Passagens sobre Dois

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Frases sobre dois, poemas sobre dois e outras passagens sobre dois para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A palavra ser (sein) significa duas coisas em alemão: estar aí (Dasein) e pertencer-lhe (Ihm gehoren).

O Papel Mais Belo

A mulher solteira que vive sem família, ou tendo de sustentar a família, acho que devem ser dadas todas as facilidades legais para prover ao seu sustento e ao sustento dos seus. Mas à mulher casada, como o homem casado, é uma coluna da família, base indispensável duma obra de reconstrução moral. Dentro do lar, claro está, a mulher não é uma escrava. Deve ser acarinhada, amada e respeitada, porque a sua função de mãe, de educadora dos seus filhos, não é inferior à do homem. Nos países ou nos lugares onde a mulher casada concorre com o trabalho do homem – nas fábricas, nas oficinas, nos escritórios, nas profissões liberais – a instituição da família, pela qual nos batemos como pedra fundamental duma sociedade bem organizada, ameaça ruína… Deixemos, portanto, o homem a lutar com a vida no exterior, na rua… E a mulher a defendê-la, a trazê–la nos seus braços, no interior da casa… Não sei, afinal, qual dos dois terá o papel mais belo, mais alto e mais útil…

Em Louvor das Crianças

Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que,

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Dragões e Duendes

Nada a fazer: virasse-se um homem para onde se virasse, todos os filmes e todos os livros e todas as peças de teatro e tudo o mais que se houvesse inventado para contar histórias e obrigar-nos a perdermo-nos e a reencontrarmo-nos e a perdermo-nos e a reencontrarmo-nos nelas pareciam agora girar em torno de dragões e águias colossais, de fadas e de elfos, de duendes e de vampiros, de mutantes com duas cabeças e de extraterrestres assassinos que nos pousavam no quintal para fazer amizade e, à traição, subjugar o Homo sapiens. Algures ao longo do caminho, pegáramos no velho rapaz-conhece-rapariga, envergonháramo-nos dele e prometêramos a nós próprios jamais voltar a deixar-nos fascinar pela pungência desse encontro, pela força desse inesperado cruzamento entre dois seres que se surpreendem mutuamente e, de repente, tivessem de viver juntos para sempre ou de imediato matar-se um ao outro. E, portanto, ali andava eu, todas as noites, aborrecendo-me de morte com as aventuras de um hobbit, bocejando com a saga dos goblins azuis e adormecendo ao compasso de um feiticeiro órfão que, de varinha em riste, salvava a cena por mais um dia, embora no dia seguinte os hobbits e os goblins e os dragões e os duendes e a puta que os pariu voltassem,

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Com os princípios quer-se tiranizar os hábitos, ou justificá-los ou honrá-los ou injuriá-los ou escondê-los: – dois homens com princípios iguais querem, verosimilmente, atingir com eles algo de fundamentalmente diferente.

Elegia do Amor

Lembras-te, meu amor,
Das tardes outonais,
Em que íamos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde só Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mão,
Um lírio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu, triste, meditava
Na vida, em Deus, em ti…
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepúsculo terno
E doce diluía,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos…
Erravam, pelo Azul,
Canções do fim do dia.
Canções que, de tão longe,
O vento vagabundo
Trazia, na memória…
Assim o que partiu
Em frágil caravela,
E andou por todo o mundo,
Traz, no seu coração,
A imagem do que viu.

Olhavas para mim,
Às vezes, distraída,
Como quem olha o mar,
À tarde, dos rochedos…
E eu ficava a sonhar,
Qual névoa adormecida,
Quando o vento também
Dorme nos arvoredos.
Olhavas para mim…
Meu corpo rude e bruto
Vibrava,

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Duas verdades em que os homens em geral nunca acreditarão: a primeira, a de não saber nada, a segunda, a de não ser nada. Acrescente a terceira, que depende muito da segunda: a de não ter nada a esperar depois da morte.

O Carácter não se Revela no muito Consumir, mas no muito Criar

A primeira regra do carácter é a unidade – ou, nas palavras de Goethe, «ser um todo ou juntar-se a um todo». E a segunda, avançar, nunca recuar. Essas duas regras traçam uma linha de desenvolvimento em ascensão, da qual o homem de valor pode desviar-se numa certa medida, não tanto, porém, que os desvios enublem a regra. No primeiro grupo de instintos, por exemplo, poderá ser admitido o da limpeza, embora seja instinto com raízes no impulso negativo da repugnância. «Na criança – diz Nietzsche – o senso da limpeza deve ser estimulado vivamente, porque mais tarde florirá sobre aspectos novos até às alturas da virtude.» O asseio está próximo da devoção; e como é, se não há deuses? Mas não queremos chegar ao ascetismo de um banho frio perpétuo, nem que nos tornemos Apolos do cabelo bem penteado, nem vítima das manicuras; e sentiremos sempre uma secreta inveja daquele estadista teólogo que não deixava a sua ortodoxia interferir no seu apetite.
A mesma atitude tomaremos em relação à pugnacidade e à sua espora, o orgulho; temos aqui virtudes, não vícios – que podamos para que se desenvolvam melhor. Nada de impetuosidade briguenta e de presunção; a presunção é o orgulho da vitória apenas imaginária,

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Uma vida a dois é construir um sonho a quatro mãos; é edificar um lar, filhos, conquistar o mundo. É, quando longe, ter uma razão para voltar, qual um pássaro que retorna feliz para o aconchego do ninho!

O casamento é tratar de solucionar a dois os problemas que nunca haveriam surgido se se estivesse sozinho.

Quando uma Terceira Pessoa fica a par de um Assunto Privado…

É impossível ultrapassar um incidente ocorrido entre duas pessoas a partir do momento em que ele deixa de ser um segredo entre elas. Pois, a partir do momento em que um terceiro, a partir do momento em que outros indivíduos não envolvidos – como não pode deixar de acontecer – são postos a par do segredo, este incidente que até então era apenas uma questão entre duas pessoas, inicia uma nova existência em consciências estranhas; assume uma nova forma, adquire um novo sentido, pode prolongar-se e repercutir-se finalmente de modo misterioso nas duas pessoas entre as quais ocorreu.

Viver na Luz ou no Reflexo da Vida

Todos aqueles que a fortuna pôs em evidência, que se distinguiram como agentes e partícipes de um poder alheio, somente gozaram de reputação e viram as suas casas cheias de visitantes enquanto em posição de destaque: assim que desapareceram, rapidamente foram esquecidos. Em contrapartida, o apreço que se dá aos homens de génio cresce sempre; e não são apenas eles que recebem homenagem, mas tudo quanto está ligado à sua memória.
(…) Tu atribuis uma certa grandeza ao tipo de vida que deverás abandonar; embora tenhas uma antevisão da vida sábia e tranquila a que irás aceder, o brilho aparente da vida mundana continua a atrair-te, como se o facto de abandonares a sociedade equivalesse a caíres numa vida de obscuridade completa. Estás enganado, Lucílio: passar da vida mundana à vida da sabedoria é uma ascensão! A luz distingue-se do reflexo por ter a sua origem em si mesma, enquanto o reflexo brilha com luz alheia; a mesma diferença separa os dois tipos de vida: a vida mundana tira o seu brilho de circunstâncias exteriores, e o mínimo obstáculo imediatamente a torna sombria; a vida do sábio, essa brilha com a sua própria luminosidade!

É Preciso Viver-se com Paixão

A paixão é o mote, a ausência dela é a morte. A paixão é o sentido e os sentidos, a ausência dela é o inadmitido e os proibidos. A paixão é, a ausência dela não. Já te questionaste, por exemplo, sobre a relação amorosa que tens ou sobre as relações fugazes que vais tendo? Encontras pontos de paixão recentes na primeira? Justificas a segunda pelos sismos de emoções que experiencias?
Se na primeira a tua resposta tiver sido «Sim», quero que saibas que fico muito orgulhoso de ti, tanto quanto o tempo que já levas de relação, pois revelas uma enorme sede de viver.
Se a tua resposta tiver sido um redondo «Não», pergunto-te eu: o que é que ainda estás a fazer com essa pessoa?
Na minha vida, sempre que a paixão desaparece eu mudo. Mudo de pessoas, mudo de trabalho, mudo de lugar, mudo de “hobbie”, mudo tudo. É preciso viver-se com paixão, pois não se vive de outra forma. Seguindo o exemplo que te estava a dar, todas as minhas relações acabaram quando a paixão findou. Não faço fretes, não posso ter medo de magoar a outra pessoa nem me posso obrigar a estar com alguém com a qual não me sinto eu.

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Duas coisas povoam a mente com uma admiração e respeito sempre novos e crescentes…o céu estrelado por cima e a lei moral dentro de nós.

O Amor é a Mais Forte das Paixões

Por que é que gozamos com cada nova beleza que descobrimos no que amamos? Porque cada nova beleza nos dá a inteira e total satisfação de um desejo. Se a queremos sensível ela será sensível. Se em seguida a queremos orgulhosa como a Émilie de Corneille, embora estas duas qualidades sejam provavelmente incompatíveis, ela aparece imediatamente com uma alma romana. É esta a razão moral porque o amor é a mais forte das paixões. Nas outras, os desejos têm que se acomodar às tristes realidades; nesta, são as realidades que se apressam a identificar-se com os desejos; ela é, portanto, a paixão em que os desejos violentos têm uma maior realização.

O Peso Bruto da Irritação

Se fôssemos contabilizar as paixões desta vida, os ódios e os amores, os grandes sobressaltos, as comoções, os transtornos, os arrebatamentos e os arroubos, os momentos de terror e de esperança, os ataques de ansiedade e de ternura, a violência dos desejos, os acessos de saudade e as elevações religiosas e se as somássemos todas numa só sensação, não seria nada comparada com o peso bruto da irritação. Passamos mais tempo e gastamos mais coração a sermos irritados do que em qualquer outro estado de espírito.
Apaixonamo-nos uma vez na vida, odiamos duas, sofremos três, mas somos irritados pelo menos vinte vezes por dia. Mais que o divórcio, mais que o despedimento, mais que ser traído por um amigo, a irritação é a principal causa de «stress» — e logo de mortalidade — da nossa existência.
É a torneira que pinga e o colega que funga, a criança que bate com o garfinho no rebordo do prato, a empregada que se esquece sempre de comprar maionnaise, a namorada que não enche o tabuleiro de gelo, o namorado que se esquece de tapar a pasta dentrífica, a nossa própria incompetência ao tentar programar o vídeo, o homem que mete um conto de gasolina e pede para verificar a pressão dos pneus,

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