Passagens sobre Felizes

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Frases sobre felizes, poemas sobre felizes e outras passagens sobre felizes para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Felizes

Felizes. Porque, ao fundo de si mesmos,
cheios andam de quanto vão pensando.
E, disso cheios,
nada mais sabem. Dão para aquele lado
onde o mundo acabou, mas resta o eco
de o haverem pensado até ao cabo
e irem agora criar o movimento
que subsiste no tempo
de o mundo ainda estar a ser criado.
Por isso são felizes. Foram sendo
até, perdido o tempo, só em memória o estarem
[habitando.

Em Busca Da Beleza VI

O sono – Oh, ilusão! – o sono? Quem
Logrará esse vácuo ao qual aspira
A alma que de aspirar em vão delira
E já nem força para querer tem?

Que sono apetecemos? O d’alguém
Adormecido na feliz mentira
Da sonolência vaga que nos tira
Todo o sentir na qual a dor nos vem?

Ilusão tudo! Querer um sono eterno,
Um descanso, uma paz, não é senão
O último anseio desesperado e vão.

Perdido, resta o derradeiro inferno
Do tédio intérmino, esse de já não
Nem aspirar a ter aspiração.

A Beleza ou a Excitação Aparecem no Mundo por Omissão

O que faz quando lê? Vou dar-lhe já a resposta: a sua leitura deixa de lado aquilo que não lhe convém. O mesmo fez já o autor antes. Omitem-se também coisas nos sonhos e na imaginação. Daqui concluo: a beleza ou a excitação aparecem no mundo por omissão. Parece evidente que o modo como nos situamos na realidade corresponde a um compromisso, um estado intermédio em que os sentimentos se impedem mutuamente de chegar a paixões e se misturam em tons de cinzento. As crianças que desconhecem este modo de estar no mundo são, por isso, mais e menos felizes do que os adultos. E acrescento já: também as pessoas estúpidas omitem; como se sabe, a estupidez faz-nos felizes.

A Vida

Ó grandes olhos outomnaes! mysticas luzes!
Mais tristes do que o amor, solemnes como as cruzes!
Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos cor
Da capa d’Hamlet, das gangrenas do Senhor!
Ó olhos negros como noites, como poços!
Ó fontes de luar, n’um corpo todo ossos!
Ó puros como o céu! ó tristes como levas
De degredados!

Ó Quarta-feira de Trevas!

Vossa luz é maior, que a de trez luas-cheias:
Sois vós que allumiaes os prezos, nas cadeias,
Ó velas do perdão! candeias da desgraça!
Ó grandes olhos outomnaes, cheios de Graça!
Olhos accezos como altares de novena!
Olhos de genio, aonde o Bardo molha a penna!
Ó carvões que accendeis o lume das velhinhas,
Lume dos que no mar andam botando as linhas…
Ó pharolim da barra a guiar os navegantes!
Ó pyrilampos a allumiar os caminhantes,
Mais os que vão na diligencia pela serra!
Ó Extrema-Uncção final dos que se vão da Terra!
Ó janellas de treva, abertas no teu rosto!
Thuribulos de luar! Luas-cheias d’Agosto!
Luas d’Estio! Luas negras de velludo!
Ó luas negras,

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O Amor a Dois

O amor a dois só funciona se as individualidades se amarem a elas próprias em primeiro lugar.

E quem pensar o contrário ou é infeliz ou tem os dias contados para ser solteiro outra vez.

Existem três tipos de relacionamento a dois:

1 – Cada um dos dois vive primeiro para o outro e só depois para si mesmo, ou seja, o que interessa são as vontades do parceiro e nunca as suas, o que torna as coisas esquisitas, pois nenhum vive a sua verdade nem se respeita em momento algum, porque vivem ambos com medo de se perder. Deve ser enfadonho e, muitas vezes, confuso. É do género, eu quero uma coisa que não vou ter para dar ao outro, no entanto vou receber algo parecido com aquilo que queria mas não é bem a mesma coisa, o que é normal, pois mais ninguém além de nós sabe o que nos sabe melhor e quando nos sabe bem.

2 – As duas pessoas vivem em função da mesma. Pior ainda. É que se no exemplo acima ainda existe alguma energia, embora desfasada, a ser trocada de um para o outro, aqui nem isso.

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O Amor e o Vinho

Pense-se, por exemplo, na relação que existe entre o bebedor e o vinho. Não é verdade que o vinho oferece sempre ao bebedor a mesma satisfação tóxica, que a poesia tem comparado com frequência à satisfação erótica — comparação, de resto, aceitável do ponto de vista científico? Já alguma vez se ouviu dizer que o bebedor fosse obrigado a mudar sem descanso de bebida porque se cansaria rapidamente de uma bebida que permanecesse a mesma? Pelo contrário, a habituação estreita cada vez mais o laço entre o homem e a espécie de vinho que ele bebe. Existirá no bebedor uma necessidade de partir para um país onde o vinho seja mais caro ou o seu consumo proibido, a fim de estimular por meio de semelhantes obstáculos a sua satisfação decrescente? De modo nenhum. Basta escutarmos o que dizem os nossos grandes alcoólicos, como Bócklin, da sua relação com o vinho: evocam a harmonia mais pura e como que um modelo de casamento feliz.

Era uma vez um homem que se chamava Albinus e vivia em Berlim. Era rico, respeitável, feliz; certo dia abandonou a mulher por causa de uma jovem amante; amou, não foi amado; e sua vida acabou em desastre.

Aquella Orgia

Nós eramos uns dez ou onze convidados,
– Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.

Tocava o termo a ceia – e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.

Todos riam sem causa. – A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram já côr de vinho os risos e a toalha,
– E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.

Crusavam-se no ar ditos como facadas;
Escandalos de amor, historias sensuaes…
– Rolavam nos divans caindo, ás gargalhadas,
Sujos como truões, torpes como animaes.

Um agitando o ar com risos desmanchados,
Recitava canções, farças, Hamlet e Ophelia;
– Outro perdido o olhar, e os braços encruzados,
De bruços, n’um divan, roia uma camelia!

Outros fingindo a dôr, fallavam dos ausentes,
Das amantes, dos paes, com gritos d’afflicção,
– Um brandia um punhal, com ditos incoherentes;

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Se houvesse mais pessoas a valorizar a comida, a alegria e a música mais do que o vil ouro, viveríamos num mundo mais feliz.

Sinto em mim a imperiosa obrigação de ser feliz, mas toda felicidade obtida às custas dos outros me parece odiosa

Contemplo o Lago Mudo

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Enquanto fores feliz contarás muitos amigos; quando o tempo se tornar nublado estarás só.

Para viver feliz e manter-se semelhante ao que sempre foi, a mulher formosa deve morrer cedo e a mulher honesta morrer tarde.

O Homem Perfeito

A virtude subdivide-se em quatro aspectos: refrear os desejos, dominar o medo, tomar as decisões adequadas, dar a cada um o que lhe é devido. Concebemos assim as noções de temperança, de coragem, de prudência e de justiça, cada qual comportando os seus deveres específicos. A partir de quê, então, concebemos nós a virtude? O que no-la revela é a ordem por ela própria estabelecida, o decoro, a firmeza de princípios, a total harmonia de todos os seus actos, a grandeza que a eleva acima de todas as contingências. A partir daqui concebemos o ideal de uma vida feliz, fluindo segundo um curso inalterável, com total domínio sobre si mesma. E como é que este ideal aparece aos nossos olhos? Vou dizer-te.
O homem perfeito, possuidor da virtude, nunca se queixa da fortuna, nunca aceita os acontecimentos de mau humor, pelo contrário, convicto de ser um cidadão do universo, um soldado pronto a tudo, aceita as dificuldades como uma missão que lhes é confiada. Não se revolta ante as desgraças como se elas fossem um mal originado pelo azar, mas como uma tarefa de que ele é encarregado. «Suceda o que suceder», — diz ele — «o caso é comigo;

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