Somente em Ser Mudável Tem Firmeza
Todo animal da calma repousava,
SĂł Liso o ardor dela nĂŁo sentia;
Que o repouso do fogo, em que ele ardia,
Consistia na Ninfa que buscava.Os montes parecia que abalava
O triste som das mágoas que dizia:
Mas nada o duro peito comovia,
Que na vontade de outro posto estava.Cansado já de andar pela espessura,
No tronco de uma faia, por lembrança
Escreve estas palavras de tristeza:Nunca ponha ninguém sua esperança
Em peito feminil, que de natura
Somente em ser mudável tem firmeza.
Passagens sobre Esperança
917 resultadosNunca se sinta um coitado diante dos seus problemas, caso contrário eles tornam-se um «monstro». Todas as doenças emocionais amam o «coitadismo» e florescem na alma de pessoas passivas. Seja um agente modificador da sua histĂłria. (…) Acredite na vida, reacenda as chamas da esperança e disponha-se a intervir no palco da sua mente. Tais atitudes começam a preparar o caminho da saĂşde emocional.
SĂł se Cria na Diversidade
Todos os pensamentos que renunciam Ă unidade exaltam a diversidade. E a diversidade Ă© o local da arte. O Ăşnico pensamento que liberta o espĂrito Ă© aquele que o deixa sĂł, certo dos seus limites e do seu fim prĂłximo. Nenhuma doutrina o solicita. Ele espera o amadurecimento da obra e da vida. Separada dele, a primeira fará ouvir, uma vez mais, a voz levemente ensurdecida de uma alma para todo o sempre liberta da esperança. Ou nada fará ouvir, se o criador, cansado do seu jogo, pretende afastar-se. Tudo isso se equivale.
A Vida Ă© uma Busca
A vida Ă© uma busca — uma busca constante, uma busca desesperada, uma busca sem esperança, uma busca de algo que nĂŁo se sabe o que Ă©. Há um forte impulso para procurar, mas nĂŁo se sabe o que se procura. E há um certo estado de espĂrito em que nada daquilo que consegue lhe dará qualquer satisfação. A frustração parece ser o destino da humanidade, porque tudo aquilo que se obtĂ©m perde o sentido no momento exacto em que se consegue. Começa-se novamente a procurar.
A busca continua, quer se consiga alguma coisa ou nĂŁo. Parece ser irrelevante o que se tem e o que nĂŁo se tem, pois a busca continua de qualquer maneira. Os pobres andam Ă procura, os ricos andam Ă procura, os doentes andam Ă procura, os que estĂŁo bem andam Ă procura, os poderosos andam Ă procura, os estĂşpidos andam Ă procura, os sensatos andam Ă procura – e ninguĂ©m sabe exactamente de quĂŞ.Essa mesma procura — o que Ă© e porque existe — tem de ser compreendida. Parece haver um hiato no ser humano, na mente humana. Na prĂłpria estrutura da consciĂŞncia humana parece haver um buraco, um buraco negro.
Retrato do Artista em CĂŁo Jovem
Com o focinho entre dois olhos muito grandes
por trás de lágrimas maiores
este Ă© de todos o teu melhor retrato
o de cĂŁo jovem a que sĂł falta falar
o de cão através da cidade
com uma dor adolescente
de esquina para esquina cada vez maior
latindo docemente a cada lua
voltando o focinho a cada esperança
ainda sem dentes para as piores surpresas
mas avançando a passo firme
ao encontro dos alimentosaqui estás tal qual
és bem tu o cão jovem que ninguém esperava
o cĂŁo de circo para os domingos da famĂlia
o cĂŁo vadio dos outros dias da semana
o cĂŁo de sempre
cada vez que há um cão jovem
neste local da terra
Enquanto há vida, há esperança.
Seguimos a MultidĂŁo
Nos nossos contactos quotidianos seguimos a multidĂŁo, deixamo-nos levar por esperanças e temores subalternos, tornamo-nos vĂtimas das nossas prĂłprias tĂ©cnicas e implementos, e desusamos o acesso que temos ao oráculo divino. É apenas enquanto a alma dorme que nos servimos dos prĂ©stimos de tantas maquinarias e muletas engenhosas. De que servem os telĂ©grafos? Qual a utilidade dos jornais? O homem sábio nĂŁo aguarda os correios nem precisa ler telegramas para descobrir como se sentem os homens no Kansas ou na CalifĂłrnia durante uma crise social. Ele ausculta o seu prĂłprio coração. Se eles sĂŁo feitos como ele Ă©, se respiram o mesmo ar e comem o mesmo trigo, se tĂŞm mulheres e filhos, ele sabe que a sua alegria e ressentimento atingem o mesmo ponto que o seu. A alma Ăntegra está em perpĂ©tua comunicação telegráfica com a fonte dos acontecimentos, dispõe de informação antecipada, qual despacho particular, que a exime e alivia do terror que oprime o restante da comunidade.
Ensinai a esperar; porque com a isca da esperança tragamos o anzol da vida.
… Já coloquei a mĂşsica que me fazia mal e fechei os olhos, lembrando de tudo que estava me corroendo, sĂł pra chorar, na esperança de tudo aquilo passar…
A verdadeira felicidade é mais profunda que qualquer tristeza, é a esperança que subjaz às dores mais profundas.
A esperança promete bens, o temor ameaça males, e entre promessas e ameaças tanto vem a se padecer o que se espera, como o que se teme.
Terra Do Brasil
Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança…Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memĂłria,
ó doce Pátria, sonharei contigo!E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!
A Grande RenĂşncia
Cedo ou tarde, a todo o homem chega a grande renĂşncia. Para o jovem nĂŁo existe nada inalcançável. Que algo bom e desejado com toda a força de uma vontade apaixonada seja impossĂvel, nĂŁo lhe parece crĂvel. Mas, ou por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nĂłs Ă© forçado a aprender que o mundo nĂŁo foi feito para nĂłs e que, nĂŁo importa quĂŁo belas as coisas que almejamos, o destino pode, nĂŁo obstante, proibi-las. É parte da coragem, quando a adversidade vem, suportá-la sem lamentar a derrocada das nossas esperanças, afastando os nossos pensamentos de vĂŁos arrependimentos. Esse grau de submissĂŁo (…) nĂŁo Ă© somente justo e correcto: ele Ă© o portal da sabedoria.
Pratique a esperança. Ă€ media que a esperança se torna um hábito, vocĂŞ consegue alcançar um espĂrito permanentemente feliz.
Havendo Escapado de uma Grande Doença
Foi tĂŁo cruel, tĂŁo duramente forte
A que passei tormenta repetida,
Que não fazendo já conta da vida,
SĂł chegava a fazer caso da morte.Mas lastimada de meu mal a sorte,
Quando já me notava na partida,
PropĂcia e favorável me convida
Com porto alegre, com seguro norte.Altiva torre fabriquei no vento,
Mas a esperança, vã que nela tive
O vento ma levou que sempre corre.Do mundo o céu nos dê conhecimento,
Que a desgraça é morrer como quem vive,
E a ventura Ă© viver como quem morre.
O ódio tem a sua cristalização; mal temos a esperança de nos vingar, começamos a odiar.
A esperança reluz como uma haste de palha num estábulo.
In Extremis
1
Só a criança conhece a Eternidade
Que Ă© inocĂŞncia do desconhecido.
E o que me dá saudade
É havê-la em mim perdido.Outra herança de tudo que não sou
Podeis levá-la! Faça-se a vontade:
Que a imortal, perene propriedade,
Perdeu-a o homem quando semeou.Ah! como a onda do mar que Ă© mais bravia
É que abraça os escolhos,
SĂł terra de poesia
Foi na minh’alma dor, o luto dos meus olhos.Entre o homem e o mundo há um novelo
De linha preta:
Meu acto de Fé é ser criança, e crê-lo,
Que Ă© ser poeta.2
O que levamos da terra
É o cĂ©u que possuĂmos:
Esperança das sepulturas.E à morte que damos vida
Todos os deuses se igualam
Ao mesmo Deus das Alturas.SĂŞ, Ăł Morte, o meu dia de JuĂzo
Se Ă© fantasia o que penso
Sonho a terra que piso.Mas quando o corpo, a natureza morta
Me for nas mĂŁos dos homens
Com suas luvas pretas,
Amor Sem Fruto, Amor Sem Esperança
Amor sem fruto, amor sem esperança
É mais nobre, mais puro,
Que o que, domando a rĂspida esquivança,
Jaz dos agrados nas prisões seguro.
Meu leal coração, constante e forte,
Vendo a teu lado acesos,
Flérida ingrata, os ódios, os desprezos,
O rigor, a tristeza, a raiva, a morte,
Forjando contra mim, por ordem tua,
Mil setas venenosas,
Em prémio destas lágrimas saudosas,
Inda assim continua
A abrasar-se em teus olhos… Vis amantes,
Corações inconstantes,
De sórdidas paixões envenenados,
VĂłs, a cujos ardores,
A cujos desbocados
Infames apetites
A Virtude, a Razão não põe limites,
Suspirai por ilĂcitos favores,
Cevai-vos em torpĂssimos desejos,
Tratai, tratai de louco um amor casto,
Que eu nos grilhões que arrasto;
TĂŁo limpos como o Sol, darei mil beijos.
Peçonhenta aliança,
Vergonhoso prazer, de vĂłs nĂŁo curo;
De ti, sim, porque és puro,
Amor sem fruto, amor sem esperança.
Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os pesadelos, até a esperanças em todas as suas formas.