Passagens sobre Espirituais

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As Montanhas

I

Das nebulosas em que te emaranhas
Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,
Qual é, na natureza espiritual,
A significação dessas montanhas!

Quem não vê nas graníticas entranhas
A subjetividade ascensional
Paralisada e estrangulada, mal
Quis erguer-se a cumíadas tamanhas?!

Ah! Nesse anelo trágico de altura
Não serão as montanhas, porventura,
Estacionadas, íngremes, assim,

Por um abortamento de mecânica,
A representação ainda inorgânica
De tudo aquilo que parou em mim?!

Dado que nos proporciona a maior das alegrias, a experiência do amor sempre foi considerada a porta para um nível superior de realidade. Numa perspetiva espiritual, contudo, o amor é mais do que o afeto profundo que sentimos pelos nossos companheiros, amigos e filhos. O amor é a nossa essência primordial.

Elegia do Amor

Lembras-te, meu amor,
Das tardes outonais,
Em que íamos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde só Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mão,
Um lírio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu, triste, meditava
Na vida, em Deus, em ti…
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepúsculo terno
E doce diluía,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos…
Erravam, pelo Azul,
Canções do fim do dia.
Canções que, de tão longe,
O vento vagabundo
Trazia, na memória…
Assim o que partiu
Em frágil caravela,
E andou por todo o mundo,
Traz, no seu coração,
A imagem do que viu.

Olhavas para mim,
Às vezes, distraída,
Como quem olha o mar,
À tarde, dos rochedos…
E eu ficava a sonhar,
Qual névoa adormecida,
Quando o vento também
Dorme nos arvoredos.
Olhavas para mim…
Meu corpo rude e bruto
Vibrava,

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A Força da Intuição

Para adquirirmos o bilhete de ida ao amor que somos basta estarmos atentos e confiarmos nos sinais que recebemos de dentro e de fora. São pistas, são oportunidades, autênticos tesouros que nos devolvem a casa. Será que estás desperto para isto? Será que consegues reconhecer-te enquanto sabedoria superior? Repito, todos os dias te surgem novas oportunidades. Todos os dias! Se existe força que nunca desiste é a nossa intuição. Todos os dias se faz ouvir e pode manifestar-se nas mais simples sensações.
Desde cedo que aprendi a escutar-me e a interpretar os sinais que a vida me dava. Não me sinto superior a ninguém, mas a consciencialização desta verdade coloca-nos num patamar distinto, de visibilidade maior e certezas absolutas. Certezas próprias, a nosso respeito, claro está. Convicções que nos catapultam para estados prolongados de felicidade e que nos permitem antecipar acontecimentos, habilitando-nos com um apurado leque de escolhas acertadas e condizentes com aquilo que verdadeiramente somos. Ou seja, já não vamos a todas, só vamos onde sentimos que devemos ir e onde sabemos que se encontram fragmentos nossos. Isto é ser espiritual.

Honestidade, sinceridade, simplicidade, humildade, pura generosidade, ausência de vaidade, prontidão para servir os outros – qualidades que estão ao fácil alcance de toda a gente -, são o fundamento da vida espiritual.

Se uma pessoa tem realmente um profundo interesse em crescer espiritualmente, a prática da meditação é imprescindível, é a chave para isso. Somente orações ou o simples desejo não influenciam de modo significativo a mudança espiritual interior.

O corpo é projeção da mente; não só o corpo carnal, mas também o corpo astral e o espiritual. Nenhum corpo é existência verdadeira. O corpo pode ser objeto de experimentos, mas o Espírito não.

A Castração da Personalidade

O homem é um animal gregário. Político, dizia Aristóteles, ou seja, membro da cidade. Mas não só da cidade – de todas as greis espontâneas ou artificiais, estáveis ou precárias, onde quer que se encontre. Não pode suportar a ideia de estar só, consigo – quer ser unidade e não individualidade. Tem necessidade de se sentir cotovelo com cotovelo, pele com pele, no calor de uma multidão, ligado, seguro, uniforme, conforme. Se o leão anda só, em nós predomina o instinto ovino, do rebanho – os próprios individualistas, para afirmar o seu individualismo, congregam-se: sempre segundo a prática ovina.

O homem, quando só, sente-se incompleto – tem medo. Opor-se à grei significa separar-se, permanecer só, morrer. Os conceitos do bem e do mal nascem da necessidade de convivência. É bem o que aproveita ao grupo, mal o que o prejudica ou não beneficia. O rebanho não quer que cada ovelha pense demasiado em si, e como a privilegiada é a que obtém a boa opinião das outras, vê-se forçada, ainda que contra os seus gostos e interesses, a agir no sentido do bem supremo do rebanho. Há que pagar, com a castração da personalidade, a segurança contra o medo.

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Mesmo que envolvamos um diamante com lama e imundícies, ele próprio não se macula. O diamante permanece limpo e puro sob a sujeira. O que está sujo é apenas a sujeira. Assim também é a essência espiritual do ser humano: por mais que o homem se envolva com pecados, jamais fica maculado; apenas encobre sua natureza verdadeira. É isto que queremos dizer quando afirmamos que ‘neste mundo não há um pecador sequer’. Na verdade, o que é pecaminoso é unicamente o pecado e não o ser verdadeiro, isento de pecado.

A Escolha Inteligente

Uma vida bem sucedida depende das escolhas que fizermos. Temos de saber o que é ou não importante para nós. A escolha inteligente implica um sentido realista dos valores e um sentido realista das proporções. Este processo de escolha – de aceitação por um lado e de rejeição pelo outro – começa na infância e continua pela vida fora. Não podemos ter tudo o que ambicionamos. O homem de negócios que procura o sucesso financeiro tem muitas vezes de abandonar os seus interesses de ordem desportiva ou cultural. Os que preferem servir os interesses espirituais, culturais ou políticos da sociedade – sacerdotes, escritores, artistas, militares, homens de estado e funcionários públicos em geral – têm quase sempre de relegar para segundo plano o bem-estar financeiro.
Com uma vida limitada não podemos ser ou fazer tudo. Estamos constantemente a ter de escolher com que e com quem passar o nosso tempo. Cultivar amizades toma tempo. Às vezes temos de recusar encontros e desapontar muitas pessoas para termos tempo de alcançar os nossos fins. Todos os dias temos de escolher entre as coisas que estão à venda. Não podemos ter o mundo inteiro, tal como uma criança não pode comprar todos os rebuçados da doçaria se tiver apenas um tostão.

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Já Está na Altura de Perder as Ilusões

As ilusões das pessoas vão mudando. Quando são jovens, têm a ilusão do amor; pensam que o amor talvez consiga abrir as portas de todos os mistérios. O amor abre realmente as portas, não as dos mistérios, mas as das misérias. Há outros indivíduos a quem só interessa ganhar dinheiro. Quando perguntaram a Henry Ford: «Ganhou mais dinheiro do que qualquer outra pessoa no mundo. Agora que chegou ao topo, como se sente?», ele respondeu: «Completamente frustrado, porque no topo não existe nada. O que aprendi ao longo de toda a minha vida foi a subir escadas. Fui subindo, na esperança de que no degrau seguinte pudesse estar a realização, mas a realização nunca se alcança.»
Quando as pessoas perdem as suas esperanças, ilusões e sonhos mundanos, então mudam e começam a ter esperança no crescimento espiritual, em Deus e no paraíso. Estas são as mesmas pessoas e as mesmas mentes que não aprenderam absolutamente nada.
A não ser que não possua quaisquer tipo de ilusões – o que significa que já não pensa no amanhã não conhecerá a verdade pura da existência, que apenas existe nesse momento. Não se encontrará em sintonia com o mesmo, e, portanto,

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Existem muitas pessoas que estão doentes por causa de desentendimentos no lar. Nenhum remédio e nenhuma terapia espiritual poderá curar pela raiz a doença dessas pessoas, enquanto não se eliminar a causa – a desarmonia no lar.

Por mais que expliquemos, quem está em nível espiritual diferente do nosso não consegue entender. Só nos resta semear e esperar. Um dia chegará à compreensão.

A Leitura é a Mais Nobre das Distracções

Se o gosto pelos livros aumenta com a inteligência, os perigos, como vimos, diminuem com ela. Um espírito original sabe subordinar a leitura à actividade pessoal. Ela é para ele apenas a mais nobre das distrações, sobretudo a mais enobrecedora, pois, só a leitura e o saber conferem «as boas maneiras» do espírito. O poder da nossa sensibilidade e da nossa inteligência, só o podemos desenvolver dentro de nós próprios, nas profundezas da nossa vida espiritual. Mas é nesse contacto com os outros espíritos que a leitura é, que se faz a educação das “maneiras” do espírito. Os letrados permanecem, apesar de tudo, como as pessoas notáveis da inteligência, e ignorar um determinado livro, uma determinada particularidade da ciência literária, será sempre, mesmo num homem de génio, uma marca de grosseria intelectual. A distinção e a nobreza consistem na ordem do pensamento também, numa espécie de franco-maçonaria de costumes, e numa herança de tradições.

A Recetividade Genuína

A recetividade genuína é uma espécie de inocência preciosa mas não tem de existir à custa de sermos frágeis e vulneráveis. Da mesma maneira, não tem de traçar limites pessoais muito firmes e definidos à custa da sensibilidade e da compaixão.

À medida que cresce a nossa consciência espiritual acerca da nossa verdadeira natureza, tornamo-nos mais compassivos e gentis porque reconhecemos e estabelecemos uma ligação com a pureza e a bondade dos outros a partir da nossa essência. Por isso permanecemos recetivos a todas as influências positivas e que exprimem a vida. Com o que não é útil nem benéfico para nós, simplesmente escolhemos não nos envolvermos nem prestar atenção. É assim que conseguimos manter-nos recetivos ao mesmo tempo que preservamos os nossos limites pessoais. A sua consciência de si opera como um filtro que deixa entrar o que é útil para a sua evolução e impede a entrada daquilo que não é. É como se fosse uma porta de rede. Deixa passar a brisa refrescante mas não deixa entrar as folhas.

Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor – me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.

Tudo é Divino

Há uma elasticidade cósmica, se assim lhe posso chamar, que é extremamente enganadora. Dá ao homem a ilusão temporária de que é capaz de mudar as coisas. Mas o homem acaba sempre por tornar a cair em si. É aí, na sua própria natureza, que pode e deve praticar-se a transmutação, e em nenhum outro lugar. E quando um homem percebe a que ponto é isto verdade, reconciliando-se com todas as aparências do mal, da fealdade, da mentira e da frustração; a partir de então, deixa de aplicar ao mundo a sua imagem pessoal de tristeza e dor, de pecado e corrupção.
Eu poderia, é certo, formular tudo isto de modo muito mais simples, dizendo que, aos olhos de Deus, tudo é divino. E quando digo tudo, é mesmo tudo o que quero dizer. Quando olhamos as coisas a tal luz, a palavra «transmutação» adquire um sentido ainda maior: pressupõe que o nosso bem-estar depende do nosso entendimento espiritual, do modo como nos servimos da visão divina que possuímos.

As grandes doenças da alma, bem como aquelas do corpo, renovam o homem; e as convalescências espirituais não são menos agradáveis nem menos miraculosas do que as físicas.

Creio que a importância do Evangelho de Jesus em nossa evolução espiritual, é semelhante a importância do Sol na sustentação da nossa vida física.