Passagens sobre Construção

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Frases sobre construção, poemas sobre construção e outras passagens sobre construção para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Minha Cidade Preferida

É o Porto. Tem umas características muito particulares, muito suas. Ou melhor, tinha. Estão agora a fazer força para tirá-las, ao contrário do que se faz lá fora. Mesmo às cidades que foram arrasadas pela guerra, como Varsóvia, na Polónia, que foi refeita tal qual era antes. O mesmo aconteceu em Berlim. Aqui destroem o que está feito para construir uma porcaria qualquer incaracterística, que não representa coisa nenhuma. Por exemplo, o que querem fazer no mercado do Bolhão é uma vergonha – querem meter lá um supermercado, ou outra borra qualquer, que tira todo o carácter à cidade e a modifica. Assim, as cidades confundem-se todas: a gente chega a uma cidade e já não sabe onde está. É tudo igual em toda a parte.

A Prática Fomenta a Vontade

Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de comprender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do carácter, qual mestre de banda – sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa energia formadora do carácter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. Isto forma a «força de vontade» – um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade – e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.
Vem daí a inutilidade da leitura de livros que apontam as estradas reais do carácter. Tenho diante de mim um volume de um tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do Auto-Hipnotismo. Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios de todas as cidades. Mas o caminho é mais penoso e longo.
Esse caminho é o caminho da vida. Vontade, isto é,

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Mente ou Pedra

Esta cidade é conhecida em todos os arredores por possuir as maiores estrebarias para bois, vacas e cavalos, construções que não ficam a dever nada nem sequer aos edifícios públicos; por outro lado contam-se aqui pelos dedos os locais onde se pode rezar ou discursar com total liberdade.
Em vez de se autocelebrarem por meio da arquitectura, não deveriam as nações fazê-lo pelo poder do seu pensamento abstracto? O Bagavad-Gita é muito mais admirável do que todas as ruínas do oriente. Torres e templos são luxo de príncipes. A mente simples e livre não moureja sob as ordens de nenhum príncipe. O espírito não é privilégio de nenhum imperador, nem são exclusivos deste, a não ser em insignificante medida, a prata, o ouro e o mármore. Com que finalidade, digam-me lá, se talha tanta pedra?
Quando estive na Arcádia, não vi pedras a serem lavradas. As nações são possuídas pela louca ambição de perpetuarem a sua memória com a soma das esculturas que deixam. Que tal se esforços semelhantes fossem despendidos no sentido de aperfeiçoar e polir a sua conduta? Uma obra de bom senso seria mais memorável que um momumento da altura da Lua. Prefiro contemplar as pedras no seu local de origem.

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A mais importante coragem de um guerreiro não é a tenacidade com que ataca, mas a fortaleza com que resiste a tudo o que se lhe opõe, a tudo quanto o tenta afastar da construção do seu caminho, destino e missão. Só a inteireza combate a cobiça, o orgulho e o egoísmo.

Conquistar longevidade numa relação a dois, significa relevar pequenos defeitos e ajudar a corrigir defeitos maiores. O resultado é a sinergia mútua e a construção de uma família coesa e feliz.

Para Que Serve a Filosofia?

O leitor ocupado perguntará para que serve a filosofia. Pergunta vergonhosa, que não fazemos à poética, essa outra construção imaginativa de um mundo mal conhecido. Se a poesia nos revela a beleza que os nossos olhos ineducados não vêem, e se a filosofia nos dá os meios de compreender e perdoar, não lhes peçamos mais – isso vale todas as riquezas da Terra. A filosofia não enche a nossa carteira, não nos ergue às dignidades do Estado; é até bastante descuidosa destas coisas. Mas de que vale engordar a carteira, subir a altos postos e permanecer na ignorância ingénua, desapetrechado de espírito, brutal na conduta, instável no carácter, caótico nos desejos e cegamente infeliz?
A maturidade é tudo. Talvez que a filosofia nos dê, se lhe formos fiéis, uma sadia unidade de alma. Somos negligentes e contraditórios no nosso pensar; talvez ela possa classificar-nos, dar-nos coerência, libertar-nos da fé e dos desejos contraditórios.
Da unidade de espírito pode vir essa unidade de carácter e propósitos que faz a personalidade e dá ordem e dignidade à vida. Filosofia é conhecimento harmónico, criador da vida harmónica; é disciplina que nos leva à serenidade e à liberdade. Saber é poder, mas só a sabedoria é liberdade.

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Ambiguidade e Acção

A Mentira é a recriação de uma Verdade. O mentidor cria ou recria. Ou recreia. A fronteira entre estas duas palavras é ténue e delicada. Mas as fronteiras entre as palavras são todas ténues e delicadas.
Entre a recriação e o recreio assenta todo o jogo. O que não quer dizer que o jogo resulta sempre. Resulte seja o que for ou do que for.
A Ambiguidade é a Arte do Suspenso. Tudo o que está suspenso suspende ou equilibra. Ou instabiliza. Mas tudo é instável ou está suspenso.
Pelo menos ainda.
Ainda é uma questão de tempo. Tudo depende da noção de tempo ou duração ou extensão. A aceleração do tempo pode traduzir-se pela imobilidade pois que a imobilidade pode traduzir-se por um máximo de aceleração ou um mínimo de extensão: aceleração tão grande que já não se veja o movimento ou o espaço ou a duração.
Tudo está sempre a destruir tudo. Ou qualquer coisa. Ou alguém. Mas estamos sempre a destruir tudo ou qualquer coisa. Ou alguém.
Os construtores demolem. No lugar onde estava o sopro, pormos pedras ou palavras: sinónimo de construção. Ou destruição. Ou acção.

O Amor Encontra-se nas Coisas Simples

É mais fácil programar supercomputadores, gerir grandes empresas, cumprir elevadas metas profissionais, do que construir relações saudáveis regadas com um sublime amor. Houve brilhantes intelectuais que quiseram conquistar o amor com a sua cultura, mas ele disse: «Encontro-me nas coisas simples e anónimas!» Houve milionários que quiseram comprá-lo com dinheiro, mas ele declarou: «Não estou à venda!» Alguns generais quiseram dominá-lo com armas, mas ele afirmou: «Só floresço no terreno da espontaneidade!» Os políticos tentaram seduzi-lo com o seu poder, mas o amor bradou: «O poder asfixia-me.» Houve pessoas célebres que quiseram envolvê-lo com a fama, mas ele sem hesitar comentou: «A fama nunca me poderá seduzir.»

Os Escritores Medíocres

Essas mentes medíocres simplesmente não se conseguem decidir a escrever como pensam, pois acham que depois o resultado poderia adquirir uma aparência muito simplória. […] Desse modo, apresentam o que têm a dizer com construções forçadas e difíceis, neologismos e períodos extensos, que circundam o pensamento e acabam por o ocultar. Oscilam entre o esforço de o comunicar e o esforço de o esconder. Querem guarnecer o texto de modo que ele adquira uma aparência erudita ou profunda, para que as pessoas pensem que ele contém mais do que se consegue perceber no momento da leitura. Sendo assim, esboçam partes do seu pensamento em expressões curtas, ambíguas e paradoxais, que parecem significar muito mais do que dizem; logo voltam a apresentar os seus pensamentos com uma torrente de palavras e uma verbosidade insuportável, como se fossem necessárias sabe-se lá que medidas para tornar compreensível o seu sentido profundo, enquanto, na verdade, se trata de uma ideia bastante simples, para não dizer até trivial.

Vida Incipiente

O facto real da vida é que estamos de novo todos juntos sem se saber como nem porquê, é o imponderável que liga os seres e os deixa andar á deriva como pedaço de cortiça em praia batida pelo norte – o resto, se se quiser analisar, é uma babugem de relações sem eira nem beira ao deslizar da corrente que tanto vem dos outros lados do Atlântico como da disposição em cada um de nós. Os dias foram andando dentro de cada um de nós e na marcha de pormenores domésticos gastámos horas preciosas de nós mesmos. Acerca de comédias fizemos considerações pessoais e quando se tratava de analisar uma tragédia usufruíamos um gozo espiritual de dever cumprido sexualmente.
Passaram-se anos, também não sei quantos. Houve uns que casaram, outros que ficaram para ornamento ímpar de jantares familiares e ainda outros que se ambulanteiam pelas esquinas do vício à procura de óleo para uma máquina donde se desprendeu já a mola real do entendimento.
Afinal também não importa que o ritmo das coisas tenha sido o mesmo, se todas as coisas existem para um ritmo que lhes é íntimo à sua própria expressão de coisas. Houve sábados e domingos sextas e quintas segundas e terças e sempre uma quarta-feira a comandar no equilíbrio do princípio e do fim.

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Isso a que chamamos a «construção duma Europa unida» não passa de uma falácia de mau gosto. A relação de poder entre os diversos Estados europeus continua a ser a que foi sempre: países que mandam, países que obedecem.

O Amor Social

É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por nos colocar uns contra os outros, na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.

O exemplo de Santa Teresa de Lisieux convida-nos a pôr em prática o pequeno caminho do amor, a não perder a oportunidade de uma palavra gentil, de um sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas.

O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político,

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O Mundo dos Solteiros

Agora a sério: você conhece algum solteiro verdadeiramente satisfeito com a sua condição de solteiro? Eu não. Conheço vários solteiros que se dizem satisfeitos com a sua condição de solteiros, mas que de bom grado imediatamente se casariam. Não se casam por inércia, por cobardia, muitas vezes por falta de sorte – mas é por uma vida a dois que suspiram. É da natureza humana. Uma coisa é estar entre casamentos. Outra é ser solteiro. E o solteiro cool é uma construção tão artificial como o da gordinha «muito» simpática. Você conhece alguma gordinha «muito» simpática em que essa tão óbvia simpatia não seja excessiva, provavelmente fabricada – e mensageira sobretudo de uma profunda solidão? Eu não.

(…) É um mundo sombrio, o mundo dos solteiros – um mundo de ansiedades, de cinismo, de ressentimento, de egoísmo. Se os solteiros solitários são tristes, aliás, os solteiros gregários são-no ainda mais. Você já foi a algum jantar em que os presentes fossem maioritariamente solteiros? Eu já. E, sempre que fui, voltei deprimido. Ia deprimido – e deprimido voltei. Íamos deprimidos – e deprimidos voltámos. Todos. Fizemos o que pudemos, claro: trocámos palavras, trocámos solidariedades, trocámos mimos. No fim, nada.

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O Poeta não é um Pequeno Deus

O poeta não é um «pequeno deus». Não, não é um «pequeno deus». Não está amrcado por um destino cabalístico superior ao de quem exerce outros misteres e ofícios. Exprimi amiúde que o melhor poeta é o homem que nos entrega o pão de cada dia: o padeiro mais próximo, que não se julga deus. Cumpre a sua majestosa e humilde tarefa de amassar, levar ao forno, dourar e entregar o pão de cada dia, com uma obrigação comunitária. E se o poeta chega a atingir essa simples consciência, a simples consciência também se pode converter em parte de uma artesania colossal, de uma construção simples ou complicada, que é a construção da sociedade, a transformação das condições que rodeiam o homem, a entrega da mercadoria: pão, verdade, vinho, sonhos.

Se o poeta se incorpora nessa nunca consumida luta para cada um confiar nas mãos dos outros a sua ração de compromisso, a sua dedicação e a sua ternura pelo trabalho comum de cada dia e de todos os homens, participa no suor, no pão, no vinho, no sonho de toda a humanidade. Só por esse caminho inalienável de sermos homens comuns conseguiremos restituir à poesia o vasto espaço que lhe vão abrindo em cada época,

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Não há Dicas para Namorar e Casar

Nunca me ensinaram as coisas realmente úteis: como é que um rapaz arranja uma noiva, que tipo de anel deve comprar, se pode continuar a sair para os copos com os amigos, se é preciso pedir primeiro aos pais, se tem de usar anel também. Palavra que fui um rapaz que estudou muito e nunca me souberam ensinar isto. Ensinaram-me tudo e mais alguma coisa sobre o sexo e a reprodução, sobre o prazer e a sedução, mas quanto ao namorar e casar, nada. E agora, como é que eu faço?

Passei a pente fino as melhores livrarias de Lisboa e não encontrei uma única obra que me elucidasse. Se quisesse fazer cozinha macrobiótica, descobrir o «ponto G» da minha companheira para ajudá-la a atingir um orgasmo mais recompensador, montar um aquário, criar míscaros ou construir um tanque Sherman em casa, sim, existe toda uma vasta bibliografia. Para casar, nem um folheto. Nem um «dépliant». Nada. Nem um autocolante. Para apanhar SIDA sei exactamente o que devo fazer. Para apanhar a minha noiva não faço a mais pequena ideia.

Porque é que o Ministério da Juventude, em vez de esbanjar fortunas com iniciativas patetas (como aquela piroseira fascistóide dos Descobrimentos) e anúncios ridículos (como aqueles «Ya meu,

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És Linda

És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusão. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços da angústia do olhar. Não esqueci a intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar. És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.

Não são precisas muitas palavras para refletir sobre o abismo vasto e profundo que separa a solidariedade esporádica, não desprezível decerto, mas efémera, e a arte de «tomar conta», de construir verdadeiros e próprios «oásis» de acolhimento e de amizade para compartilhar as necessidades de quem está só e desorientado.