Passagens sobre Dedos

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Frases sobre dedos, poemas sobre dedos e outras passagens sobre dedos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

RelĂ­quia

Era de minha mĂŁe: Ă© um pobre xale
que tem pra mim uma carĂ­cia de asa.
Vou-lhe pedir ainda que me fale
da que ele agasalhou em nossa casa.

Na sua trama já puída e lassa
deixo os meus dedos pra senti-la ainda;
e Ela vem, é Ela que me abraça,
fala de coisas que a saudade alinda.

É a minha mãe mais perto, mais pertinho,
que eu sinto quando toco o velho xale,
que guarda um nĂŁo sei quĂŞ do seu carinho.

E quando a vida mais me dĂłi, no escuro,
sinto ao tocá-lo como alguém que embale
e beije a minha sede de amor puro.

Falsos Amigos

Tenho amigos que pensam confundir-me
igualando a loucura à minha ânsia.
Pobrezitos!, que tentam destruir-me
havendo de permeio esta distância.

Eu tenho pena de nĂŁo ser um deles,
ao menos uma vez, por uns momentos.
Gostava de morrer um dia neles,
ressuscitando nos seus pensamentos.

Pintar-lhes-ei um dia o rosto a sério,
com talento nascido de neurose
que faça vê-los nus no baptistério
onde lavam a alma da esclerose?

Toda a gente rirá desse retrato,
e haverá certamente prò comprar
um novo-rico que lhe admire o fato
e o pendure na sala de jantar.

Hei-de pĂ´r-Ihes uns olhos que reluzam,
mas vazios nas Ăłrbitas repletas,
profanação nos dedos que se cruzam,
num indigno repouso de poetas.

Ah, sĂŁo eles que procuram destruir-me,
criticando-me as faces controversas!,
mas apenas conseguem reunir-me
nas mil forças que tenho bem dispersas.

Engrinalda-me com os Teus Braços

Teu corpo de âmbar, gótico, afilado,
Sempre velado de cheirosos linhos,
Teu corpo, aprilino prado,
Por onde o meu desejo, pastor brando,
Risonho há-de viver, pastoreando
Meus beiços, desinquietos cordeirinhos,
Teu corpo Ă© esbelto, Ăł zagaia esguia,
Como as harpas que o pai de SalomĂŁo tangia!

Teu corpo eléctrico, ogival,
NĂşbil, sequinho, perturbante,
É uma dispensa real:
Os teus olhos sĂŁo duas cabacinhas
Cheias dum vinho estonteante
Os teus dentes sĂŁo alvas camarinhas,
Os teus dedos, suavĂ­ssimos espargos,
E os teus seios, pĂŞssegos verdes mas nĂŁo amargos.

Lira de nervos, glĂłria das trigueiras,
Como tu Ă©s graciosa! As laranjeiras,
Desde que viste o sol com esses sĂłis amados,
SĂł vinte vezes perfumaram noivados!
Nobre e graciosa Ă©s, morena das morenas,
Como as senhoras de olhos belos,
Que passeavam nos jardins de Atenas
Com uma cigarra de ouro nos cabelos!

Como tu, eu sou moço! e atrevido
Com Anceu, rei de Samos,
E jamais caçador me fez vencido,
Quando, caçando o javali, ando entre os ramos.
O meu peito Ă© de jaspe,

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a teia do olhar

as duas mĂŁos no rosto

descrevo-te o silêncio sob os lábios
juntos
agora celebrando as delicadas sedes
e rindo sobre a haste
onde a saliva tarda

o tacto Ă© uma arma onde o esplendor devora
os sinuosos dedos
e paira sobre o ardor
onde incendeio os pulsos

o amor é uma dança
a demolir-me o peito

Aleluia

Era a mulher — a mulher nua e bela,
Sem a impostura inĂştil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela…
Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bĂ­blicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.
Era o seu corpo — a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.
Era a mulher — a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo…
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nĂłs, homens, o direito Ă  vida!