Te fiz comida, velei teu sono Fui teu amigo, te levei comigo E me diz: pra mim o que é que ficou?
Passagens sobre Comida
96 resultadosNão há plantas boas para comida que não o sejam também para cura. O excesso é que causa problemas.
Os quadros que eles penduram nos restaurantes não são muito melhores do que a comida servida nos museus.
O Horror de ser Pobre
Risco c’um traço
(Um traço fino, sem azedume)
Todos os que conheço, eu mesmo incluído.
Para todos estes não me verão
Nunca mais
Olhar com azedume.O horror de ser pobre!
Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver-
-lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.
As couves aguadas
Destroem planos que fazem forte um povo.
Sem água de banho, solidão e tabaco
Nada há que exigir.
O desprezo do público
Arruina o espinhaço.
O pobre
Nunca está sozinho. Estão todos sempre
A espreitar-lhe pra o quarto. Abrem-lhe buracos
No prato da comida. Não sabe pra onde há-de ir.
O céu é o seu tecto, e chove-lhe lá pra dentro.
A Terra enxota-o. O vento
Não o conhece. A noite faz dele um aleijado. O dia
Deixa-o nu. Nada é o dinheiro que se tem. Não salva ninguém.
Mas nada ajuda
Quem dinheiro não tem.Tradução de Paulo Quintela
Do Fundo da Mesa
O jantar já tinha sido servido. No fundo da mesa,
os pratos amontoavam-se por entre restos ilesos
de comida. Era para ali que nos retirávamos, para
deixar de sentir por momentos, sobre os ombros,
o peso da literatura. A sua incomodidade. Não
seria possível dela extrair, agora, um novo uso?
Nessas alturas, a filosofia consolava-nos do ruído
das conversas, da própria ênfase a que recorríamos
para que, sobre a mesa, o poema ficasse escrito.
Porque o fazíamos? Tornar-se-ia o mundo
mais limpo depois de escrito? Como as mãos
que no rebordo da toalha, enxugávamos?
E no entanto era esse o melhor argumento
de que dispúnhamos: o das mulheres-escritoras
que, noutro século, fiéis ao desvelo dos armários,
reinventavam o mundo no aconchego das cozinhas.
Para um Grande Espírito Nada há que Seja Grande
Evitai tudo quanto agrade ao vulgo, tudo quanto o acaso proporciona; diante de qualquer bem fortuito parai com desconfiança e receio: também a caça ou o peixe se deixa enganar por esperanças falacciosas. Julgais que se trata de benesses da sorte? São armadilhas! Quem quer que deseje passar a vida em segurança evite quanto possa estes benefícios escorregadios nos quais, pobres de nós, até nisto nos enganamos: ao julgar possuí-los, deixamo-nos apanhar! Esta corrida leva-nos para o abismo; a única saída para uma vida «elevada», é a queda!
E mais: nem sequer poderemos parar quando a fortuna começa a desviar-nos da rota certa, nem ao menos ir a pique, cair instantaneamente: não, a fortuna não nos faz tropeçar, derruba-nos, esmaga-nos.
Prossegui, pois, um estilo de vida correcto e saudável, comprazendo o corpo apenas na medida do indispensável à boa saúde. Mas há que tratá-lo com dureza, para ele obedecer sem custo ao espírito: limite-se a comida a matar a fome, a bebida a extinguir a sede, a roupa a afastar o frio, a casa a servir de abrigo contra as intempéries. Que a habitação seja feita de ramos ou de pedras coloridas importadas de longe, é pormenor sem interesse: ficai sabendo que para abrigar um homem tão bom é o colmo como o ouro!
Vamos, então, enunciar as funções de um estado e vamos facilmente obter o que queremos: Em primeiro lugar, deve haver comida, em segundo lugar, arte, porque a vida requer muitos instrumentos, em terceiro lugar, deve haver braços, para os membros de uma comunidade têm necessidade deles, e em sua própria mãos, também, a fim de manter autoridade, tanto contra indivíduos desobedientes e contra agressores externos…
A Raiz do Vício
Um vício, apesar de ser uma terrível dependência e um péssimo hábito, é um escape maravilhoso e uma profunda ilusão acerca do «sentir bem». Quando não tens nada para fazer ou não sabes como te acalmar fumas uns cigarros ou coisas do género, entopes-te de comida, bebes uns copos e assim andas sempre ocupado e falsamente tranquilo, pois após o efeito seja do que for voltas ao mesmo estado em que te encontravas. Perdão, não me fiz entender bem: fumas sem vontade de fumar, comes sem vontade de comer e bebes sem vontade de beber. Isto é ser viciado, é pura poluição, sobretudo quando não existe um desejo natural de fazê-lo. Esclarecido? Ótimo. Já percebeste o teu desafio? Não, não é deixares de ser um viciado, isso não é um problema porque tens consciência que o és, logo, podes mudar quando entenderes apaixonar-te por ti, o problema é outro e, se queres saber, bem mais sério. Consegues descobri-lo? Era excelente se o dissesses antes de me leres: significaria que também já estarias consciente disso e, nesse sentido, deixaria de ser mais um problema na tua vida. Os problemas são, única e exclusivamente, fruto da inconsciência, pois quando se tem consciência do que se passa já não é um problema,
O que a mídia de massa oferece não é arte popular, mas entretenimento que é destinado a ser consumido como comida, esquecido, e substituído por um novo prato.
Se eu pudesse repetir minha infância, a repetiria exatamente como foi, com a pobreza, com o frio, pouca comida, com as moscas e os porcos, tudo aquilo.
A bebida quer-se comida e a comida, bebida.
A maior vantagem da comida macrobiótica é que, por mais que você coma, por mais que encha o estômago, está sempre perfeitamente subalimentado.
Quando tenho um pouco de dinheiro, compro livros. Se sobrar algum, compro roupas e comida.
Com o dinheiro podemos comprar muitas coisas, mas não o essencial para nós. Proporciona-nos comida, mas não apetite; remédios, mas não saúde; dias alegres, mas não a felicidade.
Os hóspedes são como os ovos, que frescos constituem comida proveitosa e delicada, e velhos não há quem os possa tragar.
A Biblioteca
Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.
Jogador de futebol, tem que ir na bola com a mesma disposição com que vai num prato de comida. Com fome, para estraçalhar.
[…] [o ciúme] é uma coisa… que deixa a gente inquieto… […] Vou te dar um exemplo, pra que você entenda com facilidade: você está na mesa, a mesa arrumadinha, vai começar a comer seu mingau, quando passa por lá um esfomeado e começa também a querer comer a comida que é tua.[…]
A leitura, como a comida, não alimenta senão digerida.
Todos os homens têm o seu instinto; e o instinto do homem, fortalecido pela razão, leva-o à sociedade, como à comida e à bebida.