Vontade de Mudança
Se achas que a situação da tua vida é insatisfatória ou até mesmo intolerável, só te rendendo primeiro conseguirás quebrar o padrão de resistência inconsciente que perpetua essa situação. Render-se é perfeitamente compatível com tomar providências, com iniciar uma mudança ou alcançar metas. Mas no estado de rendição há uma energia totalmente diferente, uma qualidade diferente que corre no que fizeres. Ao renderes-te, ligas-te novamente com a energia da fonte do Ser e, se o que fizeres estiver infuso do Ser, tornar-se-á numa celebração rejubilante da energia da vida, que te levará mais profundamente para dentro do Agora. Através da não-resistência, a qualidade da tua consciência e, por conseguinte, a qualidade de tudo o que fizeres ou criares, será incomensuravelmente realçada. Os resultados tomarão então conta de si próprios e reflectirão essa qualidade. Poderíamos chamar-lhe “acção rendida”. Não é o trabalho tal como o conhecemos desde há milhares de anos. À medida que mais seres humanos forem despertando, a palavra trabalho desaparecerá do nosso vocabulário, e talvez se crie uma palavra nova em sua substituição.
É a qualidade da tua consciência desse momento que é o factor determinante do tipo de futuro que vivenciarás, pelo que render-te é a coisa mais importante que podes fazer para provocar uma mudança positiva. Qualquer providência que tomares é questão secundária. Nenhuma providência verdadeiramente positiva poderá nascer de um estado de consciência de não rendição.
Num estado de rendição, tu vês nitidamente o que é preciso fazer e tomarás as providências necessárias, fazendo uma coisa de cada vez e concentrando-te numa coisa de cada vez. Aprende com a natureza: vê como tudo se realiza e como o milagre da vida se desdobra sem descontentamento ou infelicidade. Foi por isso que Jesus disse: “Olha para os lírios e vê como eles crescem; eles nunca labutam nem fiam”.
Se a tua situação global for insatisfatória ou desagradável, separa por decantação esse instante e rende-te ao que é. É essa a luz da lanterna que corta o nevoeiro. O teu estado de consciência deixa então de ser controlado por condições externas. Deixas de vir da reacção e da resistência.Depois olha para os pormenores específicos da situação. Pergunta-te, “Haverá alguma coisa que eu possa fazer para mudar esta situação, melhorá-la, ou retirar-me dela?” Se sim, toma as providências adequadas. Não te concentres nas 100 coisas que farás ou terás de fazer algures no futuro, mas concentra-te na única coisa que podes fazer agora. Não significa que não devas fazer qualquer planeamento. Pode muito bem acontecer que planear seja a única coisa que possas fazer agora. Mas assegura-te que não começas a passar “filmes mentais”, a projectar-te no futuro, e desse modo deixas passar o Agora. Quaisquer providências que tomes poderão não dar fruto imediatamente. Até isso acontecer – não resistas ao que é. Se não houver providências que possas tomar, e se também não puderes retirar-te da situação, então usa a situação para te levar mais profundamente à rendição, mais profundamente ao Agora, mais profundamente ao Ser. Quando entrares na dimensão imortal do presente, a mudança chega muitas vezes de forma inesperada, sem necessidade de grandes esforços da tua parte. A vida torna-se útil e cooperante. Se factores interiores, como por exemplo medo, remorso, ou inércia, te impediam de tomar as providências necessárias, eles ficarão desfeitos na luz da tua presença consciente.
Não confundas rendição com a atitude “Já não me posso aborrecer mais” ou “Simplesmente já não quero mais saber”. Se a observares atentamente, verás que tal atitude está eivada de negatividade na forma de um ressentimento encoberto e, portanto, não é rendição nenhuma, mas sim resistência disfarçada. Ao renderes-te, dirige a tua atenção para dentro, a fim de confirmares se existe qualquer vestígio de resistência que tenha ficado dentro de ti. Fica bem alerta quando o fizeres; de outro modo, uma bolsa de resistência poderá continuar a esconder-se em algum canto escuro na forma de um pensamento ou de uma emoção não reconhecida.