Mesmo que não se tenha a mais pequena sensibilidade às diferenças individuais, a pessoa contudo trata os outros com a sua maneira própria.
Passagens de Franz Kafka
259 resultadosNa tua luta contra o resto do mundo, aconselho-te que te ponhas do lado do resto do mundo.
A Fraqueza Fundamental do Homem
A fraqueza fundamental do homem não é nada que ele não possa vencer, desde que não possa aproveitar com a vitória. A juventude vence tudo, a impostura, a astúcia mais dissimulada, mas não há ninguém que possa deter no voo a vitória, torná-la viva, porque então a juventude deixou de existir. A velhice não ousa tocar na vitória e a nova juventude atormentada pelo novo ataque que se desencadeia imediatamente, deseja a sua própria vitória. É assim que o Diabo sem cessar vencido, nunca é aniquilado.
Reflexões calmas, inclusive as mais calmas, ainda são melhores do que as decisões desesperadas.
Bandeiras Negras! Como eu também leio mal. E com que maldade e fraqueza eu me observo. Aparentemente não consigo forçar o meu caminho para entrar no mundo, mas talvez ficar sossegado, receber, expandir em mim o que recebi e então calmamente avançar.
A eterna juventude é impossível; mesmo que não houvesse outro obstáculo, a introspecção torná-la-ia impossível.
De um certo ponto adiante não há mais retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado.
Não há necessidade de sair da sala. É suficiente sentar-se à mesa e escutar. Nem sequer é necessário escutar, é só esperar. Nem sequer é preciso esperar, é só aprender a ficar em silêncio. O mundo se oferecerá a você livremente para ser descoberto.
A Existência Baseada Em Justificações
Ninguém aqui gera mais do que a sua possibilidade espiritual de viver; pouco importa que dê a aparência de trabalhar para se alimentar, para se vestir, etc.; com cada bocada visível uma invisível lhe é estendida, com cada vestimenta visível uma invisível vestimenta. Está nisso a justificação de cada homem. Parece fundamentar a sua existência com justificações ulteriores, mas essa é apenas a imagem invertida que oferece o espelho da psicologia, de facto erege a sua vida sobre as suas justificações. É verdade que cada homem deve poder justificar a sua vida (ou a sua morte, o que vem dar no mesmo), não pode furtar-se a essa tarefa.
O caminho verdadeiro passa por uma corda que não está estendida no alto, mas sim sobre o chão. Parece disposta mais para fazer tropeçar do que para que cada um siga o seu rumo.
Continuem a dançar, seus porcos; que tenho eu com isso?
E, como levava uma existência divina, Deus o tomou para Si; ninguém o viu mais.
Quem quer que não consiga dar-se bem com a sua própria vida, enquanto vive, precisa de uma mão para afastar um pouco o desespero sobre o seu destinho – não consegue muito -, mas com a outra mão ele pode anotar o que vê entre as ruínas, porque vê coisas diferentes (e mais coisas) do que vêem os outros; afinal, morto como está durante a sua própria vida, ele é o verdadeiro sobrevivente. Isto faz que ele não precise das duas mãos, ou de mais mãos do que as que tem, na sua luta contra o desespero.
Pode haver um conhecimento do que é diabólico, mas nenhuma fé nele, pois, mais diabólico do que está aí presente, não existe.
Leopardos irrompem no templo e bebem até ao fim os jarros de sacrifício; isso repete-se sempre, sem interrupção; finalmente, pode-se contar de antemão com esse acto e ele transforma-se numa parte da cerimónia.
A unidade da humanidade, de quando em quando posta em dúvida, mesmo se apenas emocionalmente, por toda a gente, até pelas pessoas mais fáceis e adaptadas, por outro lado também se revela a toda a gente, ou parece revelar-se, na harmonia total que se pode sempre descobrir entre o desenvolvimento do conjunto da humanidade e o do indivíduo, até nos sentimentos mais secretos do indivíduo.
O negativo, com toda a probabilidade muito fortalecido pela «luta», torna iminente uma decisão entre loucura e segurança.
A Nossa Verdade
A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruina-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.
Só em tais extremos é que nos apercebemos de como toda a gente está perdida em si própria para lá da esperança da salvação, e a única consolação é ver outras pessoas e a lei que as governa a elas e a tudo.
Amargo, amargo, esta é a palavra mais importante. Como tenciono eu soldar fragmentos uns aos outros numa história que tudo arrasta consigo?