Dizem que o Governo, depois de proibir ao cidadão comum usar armas, vai proibir ao Exército possuir armas de uso exclusivo dos traficantes.
Passagens sobre Exército
65 resultadosA Doença da Disciplina
Das feições de alma que caracterizam o povo português, a mais irritante é, sem dúvida, o seu excesso de disciplina. Somos o povo disciplinado por excelência. Levamos a disciplina social àquele ponto de excesso em que cousa nenhuma, por boa que seja — e eu não creio que a disciplina seja boa — por força que há-de ser prejudicial.
TĂŁo regrada, regular e organizada Ă© a vida social portuguesa que mais parece que somos um exĂ©rcito de que uma nação de gente com existĂŞncias individuais. Nunca o portuguĂŞs tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo, pensa sempre em grupo. Está sempre Ă espera dos outros para tudo. E quando, por um milagre de desnacionalização temporária, pratica a traição Ă Pátria de ter um gesto, um pensamento, ou um sentimento independente, a sua audácia nunca Ă© completa, porque nĂŁo tira os olhos dos outros, nem a sua atenção da sua crĂtica.
Parecemo-nos muito com os alemĂŁes. Como eles, agimos sempre em grupo, e cada um do grupo porque os outros agem.
Por isso aqui, como na Alemanha, nunca Ă© possĂvel determinar responsabilidades; elas sĂŁo sempre da sexta pessoa num caso onde sĂł agiram cinco.
O Amor Ă© o ContraegoĂsmo
Cada vez mais pessoas estĂŁo preocupadas consigo mesmas. Cuidam de si de uma forma tĂŁo dedicada que se poderia supor que estĂŁo a construir algo de verdadeiramente belo e forte; mas nĂŁo… os resultados sĂŁo normalmente fracos e frágeis. Gente manipulável que se deixa abater por uma simples brisa… cultivam o eu como a um deus, mas sĂŁo facilmente derrubados pela mĂnima contrariedade.
Tendo a originalidade por moda não será paradoxal que a sociedade esteja a tornar-se cada vez mais uniforme? Como a multidão tende sempre a nivelar-se por baixo, estamos a tornar-nos cada vez piores.
Hoje parece não haver tempo nem espaço para um cuidado mais fundo com a nossa essência – são poucos os que hoje têm amigos verdadeiros com quem aprendem, a quem se dão e de quem recebem valores essenciais.
Por medo da solidão quer-se conhecer gente, cada vez mais gente. Talvez o facto de se buscar uma quantidade de amizades mais do que a qualidade das mesmas explique por que, afinal, há cada vez mais solidão… sempre que prefiro partir em busca do novo, escolho abandonar aquele(s) com quem estava.O sucesso das redes virtuais é hoje um sintoma,
É inútil enviar exército contra ideias.
Coragem… pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana.
A força de um exército, como a energia em mecânica, é obtida multiplicando-se a massa pela velocidade, a marcha rápida aumenta o moral da tropa, e assim há muitas chances para vitória.
As Oscilações da Personalidade
Pretender que a nossa personalidade seja mĂłvel e susceptĂvel de grandes mudanças Ă©, por vezes, noção um pouco contrária Ă s idĂ©ias tradicionais atinentes Ă estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutĂvel. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictĂcia.
O nosso “eu” Ă© um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada cĂ©lula concorre para a unidade de um exĂ©rcito. A homogeneidade dos milhares de indivĂduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inĂştil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, Ă© porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivĂduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu impĂ©rio, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensĂvel sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,
Verosimilhança não é Verdade
Quase sempre as suspeitas nos inquietam; somos sempre o joguete desses boatos de opiniĂŁo, que tantas vezes põe em fuga um exĂ©rcito, quanto mais um simples indivĂduo. (…) nĂłs rendemo-nos prontamente Ă opiniĂŁo. NĂŁo fazemos a crĂtica das razões que nos levam ao temor, nĂŁo as esquadrinhamos. Perdemos todo o sangue-frio, batemos em retirada, como os soldados expulsos do seu campo Ă vista da nuvem de poeira que levanta uma tropa a galope, ou tomados de terror colectivo por causa de um boato semeado sem garante.
NĂŁo sei como, mas as falsidades perturbam-nos desde logo. A verdade traz consigo a sua prĂłpria medida; tudo quanto se funda sobre uma incerteza, porĂ©m, fica entregue Ă conjectura e Ă s fantasias de um espĂrito perturbado.
Eis porque, entre as mais diversas formas do medo, nĂŁo há outra mais desastrosa, mais incoercĂvel que o medo pânico. Nos casos ordinários, a reflexĂŁo Ă© falha; nestes, a inteligĂŞncia está ausente.
Interroguemos, pois, cuidadosamente a realidade. É verosĂmil que uma desgraça venha a produzir-se? Verosimilhança nĂŁo Ă© verdade. Quantos acontecimentos ocorreram sem que os esperássemos! Quantos acontecimentos esperados que jamais ocorreram! Mesmo que venham a produzir-se, que Ă© que lucraremos em nos anteciparmos Ă nossa dor?
Deus Ă© neutro diante de exĂ©rcitos rivais que invocam o seu patrocĂnio.
A Castração da Personalidade
O homem Ă© um animal gregário. PolĂtico, dizia AristĂłteles, ou seja, membro da cidade. Mas nĂŁo sĂł da cidade – de todas as greis espontâneas ou artificiais, estáveis ou precárias, onde quer que se encontre. NĂŁo pode suportar a ideia de estar sĂł, consigo – quer ser unidade e nĂŁo individualidade. Tem necessidade de se sentir cotovelo com cotovelo, pele com pele, no calor de uma multidĂŁo, ligado, seguro, uniforme, conforme. Se o leĂŁo anda sĂł, em nĂłs predomina o instinto ovino, do rebanho – os prĂłprios individualistas, para afirmar o seu individualismo, congregam-se: sempre segundo a prática ovina.
O homem, quando só, sente-se incompleto – tem medo. Opor-se à grei significa separar-se, permanecer só, morrer. Os conceitos do bem e do mal nascem da necessidade de convivência. É bem o que aproveita ao grupo, mal o que o prejudica ou não beneficia. O rebanho não quer que cada ovelha pense demasiado em si, e como a privilegiada é a que obtém a boa opinião das outras, vê-se forçada, ainda que contra os seus gostos e interesses, a agir no sentido do bem supremo do rebanho. Há que pagar, com a castração da personalidade, a segurança contra o medo.
Força de ânimo e coragem na adversidade servem, para conquistar o êxito, mais do que um exército.
É mais fácil formar um exército do que formar capitães.
O tempo Ă© o Ăşnico bem totalmente irrecuperável. Recupera – se uma posição, um exĂ©rcito e atĂ© um paĂs, mas o tempo perdido, jamais.
Evitar a Sabedoria de Umbigo
Se alguĂ©m se inebria com o seu saber ao olhar para baixo de si, que volte o olhar para cima, rumo aos sĂ©culos passados, e abaixará os cornos ao encontrar aĂ tantos milhares de espĂritos que o calcam aos pĂ©s. Se ele forma alguma ligeira presunção do seu valor, que se recorde das vidas dos dois Cipiões e dos incontáveis exĂ©rcitos e povos que o deixam muito para trás. Nenhuma particular qualidade dará motivo de orgulho aquele que, ao mesmo tempo, tiver em conta os muitos traços de imperfeição e debilidade que em si há e, enfim, a nulidade da condição humana.
Porque Sócrates foi o único a compreender acertadamente o preceito do seu Deus, o de conhecer-se a si mesmo, e através de tal estudo, ter chegado a desprezar-se, só ele foi julgado digno de sobrenome de «sábio». Quem assim se conhecer, que tenha a audácia de, pela sua própria boca, o dar a conhecer.
A formiga é pequena, mas elas são um exército quando juntas
Impõe-se ter mais espĂrito para inspirar amor do que para comandar um exĂ©rcito.
NĂŁo se pode pagar o mal Ă s prestações – e, no entanto, as pessoas tentam isso sem parar. Seria concebĂvel que Alexandre, o Grande, a despeito dos ĂŞxitos guerreiros da sua juventude, do excelente exĂ©rcito que formou, das forças que sentia dentro de si para mudar o mundo, tivesse estacado Ă s margens do Helesponto e jamais o tivesse atravessado, na verdade nĂŁo por medo, indecisĂŁo ou falta de energia, mas por causa da força da gravidade.
Talento nĂŁo Ă© Sabedoria
Deixa-me dizer-te francamente o juĂzo que eu formo do homem transcendente em gĂ©nio, em estro, em fogo, em originalidade, finalmente em tudo isso que se inveja, que se ama, e que se detesta, muitas vezes. O homem de talento Ă© sempre um mau homem. Alguns conheço eu que o mundo proclama virtuosos e sábios. Deixá-los proclamar. O talento nĂŁo Ă© sabedoria. Sabedoria Ă© o trabalho incessante do espĂrito sobra a ciĂŞncia. O talento Ă© a vibração convulsiva de espĂrito, a originalidade inventiva e rebelde Ă autoridade, a viagem extática pelas regiões incĂłgnitas da ideia. Agostinho, FĂ©nelon, Madame de StaĂ«l e Bentham sĂŁo sabedorias. Lutero, Ninon de Lenclos, Voltaire e Byron sĂŁo talentos.
Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. Porque é mau o homem de talento ? Essa bela flor porque tem no seio um espinho envenenado ? Essa esplêndida taça de brilhantes e ouro porque é que contém o fel, que abrasa os lábios de quem a toca ? Aqui tens um tema para trabalhos superiores à cabeça de uma mulher, ainda mesmo reforçada por duas dúzias de cabeças académicas !
GĂ©nios
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E disse-me: Poeta, ao longe no horizonte
Não vês quase a lamber a abóbada do céu
Brilhante e luminoso um túmido escarcéu?
Como alvacento leão, na rápida carreira
Vem sacudindo a juba… A natureza inteira
Cisma, contempla, escuta o cântico profundo
Em trágico silêncio. O Sol já moribundo
Resvala-lhe no dorso, iria-lho de chamas,
Como dum monstro enorme as fúlgidas escamas…
Rugindo enovelada em turbilhĂŁo insano,
A vaga colossal, rasoira do oceano,Lá vem rolando grave, e deixa ao caminhar
Um campo atrás dum monte, um lago atrás dum
[mar!
Qual lĂşcida serpente agora ei-la decresce
Em curva indefinida;—alonga-se… parece
Que a terra há-de estoirar em brancos estilhaços
No cĂrculo fatal dos seus enormes braços.
Como galope infrene! Ei-la que chega!… voa
Num Ămpeto feroz, num salto de leoa
Aos rudes alcantis! e em hĂłrrida tormenta
Na rĂgida tranqueira o vagalhĂŁo rebenta,
Bramindo pelo ar: trepa, vacila, nuta,
E exânime por fim, vencida nesta luta,
Sem voz, sem força, inerte, exausta, esfarrapada .
Lá vai… aonde a leve a rĂspida nortada.
Uma Vida Dedicada Ao Trabalho
É muito estranho que apenas poucos homens compreendam que não estão irremediávelmente amarrados à engrenagem torturante de um trabalho monótono e que a maioria continue presa ao seu rodar só por não se aperceber que com esse trabalho não alcança plano mais elevado. Refiro-me, é claro, aos grandes homens de negócio, aos que têm já bons rendimentos e podiam, se quisessem, viver deles. Mas proceder assim parecer-lhes-ia vergonhoso, teriam a impressão de desertar do exército na presença do inimigo; contudo, se lhes perguntarem que causa pública servem com o seu labor, não sabem o que responder, mesmo depois de terem lido todas as banalidades contidas nos artigos que se escrevem sobre as virtudes duma vida dedicada ao trabalho.