Passagens sobre Contrário

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Frases sobre contrário, poemas sobre contrário e outras passagens sobre contrário para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Ninguém é manipulado ou subjugado quando acredita fortemente naquilo que sente, pelo contrário quem não se permite sentir, ou seja, quem não se permite viver nada sabe, nada conhece e em nada acredita, logo é jogado de pé para pé pelos mais espertos e perigosos egos.

A Mentira Agrada Mais do Que a Verdade

O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade. Fazei a experiência: ide à igreja, quando aí estão a pregar. Se o pregador trata de assuntos sérios, o auditório dormita, boceja e enfada-se, mas se, de repente, o zurrador (perdão, o pregador), como aliás é frequente, começa a contar uma história de comadres, toda a gente desperta e presta a maior das atenções.
Como é fácil essa felicidade! Os conhecimentos mais fúteis, como a gramática por exemplo, adquirem-se à custa de grande esforço, enquanto a opinião se forma com grande facilidade, contribuindo tanto ou talvez mais para a felicidade. Se um homem come toucinho rançoso, de que outro nem o cheiro pode suportar, com o mesmo prazer com que comeria ambrósia, que tem isso a ver com a felicidade? Se, pelo contrário, o esturjão causa náuseas a outro, que temos nós com isso? Se uma mulher, horrivelmente feia, parece aos olhos do marido semelhante a Vénus, para o marido é o mesmo do que se ela fosse bela.

Glória Efémera ou Eterna

Via de regra, a glória será tanto mais tardia quanto mais for durável, pois tudo aquilo que é excelente amadurece de maneira lenta. A glória que se tornará póstera assemelha-se a um carvalho que cresce bem lentamente a partir da sua semente; a glória fácil, efémera, assemelha-se às plantas anuais, que crescem rapidamente, e a glória falsa parece-se com erva daninha, que nasce num piscar de olhos e que nos apressamos em arrancar. Esse desenrolar das coisas relaciona-se com o facto de que, quanto mais alguém pertence à posteridade, ou seja, à humanidade geral e inteira, tanto mais estranho será à sua época, pois o que ele produz não é especialmente dedicado a ela como tal, mas só na medida em que a mesma é uma parte da humanidade; logo, as suas obras não são tingidas com a cor local do seu tempo; todavia, em consequência disso, pode acontecer que tal indivíduo passe facilmente como um estranho pela sua época.
Esta prefere apreciar aqueles que tratam os assuntos do seu dia-a-dia ou que servem ao humor do momento, portanto, os factos que pertencem integralmente a ela, que com ela vivem e com ela morrem. Por isso, a história da arte e da literatura ensina geralmente que as mais elevadas realizações do espírito humano,

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Soneto 251 Quantitativo

Centenas de sonetos são legado
de nomes tidos como monumentos.
Apenas de Camões, mais de duzentos,
registro que é por poucos superado.

Não fossem os Lusíadas o dado
que faz dele o primeiro entre os portentos,
ainda assim Camões marca outros tentos,
e, entre outros tantos, este é consagrado:

“Sete anos de pastor”, o vinte e nove,
que, se não for mais belo, é o mais perfeito,
a menos que em contrário alguém me prove.

Mas, como dois é dom, três é defeito,
também um “Alma minha”, o dezenove,
ocupa igual lugar no meu conceito.

Em louvor do grande Camões

Sobre os contrários o terror e a morte
Dardeje embora Aquiles denodado,
Ou no rápido carro ensanguentado
Leve arrastos sem vida o Teuco forte:

Embora o bravo Macedónio corte
Coa fulminante espada o nó fadado,
Que eu de mais nobre estímulo tocado,
Nem lhe amo a glória, nem lhe invejo a sorte:

Invejo-te, Camões, o nome honroso;
Da mente criadora o sacro lume,
Que exprime as fúrias de Lieu raivoso:

Os ais de Inês, de Vénus o queixume,
As pragas do gigante proceloso,
O céu de Amor, o inferno do Ciúme.

A Admiração é a Primeira de Todas as Paixões

Quando o primeiro contacto com algum objecto nos surpreende e o consideramos novo ou muito diferente do que conhecíamos antes ou então do que supunhamos que ele devia ser, isso faz que o admiremos e fiquemos espantados com ele. E como tal coisa pode acontecer antes que saibamos de alguma forma se esse objecto nos é conveniente ou não, a admiração parece-me ser a primeira de todas as paixões. E ela não tem contrário, porque, se o objecto que se apresenta nada tiver em si que nos surpreenda, não somos emocionados por ele e consideramo-lo sem paixão.

Todo o escritor que é original é diferente. Mas nem todo o que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. Assim, uma é fácil e a outra é difícil.

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Se meu desejo só é sempre ver-vos,
Que causará, senhora, que em vos vendo
Assi me encolho logo, e arrependo,
Que folgaria então poder esquecer-vos?

Se minha glória só é sempre ter-vos
No pensamento meu, porque em querendo
Cuidar em vós, se vai entristecendo?
Nem ousa meu esprito em si deter-vos?

Se por vós só a vida estimo, e quero,
Como por vós a morte só desejo?
Quem achará em tais contrários meio?

Não sei entender o que em mim mesmo vejo.
Mas que tudo é amor, entendo, e creio,
E no que entendo, e creio, nisso espero.

O Pranto e o Riso

Se o Pranto e o Riso aparecessem neste grande teatro no traje da verdade (sempre nua), sem dúvida seria a vitória do Pranto. Mas vestido, ornado e armado de uma tão superior eloquência, que o Riso se ria do Pranto, não é merecimento, foi sorte. De tudo quanto ri saiu vestido, ornado e armado o Riso: riem-se os prados e saiu vestido de flores: ri-se a Aurora, e saiu ornado de luzes; e se aos relâmpagos e raios chamou a Antiguidade Risus Vestae, et Vulcani, entre tantos relâmpagos, trovões e raios de eloquência, quem não julgará ao miserável Pranto cego, atónito e fulminado? Tal é a fortuna, ou a natureza, destes dois contrários. Por isso nasce o Riso na boca, como eloquente, e o Pranto nos olhos, como mudo.
(…) Demócrito ria sempre: logo nunca ria. A consequência parece difícil e é evidente. O Riso, como dizem todos os Filósofos, nasce da novidade e da admiração e cessando a novidade ou a admiração, cessa também o riso; e como Demócrito se ria dos ordinários desconcertos do mundo, e o que é ordinário e se vê sempre não pode causar admiração nem novidade; segue-se que nunca ria, rindo sempre, pois não havia matéria que motivasse o riso.

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Ajuda entre Sábios

Estás interessado em saber se um sábio pode ser útil a outro sábio. Nós definimos o sábio como um homem dotado de todos os bens no mais alto grau possível. A questão está pois em saber como é possível alguém ser útil a quem já atingiu o supremo bem. Ora, os homens de bem são úteis uns aos outros. A sua função é praticar a virtude e manter a sabedoria num estado de perfeito equilíbrio. Mas cada um necessita de outro homem de bem com quem troque impressões e discuta os problemas. A perícia na luta só se adquire com a prática; dois músicos aproveitam melhor se estudarem em conjunto. O sábio necessita igualmente de manter as suas virtudes em actividade e, por isso mesmo, não só se estimula a si próprio como se sente estimulado por outro sábio. Em que pode um sábio ser útil a outro sábio? Pode servir-lhe de incitamento, pode sugerir-lhe oportunidades para a prática de acções virtuosas. Além disso, pode comunicar-lhe as suas meditações e dar-lhe conta das suas descobertas. Nunca faltará mesmo ao sábio algo de novo a descobrir, algo que dê ao seu espírito novos campos a explorar.
Os indivíduos perversos fazem mal uns aos outros,

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Navio que Partes para Longe

Navio que partes para longe,
Por que é que, ao contrário dos outros,
Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te não vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que não existe,
Sinto-a em relação a cousa nenhuma;
Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade.

Inveja e Proximidade

Não é a desproporção entre nós e os outros que produz a inveja, mas, pelo contrário, a proximidade. Um soldado raso não nutre pelo seu general inveja comparável à que poderá sentir pelo seu sargento ou por um cabo; nem um escritor eminente encontrará tanta inveja por banda dos escritorecos vulgares como nos autores que dele mais se aproximam. Uma grande desproporção anula a relação, seja impedindo-nos de nos compararmos com aquilo que nos é remoto, seja minorando os efeitos da comparação.

Ó Meus Irmãos Contrários

Ó meus irmãos contrários que guardais nas vossas
[pupilas
A noite infusa e o seu horror
Onde vos deixei eu
Com vossas pesadas mãos no azeite preguiçoso
Dos vossos actos antigos
Com tão pouca esperança que’a morte tem razão
Ó meus irmãos perdidos
Eu vou para a vida tenho aparência de homem
Para provar que o mundo é feito à minha medida

E não estou só
Mil imagens de mim multiplicam a luz
Mil olhares semelhantes igualam a carne
É a ave é a criança é a rocha é a planície
Que se misturam a nós
O ouro desata a rir ao ver-se fora do abismo
A água o fogo despem-se por uma única estação
Já não há eclipse na fronte do universo.

Tradução de António Ramos Rosa

Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário.

O Mais Fundo de Nós Mesmos

A uma certa altura do auto-conhecimento, quando estão presentes outras circunstâncias que favorecem a auto-segurança, invariavelmente e sem outra hipótese sentimo-nos execráveis. Todas as medidas do bem — por muito que as opiniões possam diferir sobre isto — parecerão demasiado altas. Vemos que não passamos de um ninho de ratos feito de dissimulações miseráveis. O mais insignificante dos nossos actos não deixa de estar contaminado por estas dissimulações. Estas intenções dissimuladas são tão horríveis que no decurso do nosso exame de consciência não vamos querer ponderá-las de perto, mas, pelo contrário, ficaremos contentes de as avistar de longe. Estas intenções não são todas elas feitas apenas de egoísmo, o egoísmo em comparação parece um ideal do bem e do belo. A porcaria que vamos encontrar existe por si só; reconheceremos que viemos ao mundo pingando este fardo e sairemos outra vez irreconhecíveis, ou então demasiado reconhecíveis, por causa dela. Esta porcaria é o fundo mais profundo que encontraremos; nos fundos mais profundos não haverá lava, não, mas porcaria. É o mais fundo e o mais alto e até as dúvidas que o exame de consciência origina em breve enfraquecerão e se tornarão complacentes como o espojar de um porco na imundície.

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Ali não Havia Eletricidade

Ali não havia eletricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler —
A Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.
E reli a “Primeira Epístola aos Coríntios”.
Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
Fazia um grande barulho ao contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
A “Primeira Epístola aos Coríntios” …
Relia-a à luz de uma vela subitamente antiqüíssima,
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim…
Sou nada…
Sou uma ficção…
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
“Se eu não tivesse a caridade.”
E a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma é livre…
“Se eu não tivesse a caridade…”
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade

O que aumenta quando acumulado é apenas a matéria. A Vida, pelo contrário, aumenta quando é partilhada com os outros.

Meu Céu Interior

Se esses teus olhos, no meu livro, imersos,
encontrarem diversas emoções,
– não tentes decifrar… – mil corações
nós os temos num só, todos diversos…

Os meus poemas aqui, vivem dispersos,
como as estrelas… e as constelações…
– no céu das minhas íntimas visões,
no”meu céu interior…”cheio de versos.

Não procures o poeta compreender…
– Os versos que umas cousas nos desnudam,
Outras cousas, ocultam, sem querer…

Uns, são felizes… Outros, ao contrário…
– No rosário da vida, as contas mudam,
e os versos são contas de um rosário!…