Um Amor Verdadeiro
Admitamos: o amor é um assunto que já foi falado e voltado a falar, trivializado e dramatizado ao ponto de as pessoas não saberem já o que é e o que não é. A maioria de nós não consegue vê-lo porque temos as nossas ideias preconcebidas sobre o que é (é suposto ser mais forte do que nós e arrebatar-nos) e como aparece (num embrulho alto, magro, bem-humorado e charmoso). Por isso, se o amor não aparecer envolvido na nossa fantasia, não o conseguimos reconhecer.
Mas tenho a certeza do seguinte: o amor está em todo o lado. É possível amar e ser amado independentemente do sítio onde estamos. O amor existe sob todas as formas. Às vezes vou até ao jardim da minha casa e sinto o amor a vibrar em todas as minhas árvores. Está sempre disponível.
Já vi tantas mulheres (incluindo eu) confundidas pela ideia de um romance, acreditando que só serão pessoas completas se encontrarem alguém que complete as suas vidas. Se pensarmos bem, não é uma ideia maluca? Você, sozinho, tem de preencher com amor esses espaços vazios e destruídos. Como diz Ralph Waldo Emerson: «Nada lhe poderá dar paz a não ser você mesmo.»
Nunca esquecerei o momento em que estava a limpar uma gaveta e me deparei com doze páginas que me obrigaram a parar. Era uma carta de amoooor que eu tinha escrito mas que nunca enviara (graças a Deus), dirigida a um tipo com quem eu andava a sair. Eu na altura tinha vinte e nove anos, estava desesperada e obcecada por este homem. Eram doze páginas de lamentos e ansiedades tão patéticas que nem me reconheci. Embora tivesse guardado os meus diários desde os quinze anos, fiz a minha cerimónia de queima com este testamento sobre aquilo que eu pensava que era o amor. Não quis que houvesse nenhum registo escrito que provasse que algum dia na vida eu tinha sido tão infeliz e desligada de mim própria.
Já vi tantas mulheres desistirem de si mesmas por homens que claramente não se importavam minimamente com elas. Vi tantas mulheres contentarem-se com migalhas. Mas agora sei que uma relação construída com base num amor verdadeiro sabe bem. Deve dar-nos alegria — não apenas às vezes, mas a maior parte das vezes. Nunca deve fazer com que a pessoa enfraqueça a sua voz, o seu respeito próprio ou a sua dignidade. E quer tenhamos vinte e cinco ou sessenta e cinco anos, deve fazer com que sejamos nós mesmos, por inteiro, e que fiquemos ainda mais completos.