A Inteligência e o Sentido Moral
A inteligência é quase inútil para aqueles que só a possuem a ela. O intelectual puro é um ser incompleto, infeliz, pois é incapaz de atingir aquilo que compreende. A capacidade de apreender as relações das coisas só é fecunda quando associada a outras actividades, como o sentido moral, o sentido afectivo, a vontade, o raciocínio, a imaginação e uma certa força orgânica. Só é utilizável à custa de esforço.
Os detentores da ciência preparam-se longamente realizando um duro trabalho. Submetem-se a uma espécie de ascetismo. Sem o exercício da vontade, a inteligência mantém-se dispersa e estéril. Uma vez disciplinada, torna-se capaz de perseguir a verdade. Mas só a atinge plenamente se for ajudada pelo sentido moral. Os grandes cientistas têm sempre uma profunda honestidade intelectual. Seguem a realidade para onde quer que ela os conduza. Nunca procuram substituí-la pelos seus próprios desejos, nem ocultá-la quando se torna opressiva. O homem que quiser contemplar a verdade deve manter a calma dentro de si mesmo. O seu espírito deve ser como a água serena de um lago. As actividades afectivas, contudo, são indispensáveis ao progresso da inteligência. Mas devem reduzir-se a essa paixão que Pasteur chamava deus inteiror, o entusiasmo. O pensamento só cresce naqueles que são capazes de amor e de ódio. Exige, portanto, para além da ajuda das outras actividades da consciência, a do corpo. Mesmo quando escala os degraus mais elevados e se ilumina de intuição e de imaginação criativa, precisa de uma armadura tanto moral como orgânica.O desenvolvimento exclusivo das actividades afectivas, estéticas ou místicas produz homens inferiores, espíritos mesquinhos, estreitos, visionários. Observamos muitas vezes exemplos destes, embora hoje todos disponham de educação intelectual. Não é necessária uma grande cultura da inteligência para fecundar o sentido estético e o sentido místico e produzir artistas, poetas, religiosos, todos aqueles que contemplam desinteressadamente os diversos aspectos da beleza.
Acontece o mesmo com o sentido moral e o raciocínio. Mas estas actividades quase se bastam a si mesmas. Conferem àquele que as possui aptidão para a felicidade. Parecem fortalecer todas as outras actividades, mesmo as actividades orgânicas. Na educação, devemos ter essencialmente em conta o seu desenvolvimento, pois asseguram o equilíbrio do indivíduo. Constituem um elemento sólido do edifício social. Para os membros anónimos das grandes nações, o sentido moral é muito mais importante do que a inteligência.