Medo de Casar
Resumo de todos os argumentos a favor e contra o meu casamento:
1. Incapacidade de suportar a vida sozinho, o que não implica incapacidade de viver, pelo contrário; até é improvável que eu saiba viver com alguém, mas sozinho não consigo aguentar o assalto da minha própria vida, as exigências da minha pessoa, os ataques do tempo e da idade, a vaga pressão do desejo de escrever, a insónia, a proximidade da loucura — não consigo aguentar isto só. É claro que junto «talvez» a tudo isto. A relação com F. vai dar à minha existência mais força para resistir.
2. Tudo me faz imediatamente pensar. Todas as piadas no jornal humorístico, o que me lembro de Flaubert e de Grillparzer, as camisas de noite nas camas dos meus pais, ali postas para a noite, o casamento de Max. Ontem a minha irmã disse: «Todas as pessoas casadas (as pessoas que conhecemos) são felizes. Não percebo», esta afirmação também me fez pensar, fiquei outra vez com medo.
3. Tenho de estar só muito tempo. O que consegui fazer foi apenas o resultado de estar só.
4. Odeio tudo o que não se relacione com a literatura, as conversas aborrecem-me (mesmo quando são sobre literatura), fazer visitas aborrece-me, as mágoas e as alegrias das pessoas da minha família aborrecem-me até ao fundo da alma. As conversas, a importância, a seriedade, a verdade de tudo o que penso.
5. O medo da relação, o passar para o outro. Então nunca mais fico só.
6. Antigamente a pessoa que sou na companhia das minhas irmãs era diferente da pessoa que sou na companhia de outras pessoas. Sem medo, poderoso, surpreendente, sensível como só sou quando escrevo. Se pela mediação da minha mulher eu pudesse ser assim em frente de toda a gente! Mas não seria então à custa do que escrevo? Isso não, isso não!
7. Só, eu talvez pudesse um dia desistir do meu emprego. Casado, isso nunca seria possível.