Eternidade
A minha eternidade neste mundo
Sejam vinte anos sĂł, depois da morte!
O vento, eles passados, que, enfim, corte
A flor que no jardim plantei tĂŁo fundo.As minhas cartas leia-as quem quiser!
Torne-se pĂşblico o meu pensamento!
E a terra a que chamei — minha mulher —
A outros dê seu lábio sumarento!A outros abra as fontes do prazer
E teça o leito em pétalas e lume!
A outros dĂŞ seus frutos a comer
E em cada noite a outros dĂŞ perfume!O globo tem dois pĂłlos: Ontem e hoje.
Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho!
O resto Ă© baile que nĂŁo deixa trilho.
Rosto sem carne; fixidez que foge.Venham beijar-me a campa os que me beijam
Agora, frágeis, frĂvolos e humanos!
Os que me virem, morto, ainda me vejam
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!Nuvem subindo, anis que se evapora…
Assim um dia passe a minha vida!
Mas, antes, que uma lágrima sentida
Traga a certeza de que alguém me chora!Adro! Cabanas! Meu cantar do Norte!
(Negasse eu tudo acreditava em Deus!)
Não peço mais: — Depois da minha morte
Haja vinte anos que ainda sejam meus!