Mediocridade de EspĂrito
O nosso mĂĄximo esforço de independĂȘncia consiste em opor, por vezes, um pouco de resistĂȘncia Ă s sugestĂ”es quotidianas. A grande massa humana nenhuma resistĂȘncia opĂ”e e segue as crenças, as opiniĂ”es e os preconceitos do seu grupo. Ela obedece-lhe sem ter mais consciĂȘncia do que a folha seca arrastada pelo vento.
SĂł numa elite muito restrita se observa a faculdade de possuir, algumas vezes, opiniĂ”es pessoais. Todos os progressos da civilização procedem, evidentemente, desses espĂritos superiores, mas nĂŁo se pode desejar a sua multiplicação sucessiva. Inapta a adaptar-se imediatamente a progressos rĂĄpidos e profundos em demasia, uma sociedade tornar-se-ia logo anĂĄrquica. A estabilidade necessĂĄria Ă sua existĂȘncia Ă© precisamente estabelecida graças ao grupo compacto dos espĂritos lentos e medĂocres, governados por influĂȘncias de tradiçÔes e de meio.
Ă, portanto, Ăștil para uma sociedade que ela se componha de uma maioria de homens mĂ©dios, desejosos de agir como toda a gente, que tĂȘm por guias as opiniĂ”es e as crenças gerais. Ă muito Ăștil tambĂ©m que as opiniĂ”es gerais sejam pouco tolerantes, pois o medo do juĂzo alheio constitui uma das bases mais seguras da nossa moral.
A mediocridade de espĂrito pode, pois, ser benĂ©fica para um povo, sobretudo associada a certas qualidades de carĂĄcter. Instintivamente, a Inglaterra o compreendeu, e Ă© por isso que nesse paĂs, embora seja um dos mais liberais
do universo, o livre-pensamento sempre foi bastante mal visto.