Ruinas
Pandeiros rôtos e côxas táças de crystal aos pés da muralha.
Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princezas mortas.
Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mĂŁos esguias e de cabelleiras embranquecidas.
Aquellas ameias cingiram uma noite peccados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites rĂ©za a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castello de nobres naquelle lugar… E a lua, a contar, pára um instante – tem mĂŞdo do frio dos subterraneos.
Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e rizinhos de sêdas.
Aquellas ruinas sĂŁo o tumulo sagrado de um beijo adormecido – cartas lacradas com ligas azues de fechos de oiro e armas reais e lizes.
Pobres velhinhas da cĂ´r do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar…
Noites de insonia com as galés no mar e a alma nas galés.
Archeiros amordaçados na noite em que o cĂ´che era de volta ao palacio pela tapada d’El-rei. Grande caçada na floresta–galgos brancos e Amazonas negras. Cavalleiros vermĂŞlhos e trombĂŞtas de oiro no cimo dos outeiros em busca de dois que faltam.
Uma gondola, ao largo, e um pagem nas areias de lanterna erguida dizendo pela briza o aviso da noite.
O sapato d’Ella desatou-se nas areias, e fĂ´ram calça-lo nas furnas onde ninguem vĂŞ. Nas areias ficaram as pègadas de um par que se beija.
Noticias da guerra – choros lá dentro, e crĂ©pes no brazĂŁo. Ardem cirios, serpentinas. Ha mĂŁos postas entre as flĂ´res.
E a torre morĂŞna canta, molenga, dĂ´ze vezes a mesma dĂ´r.