A Dependência é a Raiz de Todos os Males
O que deve um cão a um cão, um cavalo a um cavalo? Nada. Nenhum animal depende do seu semelhante. Tendo porém o homem recebido o raio da Divindade a que se chama razão, qual foi o resultado? Ser escravo em quase toda a terra. Se o mundo fosse o que parece dever ser, isto é, se em toda parte os homens encontrassem subsistência fácil e certa e clima apropriado à sua natureza, impossível teria sido a um homem servir-se de outro. Cobrisse-se o mundo de frutos salutares. Não fosse veículo de doenças e morte o ar que contribui para a existência humana. Prescindisse o homem de outra morada e de outro leito além do dos gansos e cabras monteses, não teriam os Gengis Cãs e Tamerlões vassalos senão os próprios filhos, os quais seriam bastante virtuosos para auxiliá-los na velhice.
No estado natural de que gozam os quadrúpedes, aves e répteis, tão feliz como eles seria o homem, e a dominação, quimera, absurdo em que ninguém pensaria: para quê servidores se não tivésseis necessidade de nenhum serviço? Ainda que passasse pelo espírito de algum indivíduo de bofes tirânicos e braços impacientes por submeter o seu vizinho menos forte que ele,
Passagens sobre Dependência
61 resultadosO homem que sabe ser tímido está na dependência de todos os malandros.
A lição mais importante que a experiência ensina é conservar a dependência, e alimentá-la sem satisfazê-la, mesmo diante de um rei. Mas não se chegue a extremos, calando-se para que os outros errem ou tornando o mal irreversível em proveito próprio.
Dificuldade de Prever o Comportamento de qualquer Pessoa, o Nosso Inclusivamente
Sendo variável o nosso “eu”, que é dependente das circunstâncias, um homem jamais deve supor que conhece outro. Pode somente afirmar que, não variando as circunstâncias, o procedimento do indivíduo observado não mudará. O chefe de escritório que já redige há vinte anos relatórios honestos, continuará sem dúvida a redigi-los com a mesma honestidade, mas cumpre não o afirmar em demasia. Se surgirem novas circunstâncias, se uma paixão forte lhe invadir a mente, se um perigo lhe ameaçar o lar, o insignificante burocrata poderá tornar-se um celerado ou um herói.
As grandes oscilações da personalidade observam-se quase exclusivamente na esfera dos sentimentos. Na da inteligência, elas são muito fracas. Um imbecil permanecerá sempre imbecil.
As possíveis variações da personalidade, que impedem de conhecermos a fundo os nossos semelhantes, também obstam a que cada qual se conheça a si próprio. O adágio “Nosce te ipsum” dos antigos filósofos constitui um conselho irrealizável. O “eu” exteriorizado representa habitualmente uma personalidade de empréstimo, mentirosa. Assim é, não só porque atribuímos a nós mesmos muitas qualidades e não reconhecemos absolutamente os nossos defeitos, como também porque o nosso “eu” contém uma pequena porção de elementos conscientes, conhecíveis em rigor, e, em grande parte,
A maior alma é sempre insignificante ao pé da pequeníssima alma em cuja dependência está.
Tudo Está ao Nosso Alcance
A vida traz a cada um a sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, álgebra, pintura, arquitectura, poesia, comércio, política — todas estão ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos, tudo na dependência da selecção daquilo para que temos aptidão: comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo. É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como ferver água, se você fizer tudo na ordem correcta. Onde quer que haja insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição sobre a sorte, algum passo omitido, que a natureza jamais perdoa. Condições felizes de vida podem ser obtidas nos mesmos termos. A atracção que elas suscitam é a promessa de que estão ao nosso alcance. As nossas preces são profetas. É preciso fidelidade; é preciso adesão firme. Quão respeitável é a vida que se aferra aos seus objectivos! As aspirações juvenis são coisas belas, as suas teorias e planos de vida são legítimos e recomendáveis: mas você será fiel a eles? Nem um homem sequer, receio eu, naquele pátio repleto de gente, ou não mais que um em mil. E, se tentar cobrar deles a traição cometida,
Finda a guerra, a paz fica na dependência de negociações entre os vencedores.
Depender de Alguém
Depender de alguém, das ideias dos outros ou das filosofias das massas é negar a nossa própria existência, é abdicar totalmente do poder que nos foi concedido à nascença e a mais profunda ingratidão para com a oportunidade que nos foi dada de aqui estar. Como já o disse, cada um de nós é um ser especial e precioso, com responsabilidades pessoais e sociais diferentes de todos os outros. Cada um de nós pode fazer a diferença.
Quantas vezes já deixaste de arriscar porque não to permitiram? Quantas vezes já sonhaste com algo diferente daquilo que te foi imposto ou ensinado e por isso desististe? Quantas vezes foste feliz por depender de algo ou alguém?
Muitas pessoas optam, conscientemente, pela dependência por acharem que a vida se torna mais fácil nesse estado de submissão. Na verdade não lhes é exigido que lutem por nada, por ninguém e, muito menos, por elas. Agora, pergunto eu, que interesse é que isto tem? Esta gente, apesar de respirar e dar ares da sua graça, já morreu e só anda aqui a fazer figura de corpo presente, pois as suas vidas já não são desafiantes. Ser dependente é ter medo de assumir o risco das suas paixões,
A Verdadeira Afeição
– Como posso testemunhar a minha afeição?
– Como um homem de carácter, como um homem afortunado; pois a razão nunca exige que nos abaixemos, que nos lamentemos, que nos coloquemos sob a dependência de outrem, que nunca acusemos Deus nem um homem. É assim que quero ver-te testemunhar a afeição: na qualidade de um homem que quer observar essas prescrições. Mas se devido a essa afeição – qualquer que seja o sentimento a que chamas afeição – deves ser escravo e infeliz, não te é proveitoso mostrar-te afeiçoado.
O casamento é a relação entre homem e mulher na qual a independência é igual, a dependência é mútua e a obrigação recíproca.
Ciência é o conhecimento das consequências, e da dependência de um fato em relação a outro.
Obtém-se mais da dependência que da cortesia. Quem já matou a sede volta as costas para a fonte.
Atingir a Felicidade
Embora seja possível atingir a felicidade, a felicidade não é uma coisa simples. Existem muitos níveis. O Budismo, por exemplo, refere-se a quatro factores de contentamento ou felicidade: os bens materiais, a satisfação mundana, a espiritualidade e a iluminação. O conjunto destes factores abarca a totalidade da busca pessoal de felicidade. Deixemos de lado, por ora, as aspirações últimas a nível religioso ou espiritual, como a perfeição e a iluminação, e concentremo-nos unicamente sobre a alegria e a felicidade, tal como as concebemos a nível mundano. A este nível, existem certos elementos-chave que nós reconhecemos convencionalmente como contribuindo para o bem-estar e a felicidade. A saúde, por exemplo, é considerada como um factor necessário para o bem-estar. Um outro factor são as condições materiais ou os bens que possuímos. Ter amigos e companheiros, é outro. Todos nós concordamos que para termos uma vida feliz precisamos de um círculo de amigos com quem nos possamos relacionar emocionalmente e em quem possamos confiar.
Portanto, todos estes factores são causas de felicidade. Mas para que um indivíduo possa utilizá-los plenamente e gozar de uma vida feliz e preenchida, a chave é o estado de espírito. É crucial. Se utilizarmos as condições favoráveis que possuímos,
As mais exploradas são as mães do nosso povo. Elas estão de mãos e pés amarrados pela dependência econômica. São forçadas a vender-se no mercado do casamento, como suas irmãs prostitutas no mercado público.
Ninguém é Feliz quando Treme pela sua Felicidade
Ninguém é feliz quando treme pela sua felicidade. Não se apoia em bases sólidas quem tira a sua satisfação de bens exteriores, pois acabará por perder o bem-estar que obteve. Pelo contrário, um bem que nasce dentro de nós é permanente e constante, e vai sempre crescendo até ao nosso último momento; todos os demais bens ante os quais se extasia o vulgo são bens efémeros. “E então? Quer isso dizer que são inúteis e não podem dar satisfação?” É evidente que não, mas apenas se tais bens estiverem na nossa dependência, e não nós na dependência deles. Tudo quanto cai sob a alçada da fortuna pode ser proveitoso e agradável na condição de o seu beneficiário ser senhor de si próprio em vez de ser servo das suas propriedades. É um erro pensar-se, Lucílio, que a fortuna nos concede o que quer que seja de bom ou de mau; ela apenas dá a matéria com que se faz o bom e o mau, dá-nos o material de coisas que, nas nossas mãos, se transformam em boas ou más.
O nosso espírito é mais poderoso do que toda a espécie de fortuna, ele é quem conduz a nossa vida no bom ou no mau sentido,
Amar é uma operação da alma sem dependência do corpo, apaixonar-se é uma operação do corpo sem dependência da alma.
A Confiança é o Elo entre a Sociedade e a Amizade
Ainda que a sinceridade e a confiança estejam relacionadas, são, no entanto, diferentes: a sinceridade consiste em abrir o coração e em mostrarmo-nos tal como somos por amor da verdade. Odeia o disfarce e quer reparar as suas faltas, mesmo que para isso seja preciso diminui-las pelo valor da confissão. Quanto à confiança, esta não nos concede o mesmo grau de liberdade, as suas regras são mais rigorosas, requer mais prudência e moderação. Ora, nem sempre estamos livres para obedecer a estes requisitos. Não somos só nós, no que a ela diz respeito, que estamos envolvidos, porque os nossos interesses misturam-se quase sempre com os dos outros. Requer uma enorme justeza para não levar os nossos amigos a entregarem-se, pelo facto de nós nos termos entregado, como para lhes oferecer um presente, com a única intenção de aumentar o preço do que nós damos.
Fica-se sempre satisfeito com o facto de os outros depositarem confiança em nós porque é um tributo que oferecemos ao nosso mérito, é um depósito que fazemos à nossa confiança, são, enfim, fianças que lhes dão algum direito sobre nós, isto é, aceitamos uma certa dependência à qual nos sujeitamos voluntariamente. Não, não é minha intenção destruir com as minhas palavras a confiança,
Não Há Paz no Mundo
Enchem a boca de paz, e não há tal paz no mundo. E senão, quem há tão cego, que não veja o mesmo hoje em toda a parte? Dizem que há paz nos reinos, e os vassalos não obedecem aos reis: dizem que há paz nas cidades, e os súbditos não obedecem aos magistrados: dizem que há paz nas famílias, e os filhos não obedecem aos pais: dizem que há paz nos particulares, e cada um tem dentro em si mesmo a maior e a pior guerra. Havia de mandar a razão, e o racional não lhe obedece; porque nele, e sobre ela domina o apetite. (…) A paz do mundo é guerra que se esconde debaixo da paz. Chama-se paz e é lisonja: chama-se paz, e é dissimulação: chama-se paz, e é dependência: chama-se paz, e é mentira, quando não seja traição.
Sempre que crias dependência, geras expectativa.
Proposição das rimas do poeta
Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores:Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores:E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns cuja aparência
Indique festival contentamento,Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.