No mundo quis o Tempo que se achasse
No mundo quis o Tempo que se achasse
O bem que por acerto ou sorte vinha;
E, por exprimentar que dita tinha,
Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.Mas por que meu destino me mostrasse
Que nem ter esperanças me convinha,
Nunca nesta tĂŁo longa vida minha
Cousa me deixou ver que desejasse.Mudando andei costume, terra e estado,
Por ver se se mudava a sorte dura;
A vida pus nas mãos de um leve lenho.Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado,
Já sei que deste meu buscar ventura
Achado tenho já que não a tenho.
Passagens sobre Esperança
917 resultadosBrasil, condenado à esperança.
Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmoSou grĂŁo de rocha
Sou o vento que a desgastaSou pĂłlen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvoresExisto onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuroNo mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
O Amor Ă©…
O amor Ă© o inĂcio. O amor Ă© o meio. O amor Ă© o fim. O amor faz-te pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor Ă© um prĂ©mio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor Ă© um farol e um naufrágio. O amor Ă© alegria. O amor Ă© tristeza. É ciĂşme, orgasmo, ĂŞxtase. O nĂłs, o outro, a ciĂŞncia da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força.
O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz.
O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda.
Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te.
O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor Ă© um sucesso. E um fracasso.
Só se está intranquilo enquanto se tem esperanças.
A vida se renova na esperança de um dia novo.
Elegia em Chamas
Arde no lar o fogo antigo
do amor irreparável
e de sĂşbito surge-me o teu rosto
entre chamas e pranto, vulnerável:Como se os sonhos outra vez morressem
no lume da lembrança
e fosse dos teus olhos sem esperança
que as minhas lágrimas corressem.
O Mais InfalĂvel Veneno Ă© o Tempo
Tabaco, cafĂ©, álcool, ácido prĂşssico, estricnina — todos nĂŁo passam de poções diluĂdas: o mais infalĂvel veneno Ă© o tempo. Essa taça, que a natureza nos põe nos lábios, possui uma propriedade maravilhosa que supera qualquer outra bebida. Ela abre os sentidos, adiciona poder e povoa-nos de sonhos exaltados, a que chamamos esperança, amor, ambição, ciĂŞncia. Em particular, ela desperta o desejo por maiores doses de si. Mas aqueles que tomam as maiores doses ficam embriagados, perdem estatura, força, beleza e sentidos, e terminam em fantasia e delĂrio. NĂłs adiamos o nosso trabalho literário atĂ© que tenhamos maturidade e tĂ©cnica para escrever, mas um dia descobrimos que o nosso talento literário nĂŁo passava de uma efervescĂŞncia juvenil que perdemos.
Das Vozes que Te Embalavam
Das vozes que te embalavam
a esperança de menina
moça
guardaste mais, de tanto repisadas,
as perfumadas lições
da nobre arte de agarrar um homem.
De como te fazeres desejada,
amada porventura,
tudo aprendeste: os gestos, os meneios,
a graça de sorrir e de calar.
Hoje tens o teu homem
disposto a desdobrar-se em pĂŁo e vinho
para apagar tua fome.
por isso, que lhe hás de dar:
o trigo de tua pele, as uvas de tua boca?
Se sem a ponte do amor, tua lavoura Ă© tĂŁo pouca…
Acorda: onde estĂŁo as vozes que te ensinaram a amar?
A mulher mais honesta não resiste à tentação de parecer sedutora e, sem pensar em dar uma esperança, não desgosta de deixar um espinho.
O que se consegue no que se obtém é quase sempre a decepção. Não é que falte muitas vezes seja o que for nisso que se consegue. Mas falta a esperança ou o desejo de o conseguir.
O Que Verdadeiramente Mata Portugal
O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angĂşstia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, Ă© a desconfiança. O povo, simples e bom, nĂŁo confia nos homens que hoje tĂŁo espectaculosamente estĂŁo meneando a pĂşrpura de ministros; os ministros nĂŁo confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores nĂŁo confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vĂŁo: «Sede honrados», e vĂŞem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição nĂŁo confiam uns nos outros e vĂŁo para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpĂ©tua leva Ă confusĂŁo e Ă indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espĂritos. NĂŁo se pressentem soluções nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o paĂs, vendo os mesmos homens pisarem o solo polĂtico, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadĂŞncia. A polĂtica, sem actos, sem factos, sem resultados, Ă© estĂ©ril e adormecedora.
Quando numa crise se protraem as discussões, as análises reflectidas, as lentas cogitações, o povo nĂŁo tem garantias de melhoramento nem o paĂs esperanças de salvação.
Se voltasse a ser jovem e tivesse de escolher uma profissĂŁo, nĂŁo tentaria tornar-me cientista, acadĂ©mico ou professor. Preferiria ser canalizador ou vendedor ambulante na esperança de obter aquele modesto grau de independĂŞncia ainda possĂvel nas circunstâncias actuais.
Saint-Just
Quando à tribuna ele se ergueu, rugindo,
– Ao forte impulso das paixões audazes
Ardente o lábio de terrĂveis frases
E a luz do gĂŞnio em seu olhar fulgindo,A tirania estremeceu nas bases,
De um rei na fronte ressumou, pungindo,
Um suor de morte e um terror infindo
Gelou o seio aos cortesĂŁos sequazes –Uma alma nova ergueu-se em cada peito,
Brotou em cada peito uma esperança,
De um sono acordou, firme, o Direito –E a Europa – o mundo – mais que o mundo, a França –
Sentiu numa hora sob o verbo seu
As comoções que em séculos não sofreu!
De Que SĂŁo Feitos os Dias?
De que sĂŁo feitos os dias?
– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inactuais esperanças.De loucuras, de crimes,
de pecados, de glĂłrias
– do medo que encadeia
todas essas mudanças.Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…
Quem exige ajuda constante, e, do mesmo modo, quem nunca a presta, não é amigo. O primeiro quer comprar o nosso esforço com o seu afecto; o segundo nos rouba, para todo o futuro, a esperança consoladora.
Não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento.
Presença Bela, Angélica Figura
Presença bela, angélica figura,
em quem, quanto o Céu tinha, nos tem dado;
gesto alegre, de rosas semeado,
entre as quais se está rindo a Fermosura;olhos, onde tem feito tal mistura
em cristal branco o preto marchetado,
que vemos já no verde delicado
não esperança, mas enveja escura;brandura, aviso e graça, que aumentando
a natural beleza cum desprezo,
com que, mais desprezada, mais se aumenta;são as prisões de um coração que, preso,
seu mal ao som dos ferros vai cantando,
como faz a sereia na tormenta.
Qualquer que seja a crise de sua vida nunca destruas as flores da esperança para que possas colher os frutos da fé.
Posto me tem Fortuna em tal estado
Posto me tem Fortuna em tal estado,
E tanto a seus pés me tem rendido!
Não tenho que perder já, de perdido;
Não tenho que mudar já, de mudado.Todo o bem pera mim é acabado;
Daqui dou o viver já por vivido;
Que, aonde o mal Ă© tĂŁo conhecido,
Também o viver mais será escusado,Se me basta querer, a morte quero,
Que bem outra esperança não convém;
E curarei um mal com outro mal.E, pois do bem tĂŁo pouco bem espero,
Já que o mal este só remédio tem,
Não me culpem em querer remédio tal.