a fava
espero que me calhe aquela fava
que Ă© costume meter no bolo-rei:
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais o partilhavanuma ordem das coisas cuja lei
de afectos e memĂłria em nĂłs se grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos…
e até por quem nos falta então se irisana mais pobre semente a intensa dança
de tempo adulto e tempo de criança.
Passagens sobre Favas
4 resultadosA fome torna doces as favas.
Maio de Minha MĂŁe
O primeiro de Maio de minha MĂŁe
NĂŁo era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do AvĂ´
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.Já não se usa poesia descritiva,
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mĂŁo?
O primeiro de Maio nas Ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cĂşmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
LĂmpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mĂŁos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por esta Ă©poca: eu Ă© que nĂŁo sabia!)A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu AvĂ´
Cujas quedas iguais, gravĂficas, profundasMuito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,
Muita estrela atraĂram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Falar a ponto – e favas contadas.