Como Realiza o Corpo este ExercĂcio da Queda
Como realiza o corpo este exercĂcio
da queda no sĂșbito conhecimento
do espanto, quando os olhos estĂŁo vencidos,
cerrados pela transparĂȘncia e pela luz
ofuscante da alva? Ă medida que o corpo
seca e se aplacam os seus, outrora, amĂĄveis
dons, se ensombram os ossos, mĂseras as mĂŁos
emagrecidas e se desnuda a carne
no fundo fĂŽlego das ĂĄguas, aumenta
o assombro da claridade. SĂł a vida
gerou o tempo, eis que ausente, ao resplendor
inesperado da luz descida. Onde vai
o humilde corpo, se corpo resta ou se outro,
receber a miraculosa mudança
de nada existir a nĂŁo ser o profundo
bando do grito terrĂvel de todos
os mortos? Ah, que estupor sela os mĂșsculos,
enrijece as unhas e aspira a voz,
resfria o suor e nos conduz, inertes
e cegos, ao nĂșcleo da luz deslumbrante?
Ă mar de que futuro, rumor volĂșvel,
sopro claro, envolve-nos de compaixĂŁo!