Pouco nos importa o êxito. Trata-se de sermos grandes e não de o parecermos.
Passagens sobre Êxito
166 resultadosA Minha Infelicidade
A evolução foi simples. Quando eu ainda estava contente queria estar descontente, e, com todos os meios que o tempo e a tradição me ofereciam, lancei-me no descontentamento — e então queria outra vez voltar a trás. Assim, fui sempre descontente, até com o meu contentamento. Estranho, como uma coisa a fingir, se usada sistematicamente, se pode tornar realidade. Jogos infantis (embora eu tivesse bem consciência de que eles eram infantis) marcaram o começo do meu declínio intelectual. Cultivei deliberadamente um tique facial, por exemplo, ou então andava pelo Graben com os braços cruzados atrás da cabeça. Um jogo repugnantemente infantil mas com êxito (o meu trabalho literário começou da mesma maneira; só mais tarde, durante a sua evolução, é que veio uma paragem, infelizmente). Se é possível forçar assim a infelicidade sobre nós, é possível forçar o que quer que seja sobre nós. Uma grande parte da minha evolução parece contradizer-me, na medida em que contradiz a minha natureza pensar nisso, não posso afiançar que os primeiros laivos da minha infelicidade eram já uma necessidade interior; eles devem de facto ter uma necessidade, mas não uma necessidade interior — eles lançaram-se sobre mim como um enxame de moscas e poderiam ter sido afastados de mim com a mesma facilidade.
As Frases Feitas
Há certo número de frases feitas que se tomam como num armazém, e das quais nos servimos para nos felicitarmos uns aos outros pelos nossos êxitos. Apesar de serem ditas, geralmente, sem aflição, e recebidas sem reconhecimento, nem por isso é permitido omiti-las, porque pelo menos são a imagem daquilo que há de melhor no mundo, que é a amizade; e os homens não podendo contar uns com os outros na realidade, parecem ter combinado entre si contentarem-se com as aparências.
Com cinco ou seis termos de arte, e nada mais, dá-se ares de conhecedor de música, quadros, construções e manjares: pensa-se ter mais prazer do que os outros em ouvir, ver, comer; impõe-se aos seus semelhantes, e engana-se a si mesmo.
Pasma ver até onde pode chegar a arrogância do coração humano estimulada pelo menor êxito.
Queremos Homens Completos ou Meros Cidadãos?
A educação actual e as actuais conveniências sociais premeiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.
A insistência nas qualidades socialmente valiosas da personalidade, com exclusão de todas as outras, derrota finalmente os seus próprios fins. O actual desassossego, descontentamento e incerteza de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentámos fazer homens bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento em não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos extremamente maus. Há toda a razão para supor que o mundo se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais complicadamente arregimentado do que é presentemente;
A Herança dos Empresários
Hoje em dia o sector opulento, que é quase unicamente integrado pelos empresários, só ele tem a posição de homens livres. Aos artistas e aos pensadores resta, na maioria dos casos, o recurso a serem integrados no funcionalismo público para salvaguardarem uma relativa decência económica. O empresário não está preparado para se pronunciar como director intelectual da sociedade; a sua filosofia de vida é incoerente e, muitas vezes, suspeita. Deixará uma herança datada, mas não uma obra confidencial para as futuras gerações que irão propagá-la e, com tal, merecer no mundo o seu êxito moral face aos outros povos.