Passagens sobre Conceito

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Frases sobre conceito, poemas sobre conceito e outras passagens sobre conceito para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Idiotia e Felicidade

Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se,

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Ao exigir do artista uma atitude consciente em relação ao seu trabalho, você tem razão, mas confunde dois conceitos: a solução do problema e a colocação correta do problema. Apenas o segundo é obrigatório para o artista.

A Educação da Fé

Sendo a fé um dom, como pode ser motivo de educação? Não pode realmente ser ensinada, mas sim irradiada. Os que a possuem podem significar a estrela-guia, a perseverança num encontro difícil de suceder, mas cuja esperança comove todo o nosso ser. É possível que a Igreja se volte para esse apostolado da fé que foi extremamente importante no seu começo. Não o velho sistema de grupos sectários que são o modelo dos processos políticos e que, quando se afirma um movimento e este toma amplitude, se eliminam. Não é isso. Trata-se de focos de comunicação que dispensam a organização premeditada e até a linguagem elaborada, o discurso piedoso e a erudição duma exegese. Um interessar a alma na fé sem recorrer ao preconceito da santidade. Descobrir a imensa novidade da fé num mundo em que o próprio cristão vive de maneira pagã e singularmente a coberto dos antigos textos que esqueceu ou que desconhece completamente.

A prova de que o cristão vive como um bárbaro é o sentido que tomou a arte religiosa. Não é raro encontrar nas salas de convívio burguesas, juntamente com a televisão, ou a mesa de jogo, ou a instalação estereofónica para o gira-disco,

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Tem duas formas, ou modos, o que chamamos cultura. Não é a cultura senão o aperfeiçoamento subjectivo da vida. Esse aperfeiçoamento é directo ou indirecto; ao primeiro se chama arte, ciência ao segundo. Pela arte nos aperfeiçoamos a nós; pela ciência aperfeiçoamos em nós o nosso conceito, ou ilusão, do mundo.

O Mérito só Existe se Enaltecido por Outros

O relato das conversas de Sócrates que os seus amigos nos legaram tem a nossa aprovação apenas porque nos sentimos intimidados pela aprovação geral delas. Não se trata de uma coisa que venha do nosso conhecimento; uma vez que não se adaptam às nossas práticas; se alguma coisa de semelhante viesse a ser produzida nos nossos dias poucos haveria que as tivessem em grande consideração. Não somos capazes de apreciar qualquer honra que não esteja salientada, inflaccionada e aumentada pelo artíficio. Tais honras que tantas vezes surgem disfarçadas com a ingenuidade e a simplicidade, dificilmente seriam notadas por uma visão interior tão grosseira como a nossa… Para nós não será a ingenuidade um parente próximo da simplicidade de espírito e uma qualidade merecedora de censura? Sócrates fazia mover a sua alma com o movimento natural das pessoas comuns: assim fala um camponês, assim fala uma mulher… As suas induções e comparações são retiradas das mais comuns e mais conhecidas actividades do homem; qualquer pessoa é capaz de as compreender. Sob uma forma tão comum nos nossos dias nunca teríamos sido capazes de discernir a nobreza e esplendor destes conceitos espantosos; nós que estamos habituados a criticar todo aquele que não esteja inchado pela erudição para ser base e lugar-comum e que não temos consciência dos ricos a não ser quando pomposamente exibidos.

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O Sentido Trágico do Amor

Todo o homem tende naturalmente para o amor. Acontece que o conceito comum de amor corresponde de forma quase universal a uma ideia genérica, ambivalente e, tantas vezes, errada, porque tão irreal.

Amar é dar-se. Entregar a própria essência a um outro, lutando em favor dele. De forma pura e gratuita, sem esperar outra recompensa senão a de saber que se conseguirá ser o que se é. Amar, ao contrário do que julgam muitos, não é uma fonte de satisfação… Amar é algo sério, arrebatador e tremendamente desagradável. Quem ama sabe que isso mais se parece com uma espécie de maldição do que com narrativas infantis de final invariavelmente feliz…

Cavaleiros valentes e princesas encantadas são, no entanto, excelentes metáforas que pretendem passar a ideia da coragem e da nobreza de carácter essenciais a quem ama. Ama-se quando se é capaz de se ser quem é, verdadeiramente.
Esta luta heróica pelo valor da essência do outro não está ao alcance de todos. A maior parte das pessoas são egocêntricas, alegram-se a entrançar os seus egoísmos em figuras improvisadas de resultado sempre disforme a que teimam chamar amor. Talvez porque assim consigam disfarçar o vazio que é a prova de quão frustrante,

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Moderar as Expectativas

Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imagi­nação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são. Por maiores que sejam as excelências, não bastam para satisfazer o conceito, e, se o enganam com exorbitante expectação, é mais rápido o desengano que a admiração. A esperança é grande falsificadora da verdade: que a cordura a corrija, fazendo que a fruição seja superior ao desejo. Princípios de crédito servem para despertar a curiosidade, não para empenhar o obje­cto. Melhor resulta quando a realidade excede o conceito e é mais do que se acreditou. Essa regra faltará no que é mau, pois ajuda-o a própria exageração; desmente-a o aplauso, chegando a parecer tolerável o que se temeu ser ruim ao extremo.

Formar Conceito

Formar conceito, e mais do que mais importa. Por não pensarem perdem-se todos os néscios: nunca concebem nas coisas nem a metade; e, como não percebem o dano nem a conveniência, tampouco aplicam a diligência. Alguns fazem muito caso do que pouco importa, e pouco caso do que importa muito, ponderando sempre às avessas. Muitos, por serem faltos de senso, não o perdem. Coisas há que se deveriam observar com todo o empenho, e conservar na profundidade da mente. O sábio forma conceito de tudo, ainda que, discernindo, cave onde haja fundo e reparo, pensando às vezes que haja mais do que pensa; de tal sorte que a reflexão chega aonde não chegou a apreensão.

As palavras e os conceitos são vivos, escapam escorregadios como peixes entre as mãos do pensamento. E como peixes movem-se ao longo do rio da História. Há quem pense que pode pescar e congelar conceitos. Essa pessoa será quanto muito um colecionador de ideias mortas.

Os Amantes

Amor, é falso o que dizes;
Teu bom rosto é contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;

O teu meu é mel azedo,
Não creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vão rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.

Teus prémios são pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.

Fartei-te assaz a vontade;
Em vãos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?

És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.

Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui não tiras nada.

Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;

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Conhecimento Interesseiro

Conhecer uma realidade é, no sentido habitual do termo «conhecer»: tomar conceitos já feitos, doseá-los, combiná-los até obter um equivalente prático do real. Mas não se deve esquecer que o trabalho da inteligência está longe de ser um trabalho desinteressado. Não visamos em geral conhecer por conhecer, mas conhecer para tomar uma decisão, para tirar algum proveito; enfim, para satisfazer algum interesse.

A Verdadeira Confiança

A verdadeira confiança é transmitida pelo que a pessoa é no seu íntimo e nunca pelo que ela tem ou faz, o mesmo é dizer que o ego não é para aqui chamado, pois ele apesar de aparentar esse estatuto, na realidade não vale nada, é fraquinho que dói e ao mínimo deslize da sua zona de conforto resvala para a fuga, para o ataque ou para a agressividade. Esta separação de conceitos e estirpes logo no início do livro é fundamental para que nos possamos aperceber não só da mensagem que podemos estar a passar perante os outros, e convém relembrar que apesar da maioria ainda andar adormecida já vão existindo muitas pessoas que detetam a léguas de distância quem somos e quais os padrões de comportamento que adotamos no nosso dia a dia, como também do comportamento, muitas vezes extravagante, das tais pessoas que nos rodeiam, pois o que não falta à nossa volta são falsos confiantes, predadores disfarçados, gente que tudo faz e ostenta para garantir o que precisamente não são, o alimento do ego e o reforço da ilusão em que vivem. Portanto, sempre que leres a palavra «confiança» neste livro atribui a mesma ao ser confiante,

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A Armadilha do Imediato

Como guia das nossas próprias aspirações não devemos tomar imagens da fantasia, mas conceitos. Geralmente ocorrer o inverso. Na juventude, em especial, a meta da nossa felicidade fixa-se na forma de algumas imagens que se implantam na nossa mente, frequentemente pela vida inteira ou por metade dela, mas na realidade não passam de fantasmas que zombam de nós: pois, no momento em que as alcançamos, desfazem-se no nada, e vemos que não cumprem nada daquilo que prometem.
Enquadram-se aqui determinadas cenas da vida doméstica, citadina, campestre, imagens da casa, do ambiente, etc. Chaque fou a sa marotte [cada louco com sua mania]. É comum também fazer parte disso a imagem da amada. É natural que seja assim: pois o que é evidente, justamente por ser imediato, também age sobre a nossa vontade de modo mais directo do que o conceito, o pensamento abstracto, que fornece somente o universal, não o detalhe, e tem uma relação apenas indirecta com a vontade. Em contrapartida, o conceito mantém a palavra. É ele que deve sempre guiar-nos e orientar-nos, embora seja certo que sempre necessitará da ilustração e da paráfrase por meio de imagens.

A Nossa Vida como um Conjunto de Metáforas

Pensemos, por exemplo, nos grandes escritores. Podemos orientar a nossa vida por eles, mas não podemos extrair das suas obras o elixir da vida. Eles deram uma forma tão rígida àquilo que os moveu que tudo isso está ali, mesmo nas entrelinhas, como metal laminado. Mas, que disseram eles na verdade? Ninguém sabe. Eles próprios nunca o souberam explicar cabalmente. São como um campo sobre o qual voam as abelhas; e ao mesmo tempo, eles são esse próprio voo. Os seus pensamentos e sentimentos assumem toda a escala da transição entre verdades ou erros que, se necessário, podem ser demonstrados, e seres mutáveis que se aproximam ou afastam de nós quando os queremos observar.
É impossível destacar o pensamento de um livro da página que o encerra. Acena-nos como o rosto de alguém que passa rapidamente por nós, numa fila com outros rostos, e por um instante surge carregado de sentido. Estou outra vez a exagerar um pouco. Mas agora queria perguntar-lhe: que coisa acontece na nossa vida que não seja aquilo que acabo de descrever? Não falo das impressões mais exactas, mensuráveis e definíveis; todos os outros conceitos em que baseamos a nossa vida não passam de metáforas que ficaram cristalizadas.

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Excesso de Leitura

Existem dois modos distintos de ler os autores: um deles é muito bom e útil, o outro, inútil e até mesmo perigoso. É muito útil ler quando se medita sobre o que é lido; quando se procura, pelo esforço da mente, resolver as questões que os títulos dos capítulos propõem, mesmo antes de se começar a lê-los; quando se ordenam e comparam as idéias umas com as outras; em suma, quando se usa a razão. Pelo contrário, é inútil ler quando não entendemos o que lemos, e perigoso ler e formar conceitos daquilo que lemos quando não examinamos suficientemente o que foi lido para julgar com cuidado, sobretudo se temos memória bastante para reter os conceitos firmados e imprudência bastante para concordar com eles. O primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumentando o entendimento. O segundo diminui o entendimento e gradualmente o torna fraco, obscuro e confuso. Ocorre que a maior parte daqueles que se vangloriam de conhecer as opiniões dos outros estuda apenas do segundo modo. Quando mais lêem, portanto, mais fracas e mais confusas se tornam as suas mentes.

A Guerra é Deus

Pouco interessa o que os homens pensam da guerra, disse o juiz. A guerra perdura. É o mesmo que perguntar-lhes o que acham da pedra. A guerra sempre esteve presente. Antes de o homem existir, a guerra já estava à espera dele. O ofício supremo a aguardar o seu supremo artífice. Sempre foi assim e sempre assim será. Assim e não de outra forma.
(…) Os homens nasceram para jogar. Nada mais. Todo o garoto sabe que a brincadeira é uma ocupação mais nobre do que o trabalho. Sabe também que a excelência ou mérito de um jogo não é inerente ao jogo em si, mas reside, isso sim, no valor daquilo que os jogadores arriscam. Os jogos de azar exigem que se façam apostas, sem o que não fazem sequer sentido. Os desportos implicam medir a destreza e a força dos adversários e a humilhação da derrota e o orgulho da vitória constituem em si mesmos aposta suficiente, pois traduzem o valor dos contendores e definem-nos. Porém, quer se trate de contendas cuja sorte se decide pelo azar quer pelo mérito, todos os jogos anseiam elevar-se à condição da guerra, pois nesta aquilo que se aposta devora tudo,

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Como Ser Livre

Bom é ver as pessoas livres. A liberdade tanto é uma coisa que se pratica como um conceito que se discute.

Para se ser livre é preciso pensar-se que se pode ser um bardamerda (e mais, sendo provável que se seja) mas que isso não impede a nossa vontade (que é deliciosa muito antes de ser um direito) de se dizer o que se pensa.

A liberdade é aquilo com que nascemos, com que os bebés se exprimem. A contenção é que é ensinada. Todas estas regras, boas e más (até acredito que msis de 50 por cento sejam boas), só servem para nos reprimir.

A vida é muito curta e a coragem é muito pouca. Os outros assustam muito mais do que querem e Sartre, quando não disse exactamente que «o inferno são os outros» estava a fazer questão de falar da nossa excessiva (e estúpida) dificuldade de falar e agir colectivamente.

O amor e a amizade são as duas grandes provas do valor da liberdade. A vida é uma sentença a que todos estamos condenados. Estarmos vivos não pode ter qualquer valor, por muito que custe à brigada comercialista que nos quer congratular por não termos morrido.

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