A Vida Passa como se TemĂȘssemos
Deixemos, LĂdia, a ciĂȘncia que nĂŁo pĂ”e
Mais flores do que Flora pelos campos,
Nem dĂĄ de Apolo ao carro
Outro curso que Apolo.Contemplação estĂ©ril e longĂnqua
Das coisas prĂłximas, deixemos que ela
Olhe até não ver nada
Com seus cansados olhos.VĂȘ como Ceres Ă© a mesma sempre
E como os louros campos intumesce
E os cala prĂĄs avenas
Dos agrados de PĂŁ.VĂȘ como com seu jeito sempre antigo
Aprendido no orige azul dos deuses,
As ninfas nĂŁo sossegam
Na sua dança eterna.E como as heniadrĂades constantes
Murmuram pelos rumos das florestas
E atrasam o deus PĂŁ.
Na atenção à sua flauta.Não de outro modo mais divino ou menos
Deve aprazer-nos conduzir a vida,
Quer sob o ouro de Apolo
Ou a prata de Diana.Quer troe JĂșpiter nos cĂ©us toldados.
Quer apedreje com as suas ondas
Netuno as planas praias
E os erguidos rochedos.Do mesmo modo a vida Ă© sempre a mesma.
NĂłs nĂŁo vemos as Parcas acabarem-nos.
Passagens sobre Flauta
25 resultadosAvena Pastoral
Harmonia de coxas protetora
do presente esperado como prĂȘmio
antevéspera és, a domadora
dos gestos apressados no proscĂȘniodo palco em que inauguro-te pastora
de ovelha desgarrada,vil boĂȘmio,
peregrino da noite assoladora,
a solar no teu corpo um abstĂȘmiocanto, de partitura tĂŁo antiga,
em que tecidos sons alucinados
sĂŁo sedas de silĂȘncio na cantiga.Uma cantiga em gozo emparelhado.
E tu na flauta tocas pra que eu siga
lambendo o sal no lago desgarrado.
As Virtudes de Cada Um
NĂŁo desprezo os homens. Se o fizesse, nĂŁo teria direito algum nem razĂŁo alguma para tentar governĂĄ-los. Sei que sĂŁo vĂŁos, ignorantes, ĂĄvidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfar, para se fazer valer, mesmo aos seus prĂłprios olhos, ou simplesmente para evitar o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia tĂȘ-lo sido. Entre outrem e eu, as diferenças que distingo sĂŁo demasiado insignificantes para que a minha atitude se afaste tanto da fria superioridade do filĂłsofo como da arrogĂąncia de CĂ©sar. Os mais opacos dos homens tambĂ©m tĂȘm os seus clarĂ”es: este assassino toca correctamente flauta; este contramestre que dilacera o dorso dos escravos com chicotadas Ă© talvez um bom filho; este idiota partilharia comigo o seu Ășltimo bocado de pĂŁo. HĂĄ poucos a quem nĂŁo possa ensinar-se convenientemente alguma coisa. O nosso grande erro Ă© querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele nĂŁo tem e desinteressarmo-nos de cultivar as que ele possui.
MĂșsica Da Hora
Habito a pausa no hĂĄbito da pauta
mĂșsica de silĂȘncios e soluços
a refrear desmandos dos impulsos
que se querem agudos sons de flauta.A vida Ă© toda mĂșsica em seu curso
do grito original em rima incauta
ao sussurro que se ouve em cama infausta
nesse fim dissonante do percurso.O tempo se encarrega do metrĂŽnomo
unido a dois ponteiros de um cronĂŽmetro
em que o delgado veste-se de momopara alegrar as horas do pequeno
que dança a marcha gris em chão sereno
fugindo ao dois por quatro do abandono.
Te Baptizar de Novo
Te baptizar de novo.
Te nomear num trançado de teias
E ao invés de Morte
Te chamar Insana
Fulva
Feixe de flautas
Calha
Candeia
Palma, porque nĂŁo?
Te recriar nuns arco-Ăris
Da alma, nuns possĂveis
Construir teu nome
E cantar teus nomes perecĂveis:
Palha
Corça
Nula
Praia
Porque nĂŁo?