Uns homens sobem por leves como os vapores e gases, outros como os projécteis pela força do engenho e dos talentos.
Passagens sobre Força
1327 resultadosA Melhor Maneira de Viajar Ă© Sentir
Afinal, a melhor maneira de viajar Ă© sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas sĂŁo, em verdade, excessivas
E toda a realidade Ă© um excesso, uma violĂȘncia,
Uma alucinação extraordinariamente nĂtida
Que vivemos todos em comum com a fĂșria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrĂfugas
Que sĂŁo as psiques humanas no seu acordo de sentidos.Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como vĂĄrias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existĂȘncia total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais anĂĄlogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que Ă© Tudo,
E fora d’Ele hĂĄ sĂł Ele, e Tudo para Ele Ă© pouco.Cada alma Ă© uma escada para Deus,
Cada alma Ă© um corredor-Universo para Deus,
Cada alma Ă© um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.
A justiça do escravo estå na força.
Assim Choram os Deuses
Os deuses desterrados.
Os irmĂŁos de Saturno,
Ăs vezes, no crepĂșsculo
VĂȘm espreitar a vida.VĂȘm entĂŁo ter conosco
Remorsos e saudades
E sentimentos falsos.
à a presença deles,
Deuses que o destronĂĄ-los
Tornou espirituais,
De matéria vencida,
LongĂnqua e inativa.VĂȘm, inĂșteis forças,
Solicitar em nĂłs
As dores e os cansaços,
Que nos tiram da mĂŁo,
Como a um bĂȘbedo mole,
A taça da alegria.VĂȘm fazer-nos crer,
Despeitadas ruĂnas
De primitivas forças,
Que o mundo Ă© mais extenso
Que o que se vĂȘ e palpa,
Para que ofendamos
A JĂșpiter e a Apolo.Assim atĂ© Ă beira
Terrena do horizonte
Hiperion no crepĂșsculo
Vem chorar pelo carro
Que Apolo lhe roubou.E o poente tem cores
Da dor dum deus longĂnquo,
E ouve-se soluçar
Para alĂ©m das esferas…
Assim choram os deuses.
O Mais InfalĂvel Veneno Ă© o Tempo
Tabaco, cafĂ©, ĂĄlcool, ĂĄcido prĂșssico, estricnina â todos nĂŁo passam de poçÔes diluĂdas: o mais infalĂvel veneno Ă© o tempo. Essa taça, que a natureza nos pĂ”e nos lĂĄbios, possui uma propriedade maravilhosa que supera qualquer outra bebida. Ela abre os sentidos, adiciona poder e povoa-nos de sonhos exaltados, a que chamamos esperança, amor, ambição, ciĂȘncia. Em particular, ela desperta o desejo por maiores doses de si. Mas aqueles que tomam as maiores doses ficam embriagados, perdem estatura, força, beleza e sentidos, e terminam em fantasia e delĂrio. NĂłs adiamos o nosso trabalho literĂĄrio atĂ© que tenhamos maturidade e tĂ©cnica para escrever, mas um dia descobrimos que o nosso talento literĂĄrio nĂŁo passava de uma efervescĂȘncia juvenil que perdemos.
Um Ănico Poema
Quando olho para esse livro («Poesia Toda»), vejo que nĂŁo fabriquei ou instruĂ ou afeiçoei objectos â estas palavras nĂŁo supĂ”em o mesmo modo de fazerâ, vejo que escrevi apenas um poema, um poema em poemas; durante a vida inteira brandi em todas as direcçÔes o mesmo aparelho, a mesma arma furiosa. Fui um inocente, porque sĂł se consegue isso com inocĂȘncia. E se a inocĂȘncia Ă© uma condição insubstituĂvel de escĂąndalo, uma transparente e mobilizadora familiaridade com a terra, constitui tambĂ©m um revĂ©s: pois hĂĄ uma altura em que se sabe: as coisas ludibriaram-nos, ludibriĂĄmo-nos nas coisas; a inocĂȘncia deveria ter-nos oferecido uma vida estupenda, um tumulto: o ar em torno proporcionado como pura levitação; ver, tocar; os mais simples actos e factos prĂłximos como instantĂąneo e completo conhecimento. Era assim, foi assim, mas a dor, as vozes demonĂacas, o abismo junto Ă dança, a noite que se vai insinuando a toda a altura e largura da luz, tudo Isso invade a inocĂȘncia â e entĂŁo jĂĄ nĂŁo sabemos nada, por exemplo: serĂĄ inocente a nossa inocĂȘncia? A inocĂȘncia Ă© um estado clandestino na ditadura do mundo; tem se der astuta, tem de recorrer a todas as torpezas para lutar e escapar,
Não basta a força do engenho humano para compreender a sabedoria divina.
Os Convencidos da Vida
Todos os dias os encontro. Evito-os. Ăs vezes sou obrigado a escutĂĄ-los, a dialogar com eles. JĂĄ nĂŁo me confrangem. Contam-me vitĂłrias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lĂĄ, Ă vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas tambĂ©m os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaĂstas, crĂticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). SerĂĄ que voltaram os polĂgrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida hĂĄ-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estĂŁo convictos da sua excelĂȘncia, da excelĂȘncia das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda nĂŁo sĂŁo, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(…) No corre-que-corre, o convencido da vida nĂŁo Ă© um vaidoso Ă toa. Ele Ă© o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca Ă© gratuita, todo o rendimento possĂvel. Nos negĂłcios, na polĂtica, no jornalismo, nas letras, nas artes. Ă tĂŁo capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitĂĄ-la.
Eterno, Ă© tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata….
Do mesmo modo que a união faz a força, a discórdia leva a uma råpida derrota.
Toda pessoa possuidora de algum mĂ©rito tem consciĂȘncia de que em seu interior existe uma força que nĂŁo pĂĄra de incitĂĄ-la ao progresso infinito.
Da Vossa Vista a Minha Vida Pende
Da vossa vista a minha vida pende,
Maior bem para mim nĂŁo pode ser
Que ver-vos, mas nĂŁo ouso de vos ver;
Que vosso alto respeito mo defende.O meu amor, que o vosso sĂł pretende,
Receio que se venha a conhecer,
Nos olhos, que mal podem esconder
O desejo, dum peito que se rende.Por vĂłs a tal estremo dâAmor venho,
Que com força resisto a meu desejo,
Porque nada de mim vos descontente.Mas neste mal, senhora, este bem tenho,
Que sempre tal, qual sois, nâalma vos pinto
Sem dar que ver, nem que falar Ă gente.
Onde estĂĄ o pensamento, estĂĄ a força. Ă tempo de os gĂȘnios passarem Ă frente dos herĂłis.
A fĂ© Ă© uma das forças pelas quais os homens vivem, e a sua ausĂȘncia total significa colapso!
Louvor do Esquecimento
Bom Ă© o esquecimento.
SenĂŁo como Ă© que
O filho deixaria a mĂŁe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retĂ©m para os experimentar.Ou como havia o discĂpulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber estĂĄ dado
O discĂpulo tem de se pĂŽr a caminho.Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construĂram ainda lĂĄ estivessem
A casa seria pequena de mais.O fogĂŁo aquece. O oleiro que o fez
Jå ninguém o conhece. O lavrador
NĂŁo reconhece a broa de pĂŁo.Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhĂŁ?
Como Ă© que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?A fraqueza da memória då
Fortaleza aos homens.Tradução de Paulo Quintela
A loucura é uma força da natureza para o bem ou para o mal, ao passo que a estupidez é uma debilidade da natureza sem contrapartidas.
As pessoas não carecem de força, carecem de determinação.
Desabafar o Sofrimento
Nunca compreendi como Ă© possĂvel que alguĂ©m que escreva consiga objectivar os seus sofrimentos enquanto vive sob o seu peso; assim eu, por exemplo, no meio da minha infelicidade, provavelmente ainda com a minha cabeça a queimar de infelicidade, sento-me e escrevo a alguĂ©m: sou infeliz. Sim, eu atĂ© posso ir alĂ©m disto e com todos os floreados que o meu talento possa inventar, que nĂŁo parecem ter nada a ver com a minha infelicidade, toco uma orquestração simples, ou em contraponto, ou uma orquestração completa de variaçÔes sobre o meu tema. E nĂŁo Ă© uma mentira, e nĂŁo mitiga a minha dor: Ă© simplesmente um extra misericordioso de força num momento em que o sofrimento me consumiu atĂ© ao fundo do meu ser e gastou completamente todas as minhas forças.
A Minha Cidade Preferida
Ă o Porto. Tem umas caracterĂsticas muito particulares, muito suas. Ou melhor, tinha. EstĂŁo agora a fazer força para tirĂĄ-las, ao contrĂĄrio do que se faz lĂĄ fora. Mesmo Ă s cidades que foram arrasadas pela guerra, como VarsĂłvia, na PolĂłnia, que foi refeita tal qual era antes. O mesmo aconteceu em Berlim. Aqui destroem o que estĂĄ feito para construir uma porcaria qualquer incaracterĂstica, que nĂŁo representa coisa nenhuma. Por exemplo, o que querem fazer no mercado do BolhĂŁo Ă© uma vergonha – querem meter lĂĄ um supermercado, ou outra borra qualquer, que tira todo o carĂĄcter Ă cidade e a modifica. Assim, as cidades confundem-se todas: a gente chega a uma cidade e jĂĄ nĂŁo sabe onde estĂĄ. Ă tudo igual em toda a parte.
As TrĂȘs EspĂ©cies de Portugueses
HĂĄ trĂȘs espĂ©cies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou, se se preferir, hĂĄ trĂȘs espĂ©cies de portuguĂȘs. Um começou com a nacionalidade: Ă© o portuguĂȘs tĂpico, que forma o fundo da nação e o da sua expansĂŁo numĂ©rica, trabalhando obscura e modestamente em Portugal e por toda a parte de todas as partes do Mundo. Este portuguĂȘs encontra-se, desde 1578, divorciado de todos os governos e abandonado por todos. Existe porque existe, e Ă© por isso que a nação existe tambĂ©m.
Outro Ă© o portuguĂȘs que o nĂŁo Ă©. Começou com a invasĂŁo mental estrangeira, que data, com verdade possĂvel, do tempo do MarquĂȘs de Pombal. Esta invasĂŁo agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a RepĂșblica. Este portuguĂȘs (que Ă© o que forma grande parte das classes mĂ©dias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) Ă© o que governa o paĂs. EstĂĄ completamente divorciado do paĂs que governa. Ă, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, Ă© estĂșpido.
HĂĄ um terceiro portuguĂȘs, que começou a existir quando Portugal, por alturas de El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se ImpĂ©rio. Esse portuguĂȘs fez as Descobertas,