O Desejo como Consequência do Prazer e da Dor
O prazer e a dor suscitam o desejo. Desejo de alcançar o prazer e de evitar a dor. O desejo é o móbil principal da nossa vontade e, portanto, dos nossos atos. Do pólipo aos homens, todos os seres são movidos pelo desejo. Inspira a vontade, que não pode existir sem ele, e depende da sua intensidade. O desejo fraco suscita, naturalmente, uma vontade fraca.
Cumpre, no entanto, não confundir vontade e desejo, como fizeram muitos filósofos, tais como Condillac e Schopenhauer. Tudo quanto é querido é, evidentemente, desejado; mas desejamos muitas coisas que, sabemos, não podíamos querer. A vontade traduz deliberação, determinação e execução, estados de consciência que não se observam no desejo.
O desejo estabelece a escala dos nossos valores, variável, aliás, com o tempo e as raças. O ideal de cada povo é a fórmula do seu desejo.
Um desejo que invade todo o entendimento, transforma a nossa concepção das coisas, as nossas opiniões e as nossas crenças. Spinoza muito bem disse julgamos uma coisa boa, não por julgamento, mas porque a desejamos.Não existindo em si mesmo o valor das coisas, ele é apenas determinado pelo desejo e proporcionalmente à intensidade desse desejo.A variável apreciação dos objetos de arte fornece desse fato uma prova diária.
Origem de todo o esforço, soberano senhor dos homens, gerador dos deuses, criador de todo o ideal, o desejo não figura, contudo, nos Panteões antigos. Somente o grande reformador Buda compreendeu que o desejo é o verdadeiro dominador das coisas, o fator da atividade dos seres. Para libertar a humanidade das suas misérias e conduzi-la ao perpétuo repouso ele tentou suprimir esse grande móvel das nossas ações. A sua lei submeteu milhões de homens, mas não subjugou o desejo. É que, de fato, o homem não poderia viver sem ele. O mundo das idéias puras de Platão poderia possuir a serena beleza que ele sonhava, conter eternos modelos das coisas, se não fosse vivificado pelo sopro do desejo, não nos interessaria.