A criança deve exercitar-se a reconhecer [a autoridade] na palavra do educador e a submeter-se ao seu ascendente; é por meio dessa condição que saberá, mais tarde, encontrá-la na sua consciência e aí se conformar a ela.
Passagens sobre Condição
472 resultadosSempre poderemos observar que os povos mais oprimidos são também os menos inteligentes; em consequência disso, deve-se iniciar a obra de esclarecimento de uma nação, melhorando as suas condições de vida.
Os juízos de valor estão relacionados com o que nos aparece como condições da nossa existência: se as condições mudam, os nossos juízos de valor modificam-se.
Se me oferecessem a Sabedoria com a condição de guardar só para mim, sem comunicar a alguém, não a quereria.
Claro que te farei mal. Claro que me farás mal. Claro que podemos, mas essa é a condição da existência. Receber a Primavera significa correr os riscos do Inverno. Se desistir agora será correr o risco do desaparecimento. Amo-te.
Mãezinha
A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóveis, nem aviões, nem mísseis.
Corria branda a noite e a vida era serena.Segundo informação, concreta e exacta,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data,
3023 mulheres, das quais
43 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai desde o berço até à puberdade.
28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais (Oh nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do extremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de filhos…
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas,
mas que, por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando,
Povoamento
No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
Evitar a Sabedoria de Umbigo
Se alguém se inebria com o seu saber ao olhar para baixo de si, que volte o olhar para cima, rumo aos séculos passados, e abaixará os cornos ao encontrar aí tantos milhares de espíritos que o calcam aos pés. Se ele forma alguma ligeira presunção do seu valor, que se recorde das vidas dos dois Cipiões e dos incontáveis exércitos e povos que o deixam muito para trás. Nenhuma particular qualidade dará motivo de orgulho aquele que, ao mesmo tempo, tiver em conta os muitos traços de imperfeição e debilidade que em si há e, enfim, a nulidade da condição humana.
Porque Sócrates foi o único a compreender acertadamente o preceito do seu Deus, o de conhecer-se a si mesmo, e através de tal estudo, ter chegado a desprezar-se, só ele foi julgado digno de sobrenome de «sábio». Quem assim se conhecer, que tenha a audácia de, pela sua própria boca, o dar a conhecer.
A Vantagem da Frivolidade
O respeito que a tragédia inspira é muito mais perigoso do que a despreocupação de um chilrear de criança. Qual é a eterna condição das tragédias? A existência de ideias, cujo valor é considerado mais alto do que o da vida humana. E qual é a condição das guerras? A mesma coisa. Obrigam-te a morreres porque existe, dizem, alguma coisa que é superior à tua vida. A guerra só pode existir no mundo da tragédia; desde o começo da sua história, o homem apenas conheceu o mundo trágico e não é capaz de sair dele. A idade da tragédia só pode ser encerrada por uma revolta da frivolidade. As pessoas já só conhecem da Nona de Beethoven os quatro compassos do hino à alegria que acompanham a publicidade dos perfumes Bella. Isso não me escandaliza. A tragédia será banida do mundo como uma velha cabotina que, com a mão no peito, declama em voz áspera. A frivolidade é uma cura de emagrecimento radical. As coisas perderão noventa por cento do seu sentido e tornar-se-ão leves. Nessa atmosfera rarefeita, desaparecerá o fanatismo. A guerra passará a ser impossível.
Escravizados ao Além
Acabar com a morte como agonia diária da humanidade é talvez o maior bem que se pode fazer hoje ao homem. O cristianismo transformou a vida numa cruz, porque lhe pôs a consciência da morte à cabeceira. E crentes e ateus vivem no mesmo terror. Ora a ideia terrífica do fim não é uma condição fisiológica, nem mesmo intelectual do homem. Nem os Gregos, nem os Romanos, por exemplo, sentiam a morte com a irreparável angústia que nos rói. É forçoso, pois, que se arranquem as raízes desta dor, custe o que custar. Escravizados ao além, os nossos dias aqui não podem ter liberdade nem alegria. Qualquer doutrina que nega ao homem o direito de ser pleno na sua física duração, é uma doutrina de castração e de aniquilamento. Ir buscar ao post-mortem as leis que devem limitar a expansão abusiva da personalidade, é o artifício mais desgraçado que se podia inventar. Pregue-se e exija-se do indivíduo medida e disciplina, mas que nasçam da sua própria harmonia. Institua-se uma ética com raízes no mesmo chão onde o homem caminha.
A condição de cada um vence-lhe o entendimento.
Não há pior negócio que renunciar ao bem que dizem de nós na condição de não dizerem mal.
O capital que não melhora, constantemente, as condições e remuneração do trabalho, foge à sua mais alta missão.
Uma Nova Etapa na Vida a partir da Leitura de um Livro
Somos subeducados, atrasados e analfabetos; e neste particular confesso que não faço grande distinção entre a ignorância do meu concidadão que não sabe absolutamente ler nada, e a ignorância do que apenas aprendeu a ler o que se destina a crianças e inteligências medíocres. Deveríamos estar à altura dos grandes da Antiguidade, mas em parte por saber primacialmente quão grandes eles foram. Somos uma raça de homens-passarinhos; nos nossos voos intelectuais mal nos alçamos um pouco acima das colunas do jornal.
Nem todos os livros são tão insípidos como os seus leitores. É provável que haja palavras endereçadas exactamente à nossa condição, as quais, se de facto pudéssemos ouvi-las e entendê-las, seriam mais salutares às nossas vidas que a própria manhã ou a Primavera, revelando-nos talvez uma face inédita das coisas.
Quantos homens não inauguraram uma nova etapa na vida a partir da leitura de um livro! Deve existir para nós o livro capaz de explicar os nossos mistérios e de revelar outros insuspeitados. As coisas que ora nos parecem inexprimíveis, podemos encontrá-las expressas algures.
As mesmas questões que nos inquietam, intrigam e confundem, foram postas por sua vez a todos os homens sábios; nenhuma foi omitida,
Saber Transmitir a Verdade
É bem possível dizer a verdade e não ser verdadeiro ou não ter uma relação verdadeira. E isto acontece mais do que se pensa. Quando não atendo à condição do outro, à sua sensibilidade, linguagem, idade, etc., posso dizer tudo certo e o outro ficar mais longe e mais desconfiado, e a relação não ser humana e verdadeira. A verdade humana é ser construtivo na relação. Da verdade lógica também os computadores são capazes…
(
A Minha Inspiração
A minha inspiração são os homens e as mulheres que surgiram em todo o globo e escolheram o mundo como o teatro das suas operações, e que lutam contra as condições socioeconómicas que não promovem o avanço da Humanidade, onde quer que este ocorra. Homens e mulheres que lutam contra a supressão da voz humana, que combatem a doença, a iliteracia, a ignorância, a pobreza e a fome. Alguns são conhecidos, outros não. Essas são as pessoas que me inspiraram.
O discurso de grande parte dos políticos é feito de lugares-comuns, incapazes de entenderem a complexidade da condição dos nossos países e dos nossos povos. A demagogia fácil continua a substituir a procura de soluções.
Atingir a Felicidade
Embora seja possível atingir a felicidade, a felicidade não é uma coisa simples. Existem muitos níveis. O Budismo, por exemplo, refere-se a quatro factores de contentamento ou felicidade: os bens materiais, a satisfação mundana, a espiritualidade e a iluminação. O conjunto destes factores abarca a totalidade da busca pessoal de felicidade. Deixemos de lado, por ora, as aspirações últimas a nível religioso ou espiritual, como a perfeição e a iluminação, e concentremo-nos unicamente sobre a alegria e a felicidade, tal como as concebemos a nível mundano. A este nível, existem certos elementos-chave que nós reconhecemos convencionalmente como contribuindo para o bem-estar e a felicidade. A saúde, por exemplo, é considerada como um factor necessário para o bem-estar. Um outro factor são as condições materiais ou os bens que possuímos. Ter amigos e companheiros, é outro. Todos nós concordamos que para termos uma vida feliz precisamos de um círculo de amigos com quem nos possamos relacionar emocionalmente e em quem possamos confiar.
Portanto, todos estes factores são causas de felicidade. Mas para que um indivíduo possa utilizá-los plenamente e gozar de uma vida feliz e preenchida, a chave é o estado de espírito. É crucial. Se utilizarmos as condições favoráveis que possuímos,
A Falsa Unidade
Nenhum eu, nem mesmo o mais ingénuo, é uma unidade, antes sim um mundo extremamente multifacetado, um pequeno céu estrelado, um caos de formas, estádios e condições, heranças e possibilidades. O facto de cada um por si aspirar a considerar este caos uma unidade, e falar do seu eu como se se tratasse de uma manifestação simples, fixa e solidamente modelada, claramente delimitada – esse engano, que é inerente a qualquer ser humano (mesmo superior), parece ser uma necessidade, uma exigência da vida, como a respiração ou a alimentação.
O erro assenta numa simples transferência. De corpo, todo o homem é uno; de alma, nunca.
O Perigo do Especialista
O especialista serve-nos para concretizar energicamente a espécie e fazer ver todo o radicalismo da sua novidade. Porque outrora os homens podiam dividir-se, simplesmente, em sábios e ignorantes, em mais ou menos sábios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser submetido a nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio, porque ignora formalmente o que não entra na sua especialidade; mas tampouco é um ignorante, porque é «um homem de ciência» e conhece muito bem a sua fracção de universo. Devemos dizer que é um sábio ignorante, coisa sobremodo grave, pois significa que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância de quem na sua questão especial é um sábio.
E, com efeito, este é o comportamento do especialista. Em política, em arte, nos usos sociais, nas outras ciências tomará posições de primitivo, e ignorantíssimo; mas tomará essas posições com energia e suficiência, sem admitir – e isto é o paradoxal – especialistas dessas coisas. Ao especializá-lo a civilização tornou-o hermético e satisfeito dentro da sua limitação; mas essa mesma sensação íntima de domínio e valia vai levá-lo a querer predominar fora da sua especialidade.