A mulher mais honesta não resiste à tentação de parecer sedutora e, sem pensar em dar uma esperança, não desgosta de deixar um espinho.
Passagens sobre Espinhos
87 resultadosOs espinhos que me feriram foram produzidos pelo arbusto que plantei.
Eu tudo compreendo, tudo sei; tenho passado a vida a arrancar-me espinhos, que não há nada que não tenha passado em mim; e a ronda trágica desta vida tem dançado comigo todas as suas danças. E para tudo tenho encontrado remédio, e tenho-me arrastado sempre; embora cansada e esfarrapada, tenho-me deixado viver.
A SolidĂŁo Ă© Necessária ao ConvĂvio
As pessoas estĂŁo prontas a viver em bom entendimento, mas nĂŁo querem ser viciadas em agradar. A condição humana assenta num pressuposto equilibrado: a vida agrada a uns e desagrada a outros. Há uma parte da solidĂŁo que nĂŁo podemos compor, e Ă© melhor que assim seja, porque Ă© na solidĂŁo que assenta a diferença tĂŁo falada. É isso que se receia: que nos proĂbam a solidĂŁo, esse pequeno espinho que afinal nos faz solidários na multidĂŁo. Observem um grupo de pessoas que ri da mesma anedota: estĂŁo abertas a esse prazer do momento, mas nĂŁo se distraem da faculdade de serem sĂłs na sua fundamental forma de orgulho que Ă© serem Ăşnicas. A moral consta duma certa dose de cortesia para parecermos bons. «SĂł Deus Ă© bom.» Se percebermos esta conclusĂŁo, percebemos que imitar o bem Ă© tudo o que humanamente nos Ă© permitido.
Alvorada Eterna
Quando formos os dois já bem velhinhos,
já bem cansados, trôpegos, vencidos,
um ao outro apoiados, nos caminhos,
depois de tantos sonhos percorridos…Quando formos os dois já bem velhinhos
a lembrar tempos idos e vividos,
sem mais nada colher, nem mesmo espinhos
nos gestos desfolhados e pendidos…Quando formos só os dois, já bem velhinhos,
lá onde findam todos os caminhos
e onde a saudade, o chão, de folhas junca…Olha amor, os meus olhos, bem no fundo,
e hás de ver que este amor em que me inundo
Ă© uma alvorada que nĂŁo morre nunca!
Soneto V – À Sra. Marieta Landa
Disseste a nota amena d’alegria,
E, arrebatado entĂŁo nesse momento
De um doce, divinal contentamento,
Eu senti que minh’alma aos céus subia.Disseste a nota da melancolia,
Negra nuvem toldou-me o pensamento;
Senti que agudo espinho virulento
Do coração as fibras me rompia.És anjo ou nume, tu que desta sorte
Trazes o peito humano arrebatado
Em sucessivo e rápido transporte?!Anjo ou nume não és; mas, se te é dado
No canto dar a vida, ou dar a morte,
Tens nas mĂŁos teu Porvir, teu bem, teu fado.
Prece
Bendita sejas tu em meu caminho!
Bendita sejas tu, pela coragem
com que fizeste de um amor selvagem
esse amor que se humilha ao teu carinho!Bendita sejas, porque a tua imagem
suaviza toda angústia e todo espinho…
Já não maldigo a insipidez da viagem,
nem me sinto só, nem vou sozinho…Bendita sejas tantas vezes quantas
são as aves no céu; e são as plantas
na terra; e são as horas de emoçãoem que juntos ficamos, de mãos dadas,
como se nossas vidas irmanadas
vivessem por um mesmo coração!
Junta os Dons do EspĂrito Ă s Vantagens do Corpo
Para ser amado, sĂŞ amável, para o que nĂŁo bastará a beleza do rosto ou do corpo. Se pretendes conservar a tua amiga e nĂŁo teres nunca a surpresa de ser abandonado, mesmo que sejas Nireu, amado pelo velho Homero, ou o Hilas de delicada beleza que as Náiades raptaram por meio de um crime, junta os dons do espĂrito Ă s vantagens do corpo. A beleza Ă© um bem muito frágil, tudo o que se acrescenta aos anos a diminui, murcha com a prĂłpria duração. As violetas e os lĂrios com as suas corolas abertas nĂŁo florescem sempre; e na rosa, depois de caĂda, sĂł o espinho permanece. TambĂ©m tu, belo adolescente, cedo conhecerás cabelos brancos, cedo conhecerás as rugas que sulcam o teu corpo. Forma desde já um espĂrito que dure e fortalece a beleza; sĂł ele subsiste atĂ© Ă fogueira fĂşnebre.
Encontremos a coragem de purificar o nosso coração, retirando as pedras e os espinhos que sufocam a palavra de Deus.
A mente de quem busca exclusivamente sua prĂłpria salvação está afastada do todo, do Caminho. Fora do Caminho crescem espinhos que arruĂnam o destino.
A boca Ă© grande e os olhos sĂŁo pequenos. Ou como se diz aqui: o burro come espinhos com a sua lĂngua suave.
O preconceito Ă© um espinho demasiado fino; Ă© difĂcil arrancá-lo.
Acho a morte tĂŁo terrĂvel que odeio mais a vida por me conduzir Ă morte do que pelos espinhos que na vida se encontram.
Quem quer colher rosas deve suportar os espinhos.
MarĂlia
Ă“ MarĂlia! Ă“ Dirceu! Eram dois ninhos
Os vossos corações, ninhos de flores;
Mas, entre os quais, sentĂeis os rigores
Lacerantes de incógnitos espinhos;Tremiam, como em flácidos arminhos,
Promiscuamente, neles os amores,
As saudades, os cânticos, as dores,
Como uma multidĂŁo de passarinhos…O sulco profundĂssimo que traça
Nos corações amantes a desgraça,
Ambos nos corações traçados vistes,Quando os vossos olhares, no momento,
Cruzaram-se, do negro afastamento,
Marejados de lágrimas e tristes…
Soneto Ao Nosso Encontro
Desenrolam-se as curvas do caminho
à proporção que aos poucos avançamos…
Um dia, – e eu vinha então triste e sozinho,
– um dia, – vinhas só… nos encontramos…Desde esse dia, juntos, simulamos
duas asas de um mesmo passarinho,
– nesse destino que entrançou dois ramos
que dão a mesma flor… e o mesmo espinho…Depois de tantas curvas já vencidas
que sejamos ao fim de nossas vidas
na perfeição do amor que nos conduz,– como a folhagem que um só ninho esconde,
ou dois galhos que vĂŞm da mesma fronde
para juntos morrer na mesma cruz!
NĂŁo se pode colher rosas sem temer os espinhos, nem desfrutar uma bela esposa sem o risco dos cornos.
Baladas Românticas – Verde…
Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!…
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho…
Como me pesa a solidĂŁo!Ă“rfĂŁo de amor e de carinho,
Ă“rfĂŁo da luz do teu olhar,
– Verde também, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Te palpitava o coração…
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidĂŁo!Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
– Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar…
E digo a cada passarinho:
“Não cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exĂlio desta solidĂŁo!”No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mĂŁo!
Como inda é verde este caminho…
Mas como o afeia a solidĂŁo!
Falar de amor, e por dentro ter sentimento odioso, é como andar sob flores suaves, mas, escondido entre as pétalas ter espinhos agudos.
O homem de espĂrito nobre rega as flores para outros e para si reserva os espinhos.