Baixa ao Marianno Sant’Anna, que, além de ma dar de bom grado, me trata da garganta com competência, como fez no dia 19 deste mês quando eu tive a outra angina.

Não imaginas as saudades de ti que sinto nestas ocasiões de doença, de abatimento e de tristeza. O outro dia, quando falei contigo a propósito de eu estar doente, pareceu-me (e creio que com razão) que o assunto te aborrecia, que pouco te importavas com isso. Eu compreendo bem que, estando tu de saúde, pouco te rales com o que os outros sofrem,

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Mistério

Gosto de ti, Ăł chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca nĂŁo aprende
MurmĂşrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lĂşgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome Ă s rosas!

Canção da Minha Tristeza

Meu coração não está nas largas avenidas
nem repousa à tarde, para lá do rio.
Nada acontece. Nada. Nem, ao menos, tu
virás despentear os meus cabelos.

Nem, ao menos, tu, neste tempo de angĂşstia
vens dizer o meu nome ou cobrir-me de beijos.
Ah, meu coração não está nas largas avenidas
nem repousa à tarde, para lá do rio.

A cidade enlouquece os meus olhos de pássaro.
Eu recuso as palavras. Sei o nome da chuva.
Quero amar-te, sim. Mas tu hoje nĂŁo voltas.
Tu não virás, nunca mais, ó minha amiga.

Nada acontece. Nada. E eu procuro-te
por dentro da noite, com mĂŁos de surpresa.
Meu coração não está nas largas avenidas
nem repousa à tarde, para lá do rio.

E tu, longe, longe. Onde estás meu amor,
que nĂŁo vens despentear os meus cabelos?
Eu quero amar-te. Mas tu hoje nĂŁo voltas.
Tu não virás, nunca mais, ó minha amiga.

Vida Toda Linguagem

Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjectivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.

Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do perĂ­odo, talvez verso,
talvez interjectivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em lĂ­ngua compassiva
o sangue que criança espalhará — oh metáfora activa!
leite jorrado em fonte adolescente,
sémen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajectĂłrias.
Vida toda linguagem —
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra
[a chuva,
tenta fazê-la eterna — como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
Ă  vida que Ă© perfeita
lĂ­ngua
eterna.